segunda-feira, 30 de junho de 2025
Prestando culto às imagens de escultura
Adoram boneços feitos de barro
domingo, 29 de junho de 2025
Oh! Careca! Oh! careca tira a boina!
Viva aos próximos presidentes da CMF e Assembleia Municipal do Funchal!
Para os saudosistas que dizem que no tempo do Salazar é que era bom ! Aqui vai esta grande reportagem do Jornal PÚBLICO
A foto acima, é o cronista e político Nuno Brederode dos Santos (1944-2017), que fez parte do grupo de militares da Comissão de Verdade em Nampula;
O agricultor Marcos Postal Mucussete tinha 29 anos em Junho de 1966, mês em que foi detido em Muecate e transferido para Nampula, onde queriam que ele assinasse uma confissão que o associava aos “terroristas e à Frelimo”. Mucussete negou. Então os pides despiram-no e fizeram entrar o cão na sala de interrogatórios — o animal mordeu-lhe o peito do lado esquerdo e ele teve de “lamber do chão o sangue que tinha jorrado da ferida”. Numa das paredes desta divisão estava suspensa uma chapa de ferro que era aquecida e na qual os agentes encostavam a cabeça dos reclusos, provocando-lhes graves queimaduras. Mantido no mesmo lugar, Mucussete foi sovado com um “kuekuero” (bastão) e ao fim de algumas horas de maus tratos, atirado para uma cela sobrelotada, onde os presos dormiam sobrepostos uns nos outros e sobre a retrete, que era um buraco aberto no chão de cimento. Durante o dia mantinham-se em pé, por vezes de cócoras, com os membros inferiores inchados e doloridos. Havia noites em que o guarda prisional Bento Maria entrava nas celas e começava a esbofetear os que estavam mais próximos da entrada, atiçando o cão; noutras, entravam Ramos e o agente Madureira para seviciar os presos “com o cabo de uma vassoura”. Francisco Coquela, auxiliar da PIDE desde 1973, disse aos militares ter visto Ramos e Bento Maria a “açularem um cão contra um prisioneiro que gritava cheio de dores e sangrando, enquanto os guardas riam”. A Tomás Henriques Mecuaila, um capataz preso em 1964, bateram-lhe primeiro com “borrachas de pneu, réguas de ferro e varas” e depois usaram ferros aguçados: “Furaram-me o pescoço e queimaram-me as costas” em interrogatórios que se prolongaram intermitentemente por cinco meses, disse. Tomás dormia sobre o cimento, sem esteira, numa cela com mais 50 homens. Um deles era Jaime Farahane, um monitor escolar ouvido como testemunha, mas também ele uma vítima: a água era tão escassa e insuficiente que em algumas celas os homens “bebiam a água usada para a retrete”, recordou. “[Nos interrogatórios] picavam-nos o corpo com canivetes e queimavam-nos com cigarros. Coitado daquele que tivesse bigode, era queimado ou puxado até sangrar.” As torturas não terminavam sequer no momento das trasladações para outras cadeias — muitos antigos prisioneiros recordaram que nas viagens de barco de Nacala para Lourenço Marques, concretamente para a prisão da Machava, eram lançados para o porão a uma altura de mais de 10 metros. Muitos ficavam feridos e fracturavam membros, como Jaime, que partiu o braço, prosseguindo viagem sem assistência médica. Aqueles que morriam devido ao impacto da queda eram lançados ao mar. Em Nampula e noutras prisões administradas pela PIDE, como a Machava ou a fortaleza do Ibo, a grande maioria dos reclusos estava presa sem culpa formada e nunca foi levada a julgamento. Mantinham-se detidos por “medidas administrativas de segurança” ou “de internamento” — um expediente previsto na lei e ao qual a PIDE recorria com frequência para poder contornar os prazos legais da prisão preventiva. Esta era de três meses, podendo ser prorrogada por mais dois períodos sucessivos de 45 dias cada um, com prévia autorização do ministro do Interior. No acervo da comissão descoberto na Torre do Tombo encontram-se pedidos de prorrogação de preventiva datados de 1964 e 1965 relativas a pessoas que ainda estavam presas em 1973. Sob preventiva ou sujeito a “medidas administrativas de segurança”, um número indeterminado de cidadãos permaneceu nas cadeias durante anos, alguns quase dez. Em Junho de 1974, um agente de 1.ª classe, José Duarte da Cruz, preso na Operação Zebra, admitiu que em Nampula raramente era aberto um “processo judicial” e que todos os presos eram “condenados sempre em medidas administrativas”. No mesmo mês, João Baptista Ravia, um nativo que morava no Bairro Namicopo e que fora detido cerca de três meses antes, a 19 de Março, contou à comissão que depois de ser espancado perguntou a um agente se ia continuar preso mesmo não tendo feito “mal nenhum”: “Ele respondeu que como [eu] era preto podia ficar preso o tempo que o Governo quisesse.”
