domingo, 31 de janeiro de 2021

O fascismo ressurge em força na Hungria

 Trabalhadores tratados como escravos ao abrigo das novas leis da Hungria

 


A pandemia acabou por ser a ocasião perfeita para Orbán mudar os direitos de milhões de trabalhadores para pior. 

 Nenhuma das grandes empresas que operam ou tencionam fazê-lo na Hungria — Volkswagen, Daimler, Bosch, Opel-General Motors e também as representadas pela Câmara de Comércio dos EUA — disse o que quer que fosse sobre o assunto. 

 Todas se limitaram a aceitar as novas condições de extrema precariedade e chantagem dos seus funcionários. No entanto, é impossível compreender o modelo iliberal húngaro sem a exploração e as restrições impostas aos trabalhadores, que tornam a sua economia única na Europa. 

 Nos últimos meses de Março e Abril, o Governo decretou a suspensão do Código do Trabalho e cancelou as convenções colectivas em vigor, justificando estas decisões com a necessidade de conter a pandemia. 

O novo contrato

 Neste momento, cada trabalhador está vinculado à empresa com um contrato individual, que já não é negociável pelos representantes sindicais. No final de Maio, devido aos poderes especiais que assumiu com o confinamento, Orbán introduziu por decreto uma das medidas mais rigorosas e controversas.  Funciona do seguinte modo:

 todas as entidades patronais têm agora o poder de estabelecer unilateralmente um “plano temporal” de 24 meses para cada funcionário; a empresa pode indicar quantas horas o funcionário terá de trabalhar durante os dois anos seguintes. 

 Se a produção abrandar durante um período de tempo devido à covid-19, o trabalhador compensará as horas que perdeu assim que o ritmo de produção voltar ao normal na fase seguinte. 

 Se o trabalhador decidir deixar a empresa antes de ter completado o “plano temporal”, terá então de pagar à empresa um montante equivalente ao salário que teria recebido até ao final do seu “plano temporal”. Por exemplo, um trabalhador que queira sair depois de ter completado apenas doze meses do seu programa, terá de pagar um ano de salário à entidade patronal. Trata-se de um pagamento invertido. Ou, mais precisamente, uma espécie de escravidão através de dívidas para os trabalhadores: estes têm de pagar para serem livres. (jornal Público)


Condenações em Espanha pelo crime de delito de opinião. Os tribunais fascistas espanhóis são iguais aos seus congéneres portugueses

 

Espanha: Supremo confirma prisão de nove meses do rapper Pablo Hasél

A Suprema Corte confirmou a sentença de nove meses de prisão do rapper Pablo Rivadulla Duró, Pablo Hasél, por suposto enaltecimento ao terrorismo e injúrias à monarquia e às forças de segurança através de mensagens "atentadas" nas redes sociais.

 A Suprema Corte negou os recursos contra sua condenação, considerando que "o exercício da liberdade de expressão e opinião tem algumas barreiras" e que o comportamento de Hasél vai "além" da "camaradagem nascida de laços ideológicos" ao conter uma "crítica, não por objetivos políticos, mas por meios violentos".

 A sentença, que tem o voto privado de dois dos cinco magistrados, considera que algumas expressões contra o rei e as forças policiais também não podem ser enquadradas dentro da liberdade de expressão: "É ódio e ataque à honra".

 Contra isso, em sua conta no Twitter, Hasél denunciou que: “É claro que, com este governo, continuamos com repressão constante. Eles não derrubaram os pontos do código penal com os quais violam a liberdade de expressão como as outras liberdades fundamentais. A "mudança" foi continuar sentenciando a prisão, enquanto chamam de democracia ”.Em suas declarações, o rapper também denunciou que seu advogado nem mesmo foi notificado de que a Suprema Corte se reuniria para decidir a sentença: “Descobri, novamente pela mídia, que eles assinaram minha sentença da Audiência Nazi-onal pela música Bourbon e por tweets que denunciavam abusos policiais ou em solidariedade a presos políticos ”.

