Trabalhadores tratados como escravos
ao abrigo das novas leis da Hungria
A pandemia acabou por ser a
ocasião perfeita para Orbán mudar
os direitos de milhões de
trabalhadores para pior.
Nenhuma
das grandes empresas que operam
ou tencionam fazê-lo na Hungria —
Volkswagen, Daimler, Bosch,
Opel-General Motors e também as
representadas pela Câmara de
Comércio dos EUA — disse o que
quer que fosse sobre o assunto.
Todas se limitaram a aceitar as
novas condições de extrema
precariedade e chantagem dos seus
funcionários.
No entanto, é impossível
compreender o modelo iliberal húngaro sem a exploração e as
restrições impostas aos
trabalhadores, que tornam a sua
economia única na Europa.
Nos
últimos meses de Março e Abril, o
Governo decretou a suspensão do
Código do Trabalho e cancelou as
convenções colectivas em vigor,
justificando estas decisões com a
necessidade de conter a pandemia.
O novo contrato
Neste momento, cada trabalhador
está vinculado à empresa com um
contrato individual, que já não é
negociável pelos representantes
sindicais. No final de Maio, devido
aos poderes especiais que assumiu
com o confinamento, Orbán
introduziu por decreto uma das
medidas mais rigorosas e
controversas. Funciona do seguinte modo:
todas as entidades patronais têm
agora o poder de estabelecer
unilateralmente um “plano
temporal” de 24 meses para cada
funcionário; a empresa pode
indicar quantas horas o funcionário
terá de trabalhar durante os dois
anos seguintes.
Se a produção
abrandar durante um período de
tempo devido à covid-19, o
trabalhador compensará as horas
que perdeu assim que o ritmo de
produção voltar ao normal na fase
seguinte.
Se o trabalhador decidir deixar a
empresa antes de ter completado o
“plano temporal”, terá então de
pagar à empresa um montante
equivalente ao salário que teria
recebido até ao final do seu “plano
temporal”. Por exemplo, um
trabalhador que queira sair depois
de ter completado apenas doze
meses do seu programa, terá de
pagar um ano de salário à entidade
patronal. Trata-se de um
pagamento invertido. Ou, mais
precisamente, uma espécie de
escravidão através de dívidas para
os trabalhadores: estes têm de
pagar para serem livres. (jornal Público)
Espanha: Supremo confirma prisão de nove meses do rapper Pablo Hasél
A Suprema Corte confirmou a sentença de nove meses de prisão do rapper Pablo Rivadulla Duró, Pablo Hasél, por suposto enaltecimento ao terrorismo e injúrias à monarquia e às forças de segurança através de mensagens "atentadas" nas redes sociais.
A Suprema Corte negou os recursos contra sua condenação, considerando que "o exercício da liberdade de expressão e opinião tem algumas barreiras" e que o comportamento de Hasél vai "além" da "camaradagem nascida de laços ideológicos" ao conter uma "crítica, não por objetivos políticos, mas por meios violentos".
A sentença, que tem o voto privado de dois dos cinco magistrados, considera que algumas expressões contra o rei e as forças policiais também não podem ser enquadradas dentro da liberdade de expressão: "É ódio e ataque à honra".
Contra isso, em sua conta no Twitter, Hasél denunciou que: “É claro que, com este governo, continuamos com repressão constante. Eles não derrubaram os pontos do código penal com os quais violam a liberdade de expressão como as outras liberdades fundamentais. A "mudança" foi continuar sentenciando a prisão, enquanto chamam de democracia ”.Em suas declarações, o rapper também denunciou que seu advogado nem mesmo foi notificado de que a Suprema Corte se reuniria para decidir a sentença: “Descobri, novamente pela mídia, que eles assinaram minha sentença da Audiência Nazi-onal pela música Bourbon e por tweets que denunciavam abusos policiais ou em solidariedade a presos políticos ”.
Por outro lado, ele explica que a sentença consistirá em mais de nove meses, uma vez que “há uma multa alta que, por não pagá-la - o que eu não posso e mesmo que pudesse não faria - se transforma em mais sentença prisional. Foi provado no julgamento que o que digo são fatos objetivos, mas eles condenaram igual ”:
Por outro lado, sobre Hasél há uma primeira sentença de dois anos de prisão, também por exaltar o terrorismo e insultar a coroa por meio de suas canções, cuja execução o Tribunal Nacional suspendeu em 2019. Agora, esse tribunal deve decidir se o rapper vai para a prisão.
“Resta ver se eles somarão aos meus antecedentes meus 2 anos por fazer músicas e solicitar a prisão imediata. A outra condenação é de anos atrás e talvez não possam mais adicioná-la, é isso que meu advogado está vendo. Mais uma vez, é mostrado que não há liberdade de expressão aqui.