Cadáveres embrulhados em mantas e inumados sem registo
Em finais dos anos 1960 “morria muita gente” nos calabouços da PIDE, admitiram as mais de três dezenas de elementos da PSP inquiridos pela comissão. Muitas vezes, seis pessoas em apenas um dia. As mortes eram comunicadas à direcção em Maputo, através de ofícios breves nos quais se identificava o morto, a data e o local de óbito (“nesta subdelegação”, “nas prisões privativas da PSP” ou no hospital da cidade). Cópias destes documentos foram agregadas aos processos-crime. Em muitas, lê-se a manuscrito: “Decl. Bento Maria. Dr. Cruchinho”, isto é, a declaração de óbito tinha sido feita pelo guarda prisional e pelo médico que colaborava habitualmente com a PIDE, quase sempre nas celas. Era ainda o guarda quem requeria a certidão de óbito à Conservatória dos Registos de Nampula, informando a mesma da causa de morte: “Insuficiência cardíaca” ou “broncopneumonia” ou “nefrite aguda” ou “poliavitaminose”. Segundo testemunhas, os cadáveres podiam ficar horas ou dias até serem retirados das celas. Paulino Paconeto contou que na sua cela chegaram a estar cinco corpos que aguardaram três dias para serem retirados. “O cheiro que exalava era nauseabundo tornando o ar irrespirável.”
Na PSP, o agricultor Mucueta Mucumpua Alucasse viu morrer sete presos num só dia: “Os cadáveres eram removidos às 15 horas de cada dia, pelo que muitos cheiravam bastante mal quando os retiravam.” Nem todos os mortos eram inumados no cemitério. Interrogado pela comissão, Joaquim Alves do Nascimento, auxiliar e intérprete da PIDE desde 1962, disse que nas cadeias “morreu muita gente quer por doença quer por maus tratos quer ainda pela má alimentação que lhes era dada e que depois era levada no jipe da PIDE para local que se desconhece”. “Esse transporte”, continuou, “era efectuado pelos guardas prisionais Ramos, Bento Maria, Graça e Madureira.” Baptista Ramos, ouvido pelos militares, negou as inumações fora dos cemitérios, mas reconheceu que os cadáveres ficavam “24 horas dentro das celas” e que depois eram “embrulhados em mantas e transportados no jipe para o cemitério”. A comissão decidiu então ouvir o coveiro. Abílio Roda depôs a 11 de Junho perante Nuno Brederode dos Santos e Manuel Ferreira da Cruz: “Perguntado se alguma vez recebeu um ou mais cadáveres entregues pela DGS para sepultar, respondeu que sim, com muita frequência. Esclarece que era um veículo todo o terreno de cor verde e caixa fechada que lhe levava os corpos. Perguntado acerca da frequência dessas entregas, respondeu que era grande. Recorda-se de ter recebido, por vezes, dois e três corpos no mesmo dia. Perguntado se sabe explicar a causa de tantas mortes, respondeu que não, que nem sequer via os cadáveres pois estes lhe eram apresentados envoltos numa manta e o declarante sepultava-os assim mesmo. Por outro lado, esclarece ainda não dispor de qualquer documentação e que a existir um registo destas inumações será na câmara municipal; ao declarante os agentes da DGS apenas exibiam uma ordem escrita para sepultar os cadáveres, mas não sabe precisar de quem provinha essa ordem.” Nos primeiros dias de Junho de 1967, Nampula informou a direcção em Maputo de que tinha na sua posse mais de nove contos pertencente aos presos que tinham morrido. Os valores não tinham sido entregues às famílias porque desconheciam o paradeiro das mesmas, alegavam, pelo que perguntavam se podiam usar o dinheiro para custear “funerais em atraso e, bem assim, aqueles que de futuro venham a efectuar-se”.