Por outro lado, ele explica que a sentença consistirá em mais de nove meses, uma vez que “há uma multa alta que, por não pagá-la - o que eu não posso e mesmo que pudesse não faria - se transforma em mais sentença prisional. Foi provado no julgamento que o que digo são fatos objetivos, mas eles condenaram igual ”:

Por outro lado, sobre Hasél há uma primeira sentença de dois anos de prisão, também por exaltar o terrorismo e insultar a coroa por meio de suas canções, cuja execução o Tribunal Nacional suspendeu em 2019. Agora, esse tribunal deve decidir se o rapper vai para a prisão.

“Resta ver se eles somarão aos meus antecedentes meus 2 anos por fazer músicas e solicitar a prisão imediata. A outra condenação é de anos atrás e talvez não possam mais adicioná-la, é isso que meu advogado está vendo. Mais uma vez, é mostrado que não há liberdade de expressão aqui.

O crime de "enaltecimento do terrorismo" é usado à critério das instituições do Estado para a perseguição judicial e policial de idéias dissidentes da esquerda entre os trabalhadores, as mulheres e os jovens. Assim, busca censurar jornalistas, twitteiros, artistas e qualquer pessoa que não concorde com esse regime e com a manutenção do sistema.

“Não me arrependo absolutamente do que fui condenado. Eu fiz, faço e farei novamente. Como a música diz: esses canalhas não mantêm minha boca fechada. ”

Em abril de 2018, dezenas de artistas e rappers lançaram um rap pela liberdade de expressão e em solidariedade a rappers retaliados, como Hásel, Valtyonyc e La Insurgencia, intitulado “Los Bourbones son unos ladrones”, o rap contra a repressão se tornou viral e ainda hoje é ouvido e difundido. (ver fonte)


Natural de Lérida, na Catalunha, Pablo Rivadulla Duró, mais conhecido por Pablo Hasel, é comunista e conhecido pela sua militância e pelas suas canções frontais e controversas. É caso de uma das suas músicas que denuncia processos judiciais em curso que envolvem a Casa Real e o rei emérito e que, a par de 64 publicações na sua conta do Twitter, deram azo à sua condenação.

Em 2014, Hasel já tinha sido condenado a dois anos de prisão por «enaltecimento do terrorismo», mas o tribunal decidiu, em Setembro de 2019, a suspensão da pena por três anos.

Outros processos judiciais seguiram-se e, em 2018, o rapper catalão voltou a ser julgado pelo mesmo delito e por injúria à monarquia e às forças de segurança do Estado. Em consequência, acabou por ser condenado a uma pena de nove meses de prisão, decisão ratificada por um tribunal superior dividido.

De facto, uma das juízes, Manuela Fernández de Prado, votou contra a decisão, por entender que o rapper exercia o seu direito à liberdade de expressão.

A defesa de Pablo Hasel tem requerido a suspensão da execução desta pena e também promoveu um recurso de amparo no Tribunal Constitucional, que foi recusado no passado mês de Novembro.

O cantor publicou na sua conta Twitter, poucas horas depois de a conhecer, a decisão judicial da sua prisão, referindo que não se apresentará «de forma voluntária» para a sua detenção.

Para Hasel não se trata de um ataque contra si, mas sim «contra a liberdade de expressão», como escreve num comunicado. E explica também que a decisão não referia qual a prisão para a qual irá, e que não sabe quanto tempo estará preso, tendo em conta que ainda estão processos pendentes referentes a «lutas» que tem travado.

O assédio, que dura há vários anos, não se deve, segundo o cantor, apenas à suas «canções revolucionárias, mas também à sua militância para além da música e da escrita» e alerta para ideia de que a maioria das pessoas tem por garantidas as liberdades democráticas.

Em consequência, foram já marcadas, em pelo menos 11 cidades espanholas, acções de solidariedade com o rapper, exingindo que seja amnistiado e que as liberdades democráticas sejam defendidas. 

(Abril, Abril) 

A canção do raper que enfurece a justiça fascista espanhola


Mais um rapper é condenado. Na Venezuela? Não, na “democrática” Espanha

É o segundo rapper condenado à prisão em um mês pela Justiça espanhola. O jornal El Pais, contumaz defensor da democracia na Venezuela, se cala


Perseguição a músicos expõe falta de liberdade de expressão na EspanhaPrimeiro Cesar Strawberry, do grupo Def Con Dos, foi condenado por apologia ao terrorismo dentro da chamada Operação Aranha por tuitar.