O crime de "enaltecimento do terrorismo" é usado à critério das instituições do Estado para a perseguição judicial e policial de idéias dissidentes da esquerda entre os trabalhadores, as mulheres e os jovens. Assim, busca censurar jornalistas, twitteiros, artistas e qualquer pessoa que não concorde com esse regime e com a manutenção do sistema.
“Não me arrependo absolutamente do que fui condenado. Eu fiz, faço e farei novamente. Como a música diz: esses canalhas não mantêm minha boca fechada. ”
Em abril de 2018, dezenas de artistas e rappers lançaram um rap pela liberdade de expressão e em solidariedade a rappers retaliados, como Hásel, Valtyonyc e La Insurgencia, intitulado “Los Bourbones son unos ladrones”, o rap contra a repressão se tornou viral e ainda hoje é ouvido e difundido. (ver fonte)
Natural de Lérida, na Catalunha, Pablo Rivadulla Duró, mais conhecido por Pablo Hasel, é comunista e conhecido pela sua militância e pelas suas canções frontais e controversas. É caso de uma das suas músicas que denuncia processos judiciais em curso que envolvem a Casa Real e o rei emérito e que, a par de 64 publicações na sua conta do Twitter, deram azo à sua condenação.
Em 2014, Hasel já tinha sido condenado a dois anos de prisão por «enaltecimento do terrorismo», mas o tribunal decidiu, em Setembro de 2019, a suspensão da pena por três anos.
Outros processos judiciais seguiram-se e, em 2018, o rapper catalão voltou a ser julgado pelo mesmo delito e por injúria à monarquia e às forças de segurança do Estado. Em consequência, acabou por ser condenado a uma pena de nove meses de prisão, decisão ratificada por um tribunal superior dividido.
De facto, uma das juízes, Manuela Fernández de Prado, votou contra a decisão, por entender que o rapper exercia o seu direito à liberdade de expressão.
A defesa de Pablo Hasel tem requerido a suspensão da execução desta pena e também promoveu um recurso de amparo no Tribunal Constitucional, que foi recusado no passado mês de Novembro.
O cantor publicou na sua conta Twitter, poucas horas depois de a conhecer, a decisão judicial da sua prisão, referindo que não se apresentará «de forma voluntária» para a sua detenção.
Para Hasel não se trata de um ataque contra si, mas sim «contra a liberdade de expressão», como escreve num comunicado. E explica também que a decisão não referia qual a prisão para a qual irá, e que não sabe quanto tempo estará preso, tendo em conta que ainda estão processos pendentes referentes a «lutas» que tem travado.
O assédio, que dura há vários anos, não se deve, segundo o cantor, apenas à suas «canções revolucionárias, mas também à sua militância para além da música e da escrita» e alerta para ideia de que a maioria das pessoas tem por garantidas as liberdades democráticas.
Em consequência, foram já marcadas, em pelo menos 11 cidades espanholas, acções de solidariedade com o rapper, exingindo que seja amnistiado e que as liberdades democráticas sejam defendidas.
Perseguição a músicos expõe falta de liberdade de expressão na EspanhaPrimeiro Cesar Strawberry, do grupo Def Con Dos, foi condenado por apologia ao terrorismo dentro da chamada Operação Aranha por tuitar.
Em janeiro 2017 ele foi condenado a um ano de prisão por 6 tuítes entre 2013 e 2014 nos quais fazia piadas com os grupos armados GRAPO e ETA, além de ter feito comentários bem humorados sobre personalidades ligadas ao regime franquista que governou a Espanha com mão de ferro até 1975. Alguns dos tuítes considerados criminosos incluíam frases como “Franco, Serrano Suñer, Arias Navarro, Fraga, Blas Piñar… Se você não fizer a eles o mesmo [que fizeram] com Carrero Blanco, a longevidade estará sempre ao lado deles” ou “Quantos mais deveriam seguir o voo de Carrero Blanco”.
Pra Strawberry e muitos de seus apoiadores, ele apenas exercitou seu direito à liberdade de expressão — ainda mais considerando que fazia piadas contra conhecidas personalidades apoiadoras de uma ditadura sanguinária. O fato, no entanto, é que a Espanha não realizou uma transição efetiva para a democracia com responsabilização de lideranças políticas, civis e militares pelos crimes cometidos ou apoiados por eles. Não é uma surpresa que o PP, herdeiro do franquismo, siga sendo a principal força política do país e atualmente governe a Espanha sem, no entanto, reconhecer sua responsabilidade histórica.
O fato é que no país funciona, legalmente, a Fundação Francisco Franco, que busca manter viva a memória do ditador e os tribunais não veem qualquer problema na defesa e louvor de crimes do passado — desde que cometidos pelo Estado.