“Estavam ali para morrer porque eram bandidos”
Ao longo do Verão de 1974, a comissão ouviu também muitas mulheres — mães, filhas, esposas e irmãs de desaparecidos e mortos —, na maioria dos casos na qualidade de testemunhas. Mas elas foram também vítimas do tratamento desumano da PIDE. Numa busca ilegal feita a sua casa em busca de “um cartão” do marido, já detido, a são-tomense Adelaide Augusto Batalha foi espancada por quatro elementos da polícia e perdeu alguns dentes. Muitas outras eram agredidas verbalmente à porta da subdelegação quando pediam informações sobre os seus familiares. Nos postos de vigilância e noutras subdelegações do Norte há relatos de violações e abusos sexuais perpetrados por funcionários, e mesmo em Nampula a Comissão registou um caso contado por Fernando Cohieque, ex-régulo de Vanline, preso em Abril de 1966 por ter “permitido” que a Frelimo atravessasse as suas terras. Numa das visitas da sua mulher, que lhe levava comida à cadeia, Ramos disse-lhe que ela “era muito bonita” que não “precisava de viver com um preto”. Cohieque queixou-se ao inspector Francisco da Costa Lontrão e este terá repreendido o subordinado. Contudo, numa visita posterior, “Ramos seguiu atrás da mulher, abordou-a e por meio de ameaças conseguiu com ela relações sexuais”. À data deste auto, esta mulher já tinha morrido. O Ramos mencionado pelas vítimas era António Francisco Baptista Ramos, um guarda prisional que chegara a Moçambique em 1964, tal como o seu colega Bento Maria. “Eram quem mais batia nos presos”, contou Valentim Bolacha, um antigo recluso que foi recrutado pela PIDE em 1965 e ficou a trabalhar como cabo auxiliar. Bento Maria e Ramos eram de Serpa e tinham cães que usavam como instrumentos de tortura: o Popeye e o Boby, sendo este último mais mencionado pelas vítimas. Estes dois guardas, que trabalhavam nas duas cadeias geridas pela corporação, foram frequentemente identiÆcados perante a comissão como autores de actos criminosos. Aiamar Muacoma contou a “morte diferente” dos seus companheiros Mário Namaneque e Hinvia: “Depois de terem levado bastante tareia nos interrogatórios, foram levados para os calabouços da PSP onde o guarda Bento Maria lhes queimou, à vista do queixoso e doutros presos, os testículos, o pénis e toda a zona púbica com um archote improvisado com jornais enrolados.” O mesmo momento foi testemunhado por Cupela Muahamara e a mesma prática referida por muitos ex-prisioneiros e funcionários da PIDE, como o auxiliar Sebastião Choquela Esteira. “Viu pelo menos duas vezes o guarda Bento Maria queimar a piça dos presos com capim a arder, empurrando-os com o fogo para junto do cão Boby, o qual mordia os presos.” Ramos fazia o mesmo, segundo Rodrigues Numanle, um cozinheiro de 39 anos, que o viu “deitar gasolina nos testículos” de um recluso chamado André Navinho e que, “acendendo um fósforo, deixou arder”. “[O preso] foi transportado para o hospital a fim de receber [tratamento] o mesmo dia e vindo [para a cadeia] nesse mesmo dia. Saindo em liberdade desta polícia em 1968 veio a morrer em sua casa, aproximadamente um mês depois.” “Era raro o dia em que não morria