Morreu um herói da luta contra o ditador Salazar. Amândio Silva e o sequestro do avião "Super Constellation", da TAP em 1961

 

Morreu Amândio Silva, um dos sequestradores do avião da TAP que lançou panfletos contra Salazar nos céus de Lisboa

Revolucionário português participou no desvio de aeronave para ação que irritou o antigo regime.
 Amândio Silva, um dos operacionais da "Operação Vagô", idealizada por Henrique Galvão, morreu este domingo, na Parede, em Cascais, aos 82 anos, soube o CM junto de fonte próxima da família.

 O antigo revolucionário foi um dos que embarcou, em novembro de 1961, na aventura pensada por Galvão e chefiada por Hermínio da Palma Inácio, que consistiu no sequestro de um avião "Super Constellation", da TAP, em rota entre Casablanca, em Marrocos, e a capital portuguesa.Desviada, a aeronave foi usada para espalhar milhares de panfletos contra o regime de António de Oliveira Salazar antes de regressar a território marroquino. Esta terá sido a primeira ação de desvio de um avião com fins políticos e nela participaram ainda Camilo Mortágua, Helena Vidal, Francisco Vasconcelos e João Martins.

 Lutador convicto contra Salazar, a espetacular ação do "Super Constellation" não foi a única de Amândio Silva contra o ditador. Ele foi um dos participantes na chamada "Revolta da Sé", uma conspiração protagonizada por civis e militares, em março de 1959. A rebelião, impulsionada sobretudo por católicos (decorreu na Sé Patriarcal de Lisboa), junto à então cadeia do Aljube, acabaria por ser neutralizada pela PIDE, a polícia política do regime. (ver CM)

POEMA:

′′ A melhor geração está morrendo.
Aquela que sem estudos, educou seus filhos.
Aquela que apesar da falta de tudo, lhe ensinou o maior valor: a dignidade.
Os que mais sofreram estão morrendo.
Aqueles que trabalharam como feras,
Aqueles que se contentavam com nada.
Morrem aqueles que passaram por tanta dificuldade.
Aqueles que depois de uma vida de sacrifícios e de esticos só desejavam envelhecer digno.
Eles estão morrendo sozinhos e assustados.
Eles vão embora sem incomodar.
Eles vão embora sem um adeus. ′′
Pensieri Notturni

A menina das historietas volta à sua crónica de contadora de histórias para entreter parolos que ainda gastam dinheiro a comprar o Diário de Notícias do Funchal

 


A menina das historietas voltou de novo!

 Cada vez perde mais qualidade informativa o matutino dos grupos Sousa/Blandy/Avelino. São trechos e mais trechos apenas para encher o papel, sem qualquer conteúdo informativo. 

 A menina das historietas voltou a escrever de novo, aquelas tontices do costume, que não interessam nem ao menino Jesus. 

 "O padre" lá veio com o seu editorial do costume . Aquelas enfadonhas homilias muito palavrosas que não nos dizem nada. Ah! mal empregadas esmolinhas das nossas piedosas velhinhas que levaram este padreco a ir estudar comunicação social para Paris à custa dos dinheiros da Igreja madeirense.

 A menina das historietas é mais uma jornalista vendida ao regime, já teve entachada em assessora de imprensa de Miguel Albuquerque. Escreve, escreve... e não diz nada. Aquilo é só para encher o papel do jornal, campeão das sobras e da reciclagem.

Irineu Barreto estará de saída?

Fascistas do Órgão de Soberania que não vai a eleições e arroga-se no direito de julgar em nome do povo
Este filho da p*** a receber a comunhão do Senhor!


Leis Nazis-fascistas ainda em vigôr tanto em Portugal como na Alemanha

 Em Portugal temos o famigerado artigo VI do Código Penal  salazarista que persegue a opinião e a  liberdade de imprensa. Os juízes fascistas dos nossos tribunais usam-no com bastante diligência. Nenhum partido do sistema até hoje se interessou em  modificar essa lei. 