Depois vieram detenções e condenações de mais músicos, como o rapper Pablo Hasél, por apologia ao terrorismo e, pasme, ofender a monarquia. Sim, ofender uma máfia é crime na Espanha.
Em março de 2014 Hásel foi sentenciado a dois anos de prisão por divulgar nas redes sociais músicas em que ele defende o retorno dos grupos ETA e GRAPO? “Espero que os GRAPO retornem”, “Viva ETA” ou “O carro de Patxi López [ex-presidente basco] merece explodir”. Em março de 2017 a justiça pediu mais dois anos e nove meses de prisão e uma multa de mais de 40 mil euros. Caso não possa pagar a multa sua pena aumentaria para 5 anos de prisão por crimes como enaltecimento do terrorismo (em 64 tuítes selecionados), injúrias contra coroa pela música “Juan Carlos, o Bobão”, que faz um trocadinho com o nome da família real, Borbón, na qual ele canta sobre a morte do rei (que renunciou para deixar o trono para seu filho, Felipe VI) e outros crimes de injúria contra instituições espanholas.
Como censura pouca é bobagem na Espanha, a Audiência Nacional espanhola condenou a uma pena de dois anos e um dia 12 jovens cantores de um coletivo de hip hop conhecido como La Insurgencia. Eles cantam sobre a realidade de jovens por todo o país, jovens como eles, expressando através da música seus dilemas. Um dado curioso é que muitos desses jovens sequer se conheciam pessoalmente, fazendo músicas e colaborando apenas online. O grupo acusou o promotor de selecionar frases de suas músicas e retirar de contexto, ainda que tenham concordado que suas músicas eram de fato agressivas, carregadas de ódio, mas que isso estava longe de se encaixar no crime de enaltecer o terrorismo ou mesmo de incitar qualquer tipo de violência.
Calma que tem mais, o rapper Josep Valtonyc foi também condenado e essa semana fugiu da Espanha para não ser preso pelo crime de cantar e o primeiro músico a fugir da Espanha por ser condenado por suas letras.
Isso sem falar em meros tuiteiros e jornalistas (como Boro LH) também perseguidos e condenados por escrever piadas sobre Carrero Blanco ou outras figuras da ditadura franquista, por se revoltar contra a monarquia, etc. Ou seja, o que vemos é a mais pura perseguição a qualquer um que ouse levantar a voz contra as injustiças do país, contra a família real ou contra algozes do passado pode acabar processado e preso por “enaltecimento do terrorismo”.E agora chegamos a Evaristo Páramos, ex La Polla Records,detidopor guardas civis por cantar as mesmas músicas que canta há 30 anos.
A Espanha tem sido repetidamente condenada pela Corte Europeia de Direitos Humanos em casos envolvendo terrorismo. Em 2016 o país foi condenado por não investigar alegações de tortura contra prisioneiros ligados à ETA — foi a oitava condenação do país em casos envolvendo tortura. Em 2013, a corte forçou o país a revogar a Doutrina Parot, que aplicava sucessivas penas de prisão a acusados de terrorismo, e em 2011 a Espanha foi novamente condenada por violar a liberdade de expressão do líder basco Arnaldo Otegi, então porta-voz de seu partido no parlamento local e condenado em 2005 por chamar o rei de “chefe dos torturadores”.
Não existe liberdade de expressão na Espanha. (fonte)
Morreu Amândio Silva, um dos sequestradores do avião da TAP que lançou panfletos contra Salazar nos céus de Lisboa
Revolucionário português participou no desvio de aeronave para ação que irritou o antigo regime.
Amândio Silva, um dos operacionais da "Operação Vagô", idealizada por Henrique Galvão, morreu este domingo, na Parede, em Cascais, aos 82 anos, soube o CM junto de fonte próxima da família.
O antigo revolucionário foi um dos que embarcou, em novembro de 1961, na aventura pensada por Galvão e chefiada por Hermínio da Palma Inácio, que consistiu no sequestro de um avião "Super Constellation", da TAP, em rota entre Casablanca, em Marrocos, e a capital portuguesa.Desviada, a aeronave foi usada para espalhar milhares de panfletos contra o regime de António de Oliveira Salazar antes de regressar a território marroquino. Esta terá sido a primeira ação de desvio de um avião com fins políticos e nela participaram ainda Camilo Mortágua, Helena Vidal, Francisco Vasconcelos e João Martins.
Lutador convicto contra Salazar, a espetacular ação do "Super Constellation" não foi a única de Amândio Silva contra o ditador. Ele foi um dos participantes na chamada "Revolta da Sé", uma conspiração protagonizada por civis e militares, em março de 1959. A rebelião, impulsionada sobretudo por católicos (decorreu na Sé Patriarcal de Lisboa), junto à então cadeia do Aljube, acabaria por ser neutralizada pela PIDE, a polícia política do regime.(ver CM)
POEMA:
′′ A melhor geração está morrendo.
