Morreu aos 79 anos o capitão que liderou o falhado “Golpe das Caldas”, em 1974.
Virgílio Luz Varela era natural da Ponta do Sol e comandou a unidade que avançou para Lisboa, dois meses antes do 25 de Abril de 1974. Acabou detido e, já na prisão, teve a noção de que a revolução dos Cravos estava prestes a eclodir.
Foi ele que, de pistola em punho, a 16 de março de 1974, prendeu o comandante do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha, de roupão, com isso permitindo a saída da única coluna militar do golpe, já que as outras recusaram sair dos quartéis.
A força militar foi barrada a três quilómetros da Portela, à entrada de Lisboa.
Após o golpe falhado, e por ter liderado a única unidade que saiu para Lisboa, Virgílio Varela foi detido. E foi quando estava na Casa de Reclusão da Trafaria que, ao cortar o cabelo, alguém lhe disse que em breve seria libertado pois o Movimento das Forças Armadas (MFA) havia de derrubar o governo de Marcello Caetano e o Estado Novo.
Virgílio Canísio Vieira da Luz Varela nasceu a 27-04-1938, na Ponta do Sol, na ilha da Madeira, e tinha os cursos de Transmissões, de Criptólogos e de Estado-Maior (Geral) e o Estágio de Segurança NATO. Cumpriu uma comissão em Angola, nos anos 60.
Condecorado com a Medalha D. Afonso Henriques e a de Mérito Militar, em 1981, desempenhou funções no Comando Geral da PSP e foi promovido a coronel em 1994.
Virgílio Varela morreu na terça-feira.
O funeral realiza-se hoje, pelas 10:30, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa. (Funchal Notícias) O
O Partido Trabalhista apresenta voto de Pesar na Assembleia Legislativa da Madeira pela morte deste ilustre Madeirense
PTP apresenta voto de pesar na ALM pela morte do capitão Virgílio Luz Varela
A representação parlamentar do Partido Trabalhista Português (PTP) apresentou na Assembleia Legislativa da Madeira um voto de pesar pelo falecimento do capitão Virgílio Luz Varela.
O PTP lembra que aquele madeirense liderou o falhado “Golpe das Caldas”, em 1974. “O golpe foi anterior à Revolução dos Cravos que, a 25 de Abril, derrubou o regime fascista do Estado Novo Português. É referenciado, por vários autores, como impulsionador que juntou o oficialato em torno do Movimento das Forças Armadas”, referem os trabalhistas na sua proposta parlamentar. (DN funchal)
Pouco passava da meia-noite do dia 16 de Março de 1974 quando três oficiais – Virgílio Varela, Silva Carvalho e Rocha Neves – do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha sobem as escadas do edifício do comando e tomam posição em frente à porta do gabinete do comandante, então ocupado pelo segundo-comandante da unidade.O comandante naquele momento estava no seu quarto. Os dois coronéis revezavam-se no gabinete do comando porque andavam desconfiados das movimentações dos seus subordinados.Naquele momento era grande a agitação no quartel. Após uma reunião na 4ª companhia que juntara oficiais ligado ao Movimento das Forças Armadas, distribuíam-se tarefas para reunir uma coluna que marchasse sobre Lisboa a fim de ocupar o aeroporto. O “25 de Abril” era para ter sido a 16 de Março, mas naquele momento ainda ninguém sabia que a tentativa de golpe de estado iria falhar.Os três oficiais têm como missão prender o comandante. É Virgílio Varela quem entra de pistola em punho, enquanto Silva Carvalho aguarda no corredor com um metralhadora e Rocha Neves guarda o corredor. O segundo-comandante enfrenta Virgílio Varela também com uma pistola na mão. Por momentos os dois homens olham-se até que o coronel diz: “Ó Varela, tenha calma, vamos lá conversar”.
A conversa é breve pois Silva Carvalho já entrara entretanto no quarto do comandante e trazia-o detido para o gabinete. O RI5 fora decapitado e o comando está agora nas mãos dos jovens oficiais que às 4h00 da manhã saem para Lisboa, julgando até que já vão atrasados para fazer uma revolução que só ocorreria 40 dias depois. Afinal estão sozinhos e não sabem.
O resto da história é conhecida. Às portas de Lisboa, vendo-se isolados, regressam às Caldas, são cercadas por tropas supostamente fiéis ao regime e rendem-se durante a tarde.
O então capitão Virgílio Varela é um dos 33 oficiais presos e enviado para a Trafaria, de onde seria libertado em 25 de Abril.
“Fui preso pelo Marcelo durante 40 dias e pelo Otelo 46 dias”, diria este militar à Gazeta das Caldas em 1993, aludindo à sua participação no 11 de Março, no qual pertenceu à facção derrotada.
Silva Carvalho, que partilhou o mesmo quarto no presídio da Trafaria, contou hoje ao PÚBLICO que Virgílio Varela encarou os dias de cárcere com uma grande calma pois, tal como os restantes camaradas, estava seguro que não iria ali ficar muito tempo.
Ainda assim, e quase em jeito de provocação ao regime, fez questão de se casar enquanto estava na prisão. A sua mulher Leonor Varela, foi a única familiar dos detidos do 16 de Março autorizada a entrar na Trafaria.
Em declarações à Gazeta das Caldas, Virgílio Varela dizia em 1993: “quando ia detido a caminho de Lisboa sentia-me triste por ter falhado, mas sentia-me satisfeito por estar convencido que o esticão no cabelo seria suficiente para o partir e que o meu tempo de prisão seria curto porque o que eu tinha feito era mais do que suficiente para pôr o regime a cair".
"Aliás, mais tarde, na Trafaria, fui o único que não respondi à nota de culpa que me entregaram”, recordava.
Silva Carvalho corrobora a “tranquilidade” vivida na prisão. “Durante aqueles dias, o facto de estarmos juntos deu-nos muita força. E aproveitamos para analisar o que correra mal durante a operação do 16 de Março”, conta Silva Carvalho, hoje coronel na reforma.
“O Virgílio era acima de tudo um excelente amigo. Nós tratávamo-nos por irmãos, tal era o nosso grau de amizade. Foi na minha casa no Avenal [Caldas da Rainha] que fizemos os primeiros documentos clandestinos do que viria a ser o Movimento das Forças Armadas e entre 1973 e 1974 fizemos muitos quilómetros juntos, em actividades conspirativas, a visitar unidades militares, em Santarém, Mafra, Tomar, Abrantes, Pombal. Do ponto de vista militar, era um homem austero, capaz de berrar com os subordinados, mas os soldados adoravam-no porque no fim de contas ele ameaçava mas não os castigava”, recorda.(público)
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