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Vera Fischer sempre bela apesar dos seus 70 anos

 

Em forma: Atriz Vera Fischer irá completar 70 anos e se diz um mulherão
A atriz Vera Fisher irá completar 70 anos em novembro deste ano e se considera um mulherão. A atriz é mãe de Rafaela, de 41 anos e Gabriel, de 28 anos, e afirma que gosta da forma como anda levando a vida. “Eu gosto de tudo, menos, evidentemente, a cara de velhinha que a gente vai ter (risos), mas se a gente for bem-humorada e estiver trabalhando, fazendo o que gosta e com saúde, então está tudo certo”, disse em entrevista recente. (fonte)

Aos 69 anos, Vera Fischer esbanja autoestima em ensaio exclusivo: 'Me acho um mulherão'

Atriz posa para as lentes de Fernando Torquatto e se diverte com cantada nas redes sociais: 'Recebo até pedido de casamento'  (fonte)

Vera Fischer ganhou o Concurso Miss Brasil no mesmo ano, com apenas 17 anos de idade


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

A juizada fascista não quer que o povo saiba como e porque faliu o BES . É segredo de Estado dizem os pardalões

 O povo português não pode saber

 É o ficheiro secreto mais sigiloso do Banco de Portugal. Há muito tempo que se ouve falar dele e há muito que deputados e arguidos do caso BES correm atrás dele: um famoso relatório guardado a sete chaves e que critica a forma como o supervisor bancário geriu a crise do Banco Espírito Santo (BES) nos meses que antecederam a sua resolução, em 2014. Carlos Costa sempre se recusou a mostrá-lo. Mário Centeno chegou a governador e até admitiu divulgá-lo, mas só se um tribunal concordasse. As expectativas eram grandes, mas agora o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu que deve permanecer como está, em sigilo absoluto, e que não há razões para levantar o segredo de supervisão. Apesar de até alguns governantes, como António Costa e Mariana Vieira da Silva, já terem defendido o interesse público deste relatório, as juízas Fátima Reis Silva, Vera Antunes e Amélia Sofia Rebelo concluíram que o documento em causa “não é imprescindível para a descoberta da verdade” (VISÃO)

Juízas dos tribunais superiores protegem os segredos dos corruptos



Viva à música!


 

Para o professor burguês Jónatas Machado um juiz é quase um Deus com poderes ilimitados e omnipotentes

 


Lá diz ele: «A quebra do sigilo profissional carece de autorização judicial.  ...Apenas um juiz deve ordenar ao jornalista que revele as suas fontes de informação e só deve fazer isso em casos excecionais.»
O pardalão e de opinião que o jornalista deve ser obrigado a revelar as suas fontes perante a ordem de um Juiz que para ele é um super Homem

Para a história ficam:
Dois estadistas corruptos e amigos de corruptos e ladrões

Os dois Marcelos


Marcelo Caetano e Silva Pais o director da PIDE de sinistra memória




O livro crepúsculo da democracia

A politóloga  ANNE APPLEBAUM:

 Mãe de dois rapazes, vive na Polónia, e recusa ser pessimista quanto ao futuro da democracia



... mas e quem são os tipos que andam a vender o Trump aos eleitores? Esse é um grupo muito importante de pessoas e não se escreve sobre elas. Mas estão em todos os países. Se olhares para eles como uma classe, eles não são a classe trabalhadora vítima da globalização. Têm uma boa educação, muitas vezes são extremamente brilhantes, viajados, falam várias línguas, e são das pessoas mais sofisticadas nas suas sociedades. Eles desafiam muitos dos estereótipos estúpidos que as pessoas criaram para explicar o Trump. 

“Estamos num momento perigoso. O caminho tanto pode ser o democrático como o dos loucos como presidentes”

Recordando o massacre de Wiriamu em 16 de Dezembro de 1972 em Moçambique

 