Aquela que sem estudos, educou seus filhos.
Aquela que apesar da falta de tudo, lhe ensinou o maior valor: a dignidade.
Os que mais sofreram estão morrendo.
Aqueles que trabalharam como feras,
Aqueles que se contentavam com nada.
Morrem aqueles que passaram por tanta dificuldade.
Aqueles que depois de uma vida de sacrifícios e de esticos só desejavam envelhecer digno.
Cada vez perde mais qualidade informativa o matutino dos grupos Sousa/Blandy/Avelino. São trechos e mais trechos apenas para encher o papel, sem qualquer conteúdo informativo.
A menina das historietas voltou a escrever de novo, aquelas tontices do costume, que não interessam nem ao menino Jesus.
"O padre" lá veio com o seu editorial do costume . Aquelas enfadonhas homilias muito palavrosas que não nos dizem nada. Ah! mal empregadas esmolinhas das nossas piedosas velhinhas que levaram este padreco a ir estudar comunicação social para Paris à custa dos dinheiros da Igreja madeirense.
A menina das historietas é mais uma jornalista vendida ao regime, já teve entachada em assessora de imprensa de Miguel Albuquerque. Escreve, escreve... e não diz nada. Aquilo é só para encher o papel do jornal, campeão das sobras e da reciclagem.
Irineu Barreto estará de saída?
Fascistas do Órgão de Soberania que não vai a eleições e arroga-se no direito de julgar em nome do povo
Este filho da p*** a receber a comunhão do Senhor!
Em Portugal temos o famigerado artigo VI do Código Penal salazarista que persegue a opinião e a liberdade de imprensa. Os juízes fascistas dos nossos tribunais usam-no com bastante diligência. Nenhum partido do sistema até hoje se interessou em modificar essa lei.
Em forma: Atriz Vera Fischer irá completar 70 anos e se diz um mulherão
A atriz Vera Fisher irá completar 70 anos em novembro deste ano e se considera um mulherão. A atriz é mãe de Rafaela, de 41 anos e Gabriel, de 28 anos, e afirma que gosta da forma como anda levando a vida. “Eu gosto de tudo, menos, evidentemente, a cara de velhinha que a gente vai ter (risos), mas se a gente for bem-humorada e estiver trabalhando, fazendo o que gosta e com saúde, então está tudo certo”, disse em entrevista recente. (fonte)
Aos 69 anos, Vera Fischer esbanja autoestima em ensaio exclusivo: 'Me acho um mulherão'
Atriz posa para as lentes de Fernando Torquatto e se diverte com cantada nas redes sociais: 'Recebo até pedido de casamento' (fonte)
Vera Fischer ganhou o Concurso Miss Brasil no mesmo ano, com apenas 17 anos de idade
É o ficheiro secreto mais sigiloso do Banco de Portugal. Há
muito tempo que se ouve falar
dele e há muito que deputados e arguidos do caso BES
correm atrás dele: um famoso
relatório guardado a sete chaves e que critica a forma como
o supervisor bancário geriu a
crise do Banco Espírito Santo
(BES) nos meses que antecederam a sua resolução, em
2014. Carlos Costa sempre se recusou
a mostrá-lo. Mário Centeno chegou a
governador e até admitiu divulgá-lo,
mas só se um tribunal concordasse. As
expectativas eram grandes, mas agora o
Tribunal da Relação de Lisboa decidiu
que deve permanecer como está, em
sigilo absoluto, e que não há razões para
levantar o segredo de supervisão.
Apesar de até alguns governantes,
como António Costa e Mariana Vieira
da Silva, já terem defendido o interesse
público deste relatório, as juízas Fátima Reis Silva, Vera Antunes e Amélia
Sofia Rebelo concluíram que o documento em causa “não é imprescindível
para a descoberta da verdade” (VISÃO)
Juízas dos tribunais superiores protegem os segredos dos corruptos
Lá diz ele: «A quebra do sigilo profissional carece de autorização judicial. ...Apenas um juiz deve ordenar ao jornalista que revele as suas
fontes de informação e só deve fazer
isso em casos excecionais.»
O pardalão e de opinião que o jornalista deve ser obrigado a revelar as suas fontes perante a ordem de um Juiz que para ele é um super Homem
Para a história ficam:
Dois estadistas corruptos e amigos de corruptos e ladrões
Os dois Marcelos
Marcelo Caetano e Silva Pais o director da PIDE de sinistra memória
Mãe de dois
rapazes, vive na
Polónia, e recusa
ser pessimista
quanto ao futuro
da democracia
... mas e
quem são os tipos que andam a vender o Trump aos eleitores? Esse é um
grupo muito importante de pessoas e
não se escreve sobre elas. Mas estão
em todos os países. Se olhares para
eles como uma classe, eles não são
a classe trabalhadora vítima da globalização. Têm uma boa educação,
muitas vezes são extremamente brilhantes, viajados, falam várias línguas, e são das pessoas mais sofisticadas nas suas sociedades. Eles
desafiam muitos dos estereótipos
estúpidos que as pessoas criaram
para explicar o Trump.