 A Operação Marosca – nome de código da incursão militar de represália ou vingança pelas emboscadas lançadas pelos independentistas, semanas antes, contra grupos de soldados portugueses, dando assim a entender que a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) conseguira infiltrar-se entre a população civil nativa, com o objectivo, entre outros, de boicotar a construção da barragem de Cabora Bassa (segundo a PIDE, a Frelimo teria conseguido instalar na região uma base com cerca de 300 guerrilheiros) – envolveu vários grupos dos Comandos, elementos da PIDE/DGS, o Batalhão de Caçadores 17 e a Força Aérea Portuguesa. 
 Por volta do meio-dia daquele sábado, 16 de Dezembro de 1972, quatro caças-bombardeiros Fiat G-91 largaram várias bombas na região onde ficavam as povoações de Wiriamu, Juwau e Chawola, a cerca de 30 km da cidade de Tete, próxima do rio Zambeze e a 120 quilómetros da barragem de Cabora Bassa. Enquanto isso, cinco helicópteros desembarcavam quatro grupos da 6ª Companhia de Comandos, Grupos Especiais de Pára-quedistas, mercenários (alguns dos quais, provavelmente, rodesianos) e agentes da PIDE/DGS, os quais
cercaram as aldeias e desataram a metralhar os aldeões, incluindo mulheres e crianças, que fugiam em direcção ao mato, para se protegerem dos bombardeamentos. Em todas elas o procedimento foi idêntico: primeiro, os militares juntaram todas as pessoas no centro das aldeias, incluindo as que se tinham escondido dentro das palhotas. Depois, os agentes da PIDE/DGS, protegidos pelos comandos, realizaram os interrogatórios, procurando identificar elementos da Frelimo ou quem, entre o grupo de camponeses (constituído maioritariamente por mulheres, crianças e idosos, todos eles desarmados), os apoiasse. Apesar de não terem conseguido obter absolutamente nada que confirmasse as suas suspeitas em nenhuma daquelas povoações, os “PIDES” insistiram dizendo que estavam todos a proteger os “turras” (guerrilheiros dos movimentos independentistas) e que, inclusivamente, lhes forneceriam comida. Como os camponeses continuassem a negar qualquer relação com os “turras”, ouviu-se finalmente, entre os militares portugueses, o grito “Matem-nos a todos!”, seguido de “Não deixem ninguém vivo. Estas são as nossas ordens”. 
 No dia anterior, as ordens das chefias tinham sido de uma clareza meridiana: “Derrubar tudo o que estiver em pé” e “liquidar tudo o que se mova”. Acto contínuo, atiçaram fogo às palhotas, aos redis dos animais e a tudo quanto se lhes deparasse. Violaram mulheres, mataram à coronhada, fizeram tiro ao alvo, fuzilaram, assassinaram recém-nascidos segurando-os pelas pernas, de cabeça para baixo, e, como coelhos, arremessaram com a cabeça deles contra o chão, contra um muro ou contra os troncos das árvores, jogaram futebol com cabeças decapitadas, um soldado colocou a sua arma na boca de uma criança, como se fosse uma chupeta, rebentando-lhe a boca e a nuca à queima- -roupa. Como se pode ler no relatório dos padres da missão de S. Pedro sobre os massacres de Tete, elaborado nos dias 18 e 19 de Dezembro de 1972:
ANTÓNIO XIMONE E O SEU IRMÃO DOMINGO CONSEGUIRAM FUGIR DE UMA PIRA FUNERÁRIA COM CORPOS A ARDER


«Chinteya, uma rapariga de 4 anos, assustada, chora. Um soldado, simulando compaixão, aproxima-se e, acariciando a criança, pergunta-lhe se está com fome. Sem, porém, esperar a resposta, continua: “Toma o biberão.” E metendo à força o cano duma arma de fogo pela boca da criança, diz: “Chupa!” E dispara. A criança cai com um rombo na nuca. Não foi Chinteya a única vítima tratada assim; várias outras tiveram a mesma sorte. Num dos relatórios lia-se: “A uma mulher, chamada Zostina, um soldado perguntou qual era o sexo da criança
que trazia nas entranhas.
Como respondesse que não sabia, abriram-lhe o ventre com um machete e, extraído violentamente o feto, mostraram-lho para que o ‘soubesse’. Logo a seguir foram ambos queimados.” Noutra passagem do mesmo documento denuncia-se o soldado que, vendo uma criança sentada no chão, chorando a morte da mãe, acabada de ser fuzilada, lhe desferiu um forte pontapé na cabeça, aos gritos de “Cala-te, cão!”. O choro da criança deixou imediatamente de se ouvir: estava morta, prostrada no chão, com o cérebro esfacelado. No meio da confusão e da fumarada, alguns indivíduos, que estavam apenas feridos, conseguiram escapar, como António Ximone, um rapaz de 15 anos, e o seu irmão Domingo, de 4 anos, que conseguiram fugir de uma dessas piras funerárias com corpos a arder (António foi um dos sobreviventes que, meses mais tarde, relatou ao London Times os factos deste hediondo crime de guerra)».

 Exaustos da carnificina, os soldados acamparam nas proximidades das povoações que tinham acabado de varrer do mapa de Moçambique, ali ficando durante três dias, para dar caça aos sobreviventes que tivessem fugido e, os eliminar. Alguns desses sobreviventes, porém, protegeram-se na missão de São Pedro, dirigida por dois padres espanhóis da Ordem de Burgos, que ouviram os primeiros relatos e produziram dois relatórios sobre os massacres (a esses, felizmente, os assassinos não conseguiram deitar a mão). 
 Perante isso, os missionários procederam a averiguações, ouviram os sobreviventes (alguns dos quais abrigados no hospital de Tete) e recolheram os testemunhos daqueles que tinham presenciado os acontecimentos à distância. Com base nessas informações, elaboraram dois relatórios, um dos quais fizeram sair de Moçambique: a 20 de Fevereiro de 1973, aproveitando o facto de as autoridades portuguesas terem expulsado de Moçambique dois padres de Burgos – Júlio Moure e Miguel Buendía, por terem denunciado as atrocidades de vários militares –, foi possível entregar a este último, pouco antes de entrar no avião, uma cópia do segundo relatório (elaborado por Domingo Kansande, Domingo Ferrão e José Sangalo), referente aos massacres de Wiriamu e Juwau, que o transportou para Madrid e o entregou à Ordem de Burgos.

 A acção de Adrian Hastings

 Adrian Hastings foi o padre inglês católico, pertencente à congregação dos Padres Brancos (além de historiador e estudioso do cristianismo, membro da Congregação dos Missionários de África com uma longa experiência de trabalho em África, ali tendo permanecido durante mais de 12 anos), que chamou a atenção da comunidade internacional para o Massacre de Wiriamu. 
 Em Abril de 1973, o padre Hastings foi à Rodésia para participar num ciclo de conferências sobre temas religiosos. Nessa ocasião, ouviu da boca de alguns missionários espanhóis do Instituto de São Francisco Xavier de Burgos (conhecidos apenas como Padres de Burgos) o relato das selvajarias cometidas por um grupo de militares portugueses no distrito de Tete. Mostrando-se interessado em saber mais, sugeriram-lhe que contactasse a sede da ordem em Espanha. Como daí a meses, na semana de 18 de Junho, iria realizar uma palestra em Salamanca, sobre o novo pensamento da Igreja para as questões ecuménicas, Hastings aproveitou para se deslocar a Madrid. Já em Espanha, teve acesso a um desses relatórios sobre os massacres de civis perpetrados pelo exército português na região central de Moçambique (Tete). 
 Ajudado por tradutores espanhóis, consultou a documentação que o murciano Miguel Buendía conseguira introduzir em Espanha, juntamente com um pequeno filme que mostrava restos de cubatas incineradas. Depois de analisar cuidadosamente os relatórios que documentavam, de forma fidedigna, os massacres em três aldeias moçambicanas do distrito de Tete (com destaque para Wiriamu, pois fora inteiramente arrasada e quase todos os habitantes assassinados, muitos deles de forma sádica e cruel), e apercebendo-se da dimensão e da gravidade do que acabara de ter conhecimento, decidiu que era preciso denunciar aquela selvajaria, cometida com requintes de sadismo, pelo exército português, fazendo chegar à imprensa internacional aqueles papéis.
O PADRE ADRIAN HASTINGS TELEFONOU AO THE LONDON TIMES E CONTOU A HISTÓRIA DOS MASSACRES, DE QUE POSSUÍA PROVAS