“Estamos num
momento
perigoso. O
caminho tanto
pode ser o
democrático
como o dos
loucos como
presidentes”
A Operação Marosca –
nome de código da incursão militar de represália ou vingança
pelas emboscadas lançadas pelos independentistas, semanas antes, contra grupos de soldados portugueses, dando assim a
entender que a Frelimo (Frente de
Libertação de Moçambique) conseguira infiltrar-se entre a população
civil nativa, com o objectivo, entre
outros, de boicotar a construção da
barragem de Cabora Bassa (segundo
a PIDE, a Frelimo teria conseguido
instalar na região uma base com
cerca de 300 guerrilheiros) – envolveu vários grupos dos Comandos,
elementos da PIDE/DGS, o Batalhão
de Caçadores 17 e a Força Aérea
Portuguesa.
Por volta do meio-dia daquele sábado, 16 de Dezembro de 1972, quatro
caças-bombardeiros Fiat G-91 largaram várias bombas na região onde ficavam as povoações de Wiriamu, Juwau e Chawola, a cerca de 30 km da
cidade de Tete, próxima do rio Zambeze e a 120 quilómetros da barragem de Cabora Bassa. Enquanto isso,
cinco helicópteros desembarcavam
quatro grupos da 6ª Companhia de
Comandos, Grupos Especiais de
Pára-quedistas, mercenários (alguns
dos quais, provavelmente, rodesianos) e agentes da PIDE/DGS, os quais
cercaram as aldeias e desataram a
metralhar os aldeões, incluindo mulheres e crianças, que fugiam em direcção ao mato, para se protegerem
dos bombardeamentos.
Em todas elas o procedimento foi
idêntico: primeiro, os militares juntaram todas as pessoas no centro das
aldeias, incluindo as que se tinham
escondido dentro das palhotas. Depois, os agentes da PIDE/DGS, protegidos pelos comandos, realizaram os
interrogatórios, procurando identificar elementos da Frelimo ou quem,
entre o grupo de camponeses (constituído maioritariamente por mulheres, crianças e idosos, todos eles desarmados), os apoiasse. Apesar de não
terem conseguido obter absolutamente nada que confirmasse as suas
suspeitas em nenhuma daquelas povoações, os “PIDES” insistiram dizendo que estavam todos a proteger os
“turras” (guerrilheiros dos movimentos independentistas) e que, inclusivamente, lhes forneceriam comida.
Como os camponeses continuassem a negar qualquer relação com os
“turras”, ouviu-se finalmente, entre os
militares portugueses, o grito “Matem-nos a todos!”, seguido de “Não
deixem ninguém vivo. Estas são as
nossas ordens”.
No dia anterior, as ordens das chefias tinham sido de uma
clareza meridiana: “Derrubar tudo o
que estiver em pé” e “liquidar tudo o
que se mova”.
Acto contínuo, atiçaram fogo às palhotas, aos redis dos animais e a tudo
quanto se lhes deparasse. Violaram
mulheres, mataram à coronhada, fizeram tiro ao alvo, fuzilaram, assassinaram recém-nascidos segurando-os
pelas pernas, de cabeça para baixo, e,
como coelhos, arremessaram com a
cabeça deles contra o chão, contra
um muro ou contra os troncos das árvores, jogaram futebol com cabeças
decapitadas, um soldado colocou a
sua arma na boca de uma criança,
como se fosse uma chupeta, rebentando-lhe a boca e a nuca à queima-
-roupa. Como se pode ler no relatório
dos padres da missão de S. Pedro sobre os massacres de Tete, elaborado
nos dias 18 e 19 de Dezembro de 1972:
ANTÓNIO
XIMONE
E O SEU
IRMÃO
DOMINGO
CONSEGUIRAM
FUGIR DE
UMA PIRA
FUNERÁRIA COM
CORPOS
A ARDER
«Chinteya, uma rapariga de 4 anos,
assustada, chora. Um soldado, simulando compaixão, aproxima-se e,
acariciando a criança, pergunta-lhe
se está com fome. Sem, porém, esperar a resposta, continua: “Toma o biberão.” E metendo à força o cano
duma arma de fogo pela boca da
criança, diz: “Chupa!” E dispara. A
criança cai com um rombo na nuca.