Repercussão internacional 

Ao fim da tarde de 6 de Julho de 1973, uma sexta-feira, Adrian Hastings telefonava ao jornal The London Times e contava a história dos massacres, de que possuía provas, pois trouxera de Madrid uma cópia do documento dos padres de Burgos, passado em stencil. No dia seguinte, sábado, enviou tudo para o jornal. Na segunda-feira, já com os documentos de Hastings nas mãos, o responsável pelas decisões executivas no The Times, Louis Heren, telefonou-lhe e disse: “Temos de publicar o artigo amanhã. Os tipógrafos estão a ameaçar com greve e não sabemos quando estaremos em condições de voltar a imprimir.” Se tal acontecesse, a divulgação da história ficaria adiada e perderia impacto, pois Inglaterra preparava-se, em breve, para receber Marcello Caetano, o primeiro-ministro português, por ocasião das comemorações dos 600 anos da Aliança Luso-Britânica. 
 A 10 de Julho de 1973, o jornal The London Times, dando honras de primeira página à história – título com grande destaque: “Massacre português denunciado por padres” –, publicou o artigo assinado por Hastings, onde se denunciava o massacre de quase toda a população de Wiriamu (no total, segundo as informações de Hastings, teriam sido chacinados, pelas tropas portuguesas, entre 300 e 500 negros das populações civis do distrito de Tete), bem como um dos dois relatórios elaborados pelos padres que trabalhavam na missão de São Pedro. Hastings referia a existência de testemunhas do massacre, nomeadamente um missionário português da ordem italiana dos padres Combonianos, e mais dois outros missionários que garantiam que os corpos das vítimas tinham sido enterrados no mato, porém, tinham sido presos pelas autoridades portuguesas e estavam no cárcere de Lourenço Marques, sob a acusação de “atentado moral ao exército português”. Face à gravidade das acusações, mais a mais divulgadas num jornal com o prestígio e a influência do The Times, e estando programada, para daí a dias, a visita oficial (a convite do governo britânico) de Marcello Caetano a Londres (de 16 a 18 de Julho), as imprensas inglesa e internacional desenvolveram as suas próprias investigações e escalpelizaram a história dos massacres, enquadrando-os na guerra levada a cabo em Moçambique, e promoveram um debate alargado sobre os apoios estrangeiros de que Portugal beneficiava para a prossecução das suas campanhas militares em África, pondo em causa a reputação do regime português e a própria presença portuguesa no continente africano. O “Insight Team” do Sunday Times, por exemplo, realizou uma extensa cobertura do contexto do massacre e qualificou como “indesejada” a visita de Marcelo: “O debate sobre a visita de Caetano fora muito útil pois apresentara à opinião pública inglesa o carácter da guerra que Portugal sustenta em África.” 
 O mesmo aconteceu no Observer, jornal que também veio corroborar os relatórios apresentados por Hastings; o The Guardian publicou na íntegra o relatório secreto, elaborado por militares portugueses para consumo interno, que confirmava os massacres de Wiriamu, defendeu a expulsão de Portugal da NATO (juntamente com a Grécia do regime dos coronéis), e publicou um editorial intitulado “Portugal: Amigo ou Inimigo?”, onde dizia que “é errado conferirem-se honras ao Presidente do Conselho Português. 
 Ao povo português, sim: 600 anos de cordialidade, menos inconsistente da que gozámos por exemplo com os franceses ou com os alemães, merecem mais do que uma observação passageira. Porém, o Dr. Caetano não pode ser apresentado como representante do povo português e chefia um Governo que em muitos aspectos é mais hostil do que afável para com os interesses britânicos”. Para se ter uma ideia da repercussão internacional deste caso, só o The Times publicou, ao longo de seis meses, entre Julho e Dezembro de 1973, mais de 200 artigos atacando a posição portuguesa, repudiando a campanha de contra-informação desencadeada pelas autoridades lusas e mantendo-se firme na defesa das fontes em que se tinha baseado, que consideravam consistentes e fidedignas, e dos procedimentos de verificação dos factos.
  Em contrapartida, o jornal conservador Daily Telegraph defendeu que os inquéritos efectuados não tinham provado nada e lançou “fortes dúvidas sobre a história”.