Não foi Chinteya a única vítima tratada assim; várias outras tiveram a
mesma sorte.
Num dos relatórios lia-se: “A uma
mulher, chamada Zostina, um soldado perguntou qual era o sexo da
criançaque trazia nas entranhas.
Como respondesse que não sabia,
abriram-lhe o ventre com um machete e, extraído violentamente o feto,
mostraram-lho para que o ‘soubesse’.
Logo a seguir foram ambos queimados.” Noutra passagem do mesmo
documento denuncia-se o soldado
que, vendo uma criança sentada no
chão, chorando a morte da mãe, acabada de ser fuzilada, lhe desferiu um
forte pontapé na cabeça, aos gritos de
“Cala-te, cão!”. O choro da criança
deixou imediatamente de se ouvir:
estava morta, prostrada no chão, com
o cérebro esfacelado.
No meio da confusão e da fumarada, alguns indivíduos, que estavam
apenas feridos, conseguiram escapar,
como António Ximone, um rapaz de
15 anos, e o seu irmão Domingo, de 4
anos, que conseguiram fugir de uma
dessas piras funerárias com corpos a
arder (António foi um dos sobreviventes que, meses mais tarde, relatou ao
London Times os factos deste hediondo crime de guerra)».
Exaustos da carnificina, os soldados
acamparam nas proximidades das
povoações que tinham acabado de
varrer do mapa de Moçambique, ali
ficando durante três dias, para dar caça aos sobreviventes que tivessem fugido e, os eliminar. Alguns desses sobreviventes, porém,
protegeram-se na missão de São Pedro, dirigida por dois padres espanhóis da Ordem de Burgos, que ouviram os primeiros relatos e produziram
dois relatórios sobre os massacres (a
esses, felizmente, os assassinos não
conseguiram deitar a mão).
Perante isso, os missionários procederam a averiguações, ouviram os sobreviventes (alguns dos quais abrigados no hospital de Tete) e recolheram
os testemunhos daqueles que tinham
presenciado os acontecimentos à distância. Com base nessas informações,
elaboraram dois relatórios, um dos
quais fizeram sair de Moçambique: a
20 de Fevereiro de 1973, aproveitando
o facto de as autoridades portuguesas
terem expulsado de Moçambique dois
padres de Burgos – Júlio Moure e Miguel Buendía, por terem denunciado
as atrocidades de vários militares –,
foi possível entregar a este último,
pouco antes de entrar no avião, uma
cópia do segundo relatório (elaborado
por Domingo Kansande, Domingo
Ferrão e José Sangalo), referente aos
massacres de Wiriamu e Juwau, que o
transportou para Madrid e o entregou
à Ordem de Burgos.
A acção de Adrian Hastings
Adrian Hastings foi o padre inglês católico, pertencente à congregação dos
Padres Brancos (além de historiador e
estudioso do cristianismo, membro da
Congregação dos Missionários de África com uma longa experiência de trabalho em África, ali tendo permanecido durante mais de 12 anos), que chamou a atenção da comunidade internacional para o Massacre de Wiriamu.
Em Abril de 1973, o padre Hastings
foi à Rodésia para participar num ciclo de conferências sobre temas religiosos. Nessa ocasião, ouviu da boca
de alguns missionários espanhóis do
Instituto de São Francisco Xavier de
Burgos (conhecidos apenas como Padres de Burgos) o relato das selvajarias cometidas por um grupo de militares portugueses no distrito de Tete.
Mostrando-se interessado em saber
mais, sugeriram-lhe que contactasse
a sede da ordem em Espanha.
Como daí a meses, na semana de 18
de Junho, iria realizar uma palestra
em Salamanca, sobre o novo pensamento da Igreja para as questões ecuménicas, Hastings aproveitou para se
deslocar a Madrid. Já em Espanha,
teve acesso a um desses relatórios sobre os massacres de civis perpetrados
pelo exército português na região
central de Moçambique (Tete).
Ajudado por tradutores espanhóis, consultou a documentação que o murciano
Miguel Buendía conseguira introduzir
em Espanha, juntamente com um pequeno filme que mostrava restos de
cubatas incineradas.
Depois de analisar cuidadosamente
os relatórios que documentavam, de
forma fidedigna, os massacres em
três aldeias moçambicanas do distrito de Tete (com destaque para Wiriamu, pois fora inteiramente arrasada e quase todos os habitantes assassinados, muitos deles de forma sádica e
cruel), e apercebendo-se da dimensão e da gravidade do que acabara de
ter conhecimento, decidiu que era
preciso denunciar aquela selvajaria,
cometida com requintes de sadismo,
pelo exército português, fazendo
chegar à imprensa internacional
aqueles papéis.
O PADRE
ADRIAN
HASTINGS
TELEFONOU
AO THE
LONDON
TIMES E
CONTOU A
HISTÓRIA
DOS
MASSACRES, DE
QUE
POSSUÍA
PROVAS
Repercussão internacional
Ao fim da tarde de 6 de Julho de 1973,
uma sexta-feira, Adrian Hastings telefonava ao jornal The London Times e
contava a história dos massacres, de
que possuía provas, pois trouxera de
Madrid uma cópia do documento dos
padres de Burgos, passado em stencil.
No dia seguinte, sábado, enviou tudo
para o jornal.
Na segunda-feira, já com os documentos de Hastings nas mãos, o responsável pelas decisões executivas no
The Times, Louis Heren, telefonou-lhe e disse: “Temos de publicar o artigo amanhã. Os tipógrafos estão a
ameaçar com greve e não sabemos
quando estaremos em condições de
voltar a imprimir.” Se tal acontecesse,
a divulgação da história ficaria adiada
e perderia impacto, pois Inglaterra
preparava-se, em breve, para receber
Marcello Caetano, o primeiro-ministro português, por ocasião das comemorações dos 600 anos da Aliança
Luso-Britânica.
A 10 de Julho de 1973, o jornal The
London Times, dando honras de primeira página à história – título com
grande destaque: “Massacre português denunciado por padres” –, publicou o artigo assinado por Hastings,
onde se denunciava o massacre de
quase toda a população de Wiriamu
(no total, segundo as informações de
Hastings, teriam sido chacinados, pelas tropas portuguesas, entre 300 e
500 negros das populações civis do
distrito de Tete), bem como um dos
dois relatórios elaborados pelos padres que trabalhavam na missão de
São Pedro. Hastings referia a existência de testemunhas do massacre,
nomeadamente um missionário português da ordem italiana dos padres
Combonianos, e mais dois outros
missionários que garantiam que os corpos das vítimas tinham sido enterrados no mato, porém,
tinham sido presos pelas
autoridades portuguesas e
estavam no cárcere de
Lourenço Marques, sob
a acusação de “atentado moral ao exército português”.
Face à gravidade das
acusações, mais a mais divulgadas num jornal com
o prestígio e a influência
do The Times, e estando
programada, para daí a
dias, a visita oficial (a convite do governo britânico)
de Marcello Caetano a
Londres (de 16 a 18 de Julho), as imprensas inglesa
e internacional desenvolveram as suas próprias investigações e escalpelizaram a história dos massacres, enquadrando-os na
guerra levada a cabo em
Moçambique, e promoveram um debate alargado
sobre os apoios estrangeiros de que Portugal beneficiava para a prossecução
das suas campanhas militares em África, pondo em
causa a reputação do regime português e a própria
presença portuguesa no
continente africano.
O “Insight Team” do
Sunday Times, por exemplo, realizou uma extensa
cobertura do contexto do
massacre e qualificou
como “indesejada” a visita de Marcelo: “O debate sobre a visita de Caetano fora
muito útil pois apresentara
à opinião pública inglesa o
carácter da guerra que
Portugal sustenta em África.”
O mesmo aconteceu
no Observer, jornal que
também veio corroborar
os relatórios apresentados
por Hastings; o The Guardian publicou na íntegra o
relatório secreto, elaborado por militares portugueses para consumo interno,
que confirmava os massacres de Wiriamu, defendeu
a expulsão de Portugal da
NATO (juntamente com a
Grécia do regime dos coronéis), e publicou um editorial intitulado “Portugal:
Amigo ou Inimigo?”, onde
dizia que “é errado conferirem-se honras ao Presidente do Conselho Português.
Ao povo português,
sim: 600 anos de cordialidade, menos inconsistente
da que gozámos por
exemplo com os franceses
ou com os alemães, merecem mais do que uma observação passageira. Porém, o Dr. Caetano não
pode ser apresentado
como representante do
povo português e chefia
um Governo que em muitos aspectos é mais hostil
do que afável para com os
interesses britânicos”.
Para se ter uma ideia da
repercussão internacional deste caso,
só o The Times publicou, ao longo de
seis meses, entre Julho e Dezembro de
1973, mais de 200 artigos atacando a
posição portuguesa, repudiando a
campanha de contra-informação desencadeada pelas autoridades lusas e
mantendo-se firme na defesa das fontes em que se tinha baseado, que consideravam consistentes e fidedignas, e
dos procedimentos de verificação dos
factos.
Em contrapartida, o jornal conservador Daily Telegraph defendeu
que os inquéritos efectuados não tinham provado nada e lançou “fortes
dúvidas sobre a história”.