Reacção portuguesa 

 Em Lisboa, imediatamente a seguir ao artigo do The Times, o governo português publicou uma nota oficiosa indignada em que desmentia e repudiava a notícia, considerando-a uma “campanha insidiosa de difamação”, uma conspiração internacional inventada pelos inimigos de Portugal, que segundo Marcelo Caetano visava “abalar o moral das tropas” e “pôr em causa a defesa do Ultramar português”.  
 O regime português desmentiu pois os massacres, contestou a veracidade dos factos e dos testemunhos, classificou-os de tendenciosos, e alegou mesmo a inexistência de uma aldeia com o nome de Wiriamu: tudo não passava de uma “ficção” congeminada por meia dúzia de padres progressistas apostados em atacar as posições portuguesas. 
 Em desespero, as autoridades portuguesas lançaram ainda uma campanha para denegrir o Padre Hastings, considerado um “inimigo declarado de Portugal”, e a idoneidade dos jornais que tinham divulgado a notícia dos massacres. 
 O diário Época, por exemplo, referiu-se a Hastings como um “paranóico com a mania do escândalo”, um “espantalho louco e um mentiroso agitador”, e segundo a revista Observador estava em curso uma “campanha desenvolvida pela imprensa inglesa, francesa e italiana”, o convento dos padres de Burgos era uma “célula socialista da igreja espanhola”, Hastings um “militante progressista”. 
 Na Câmara dos Comuns, Harold Wilson, o líder do Partido Trabalhista, e o ministro dos Negócios Estrangeiros Sir Alec Douglas-Home, discutiram acaloradamente a oportunidade da visita de Marcello Caetano e o mal-estar que estava a causar em Inglaterra. Enquanto o governo de Londres defendia o regime português (tal como, de resto, o governo norte- -americano), os trabalhistas e os liberais, em minoria no Parlamento britânico, exigiram que a visita fosse cancelada, pediram a realização de um debate plenário sobre as alegações do massacre e Harold Wilson declarou mesmo que, caso ganhasse as próximas eleições, uma das suas primeiras medidas seria propor a expulsão de Portugal da NATO. 
 Um dos momentos mais importantes da campanha anticolonial do Partido Trabalhista deu-se a 15 de Julho (um domingo, na véspera da chegada a Londres do primeiro-ministro do Estado Novo), quando se realizou, na capital inglesa, uma manifestação contra a visita oficial de Marcelo Caetano e contra o regime ditatorial português, que começou em Belgrave Square (onde ficava a embaixada de Portugal) e terminou em Hyde Park. Além de Lord Gifford, o inspirador da campanha “End the Alliance”, participaram na manifestação – provavelmente a maior manifestação antiportuguesa da moderna história da Grã-Bretanha” —, vários exilados e activistas portugueses residentes em cidades como Paris, Bruxelas, Amesterdão ou Estocolmo. 
 Apesar da chuva, o protesto reuniu mais de cinco mil pessoas frente à embaixada de Portugal: entre Belgrave Square e o Hyde Park, a multidão foi gritando palavras de ordem contra a ditadura portuguesa e empunhando cartazes com insultos- carniceiro, assassino, etc-contra Marcello Caetano. 
 Entre os portugueses que marcaram presença, destacava-se a figura de Mário Soares, o primeiro secretário- -geral do recém-criado (e ilegal) Partido Socialista (em Abril de 1973), que vivendo então exilado em Paris se deslocou a Londres para participar na manifestação.   Soares não só foi oficialmente recebido e acolhido por Harold Wilson, o já referido dirigente dos trabalhistas ingleses — entrevistado na sede do Partido Trabalhista, Soares disse aos jornalistas que, “como português, se sentia envergonhado com a notícia do massacre”, mas atribuiu a responsabilidade pelo mesmo, exclusivamente, ao Governo português, e não aos portugueses –, como se sentou ao lado de Adrian Hastings na conferência de imprensa de 11 de Julho de 1973, em Londres, convocada pelo padre britânico para defender, de viva voz, o relatório dos massacres de Wiriamu. 
 Num ambiente destes, e prevendo a ocorrência de desacatos, a chegada do primeiro-ministro português foi rodeada de um apertado dispositivo policial da Scotland Yard e Marcello Caetano foi abordado por uma multidão de jornalistas. 
 Os jornais britânicos, incluindo alguns tablóides, encheram-se de comentários negativos a respeito de Portugal, que persistia na ilusão de que podia manter o seu império colonial, ofuscando e estragando, assim, todos os actos da visita de Marcello Caetano.
SOARES SENTOU-SE AO LADO DE ADRIAN HASTINGS PARA DEFENDER O RELATÓRIO DOS MASSACRES DE WIRIAMU
O The London Times publicou a notícia do massacre a 10 de julho de 1973

(Revista SÁBADO)