Reacção portuguesa
Em Lisboa, imediatamente a seguir
ao artigo do The Times, o governo
português publicou uma nota oficiosa indignada em que desmentia e repudiava a notícia, considerando-a
uma “campanha insidiosa de difamação”, uma conspiração internacional inventada pelos inimigos de
Portugal, que segundo Marcelo Caetano visava “abalar o moral das tropas” e “pôr em causa a defesa do Ultramar português”.
O regime português desmentiu pois
os massacres, contestou a veracidade
dos factos e dos testemunhos, classificou-os de tendenciosos, e alegou
mesmo a inexistência de uma aldeia
com o nome de Wiriamu: tudo não
passava de uma “ficção” congeminada por meia dúzia de padres progressistas apostados em atacar as posições portuguesas.
Em desespero, as
autoridades portuguesas lançaram
ainda uma campanha para denegrir o
Padre Hastings, considerado um “inimigo declarado de Portugal”, e a idoneidade dos jornais que tinham divulgado a notícia dos massacres.
O diário
Época, por exemplo, referiu-se a Hastings como um “paranóico com a mania do escândalo”, um “espantalho
louco e um mentiroso agitador”, e segundo a revista Observador estava
em curso uma “campanha desenvolvida pela imprensa inglesa, francesa e
italiana”, o convento dos padres de
Burgos era uma “célula socialista da
igreja espanhola”, Hastings um “militante progressista”.
Na Câmara dos Comuns, Harold
Wilson, o líder do Partido Trabalhista,
e o ministro dos Negócios Estrangeiros Sir Alec Douglas-Home, discutiram acaloradamente a oportunidade
da visita de Marcello Caetano e o mal-estar que estava a causar em Inglaterra. Enquanto o governo de Londres
defendia o regime português (tal
como, de resto, o governo norte-
-americano), os trabalhistas e os liberais, em minoria no Parlamento britânico, exigiram que a visita fosse cancelada, pediram a realização de um
debate plenário sobre as alegações do
massacre e Harold Wilson declarou
mesmo que, caso ganhasse as próximas eleições, uma das suas primeiras
medidas seria propor a expulsão de
Portugal da NATO.
Um dos momentos mais importantes da campanha anticolonial do Partido Trabalhista deu-se a 15 de Julho
(um domingo, na véspera da chegada
a Londres do primeiro-ministro do
Estado Novo), quando se realizou, na
capital inglesa, uma manifestação
contra a visita oficial de Marcelo Caetano e contra o regime ditatorial português, que começou em Belgrave
Square (onde ficava a embaixada de
Portugal) e terminou em Hyde Park.
Além de Lord Gifford, o inspirador
da campanha “End the Alliance”,
participaram na manifestação – provavelmente a maior manifestação
antiportuguesa da moderna história
da Grã-Bretanha” —, vários exilados
e activistas portugueses residentes
em cidades como Paris, Bruxelas,
Amesterdão ou Estocolmo.
Apesar
da chuva, o protesto reuniu mais de
cinco mil pessoas frente à embaixada de Portugal: entre Belgrave Square e o Hyde Park, a multidão foi gritando palavras de ordem contra a ditadura portuguesa e empunhando cartazes com insultos- carniceiro, assassino, etc-contra Marcello
Caetano.
Entre os portugueses que marcaram
presença, destacava-se a figura de
Mário Soares, o primeiro secretário-
-geral do recém-criado (e ilegal) Partido Socialista (em Abril de 1973), que
vivendo então exilado em Paris se
deslocou a Londres para participar na
manifestação. Soares não só foi oficialmente recebido e acolhido por
Harold Wilson, o já referido dirigente
dos trabalhistas ingleses — entrevistado na sede do Partido Trabalhista,
Soares disse aos jornalistas que,
“como português, se sentia envergonhado com a notícia do massacre”,
mas atribuiu a responsabilidade pelo
mesmo, exclusivamente, ao Governo
português, e não aos portugueses –,
como se sentou ao lado de Adrian
Hastings na conferência de imprensa
de 11 de Julho de 1973, em Londres,
convocada pelo padre britânico para
defender, de viva voz, o relatório dos
massacres de Wiriamu.
Num ambiente destes, e prevendo a
ocorrência de desacatos, a chegada
do primeiro-ministro português foi
rodeada de um apertado dispositivo
policial da Scotland Yard e Marcello
Caetano foi abordado por uma multidão de jornalistas.
Os jornais britânicos, incluindo alguns tablóides, encheram-se de comentários negativos
a respeito de Portugal, que persistia
na ilusão de que podia manter o seu
império colonial, ofuscando e estragando, assim, todos os actos da visita
de Marcello Caetano.
SOARES
SENTOU-SE
AO LADO
DE ADRIAN
HASTINGS
PARA
DEFENDER
O RELATÓRIO DOS
MASSACRES DE
WIRIAMU
O The London Times publicou
a notícia do massacre
a 10 de julho de 1973