ninguém”, disse Numanle aos oficiais da comissão. A maioria das mortes decorria das torturas feitas nos interrogatórios, onde os pides usavam palmatórias, “kuekueros”, chicotes, “cavalos-marinhos”, catanas e ferros. Nos gabinetes 1 e 3 da subdelegação existia uma trave suspensa do tecto onde penduravam os presos, amarrados pelos pés ou pelas mãos — pendurados, eram sovados ou chicoteados. Eram também submetidos à tortura da “estátua”, obrigados a estarem de pé, imóveis, com os braços levantados e estendidos à altura dos ombros. Quando perdiam os sentidos reanimavam-nos com baldes de água fria. Selege Mupia, agricultor de Ribuaè, foi torturado durante os primeiros três meses de detenção e nomeou aos instrutores militares os amigos que viu morrer na cadeia: “Massurupanha Nicuma Mulina morreu na sua cela que era a do declarante depois de o Ramos o ter agredido a cavalo-marinho até cair por terra saltando-lhe então em cima com ambos os pés (morreu no dia seguinte à agressão); Nicua Uela morreu logo a seguir a ter sido violentamente agredido pelo Ramos; Nacuruma Mirasse Mutual morreu em casa uma semana depois de ter sido libertado; Rapaneque Inhala Rissane faleceu igualmente logo a seguir a violenta agressão a cavalo-marinho executada pelo Ramos que o pontapeou na boca, arrancando-lhe vários dentes e o pontapeou por todo o corpo.” Num conjunto de ofícios originais da PIDE que a comissão recolheu como elementos de prova encontra-se a comunicação da morte de Massurupanha Nicuma Mulina: a chefia de Nampula informou a delegação na capital moçambicana que este cidadão tinha morrido a 23 de Setembro de 1967 por “broncopneumonia”. “O Bento Maria costumava mandar formar os presos dentro das celas dizendo-lhes que estavam ali para morrer porque eram bandidos”, contou Paulino Paconeto, preso em 1967, privado de comida e água durante os primeiros seis dias. A crueldade era desmedida: Paulino ficou sem três dentes e sem as unhas das mãos; Cavula, antigo cabo, ficou surdo do ouvido direito; Jacinto Silva, motorista, perdeu a visão.
Farinha, feijão e caril
À entrada na subdelegação, a revista dos detidos resultava muitas vezes em roubos de dinheiro e bens (relógios, cintos, documentos, carteiras, sapatos, camisas ou calças); o mesmo acontecia com alguns géneros alimentares que ali eram entregues pelas famílias. Munova Gaiaia, chefe de povoação em Ribuaè, declarou que um dia, em resposta à súplica para beber água, um agente “mijou numa lata” e obrigou-o a beber. “Havia outros agentes que usavam o mesmo sistema”, acrescentou. Faustino Sumaila testemunhou que um dos reclusos “foi obrigado a comer com o prato em cima da retrete, que não tinha tampa e estava cheia de porcaria, pelo guarda Ramos para servir de exemplo aos outros presos”. Para saber como era e em que consistia o fornecimento de refeições nas duas cadeias, os instrutores militares consultaram e recolheram o arquivo desta subdelegação. Por isso, juntaram ao inquérito documentos que mostram que em Janeiro de 1974, por exemplo, a alimentação era deficiente e escassa: ao pequeno-almoço era apenas dado chá e o almoço e o jantar consistia sempre em farinha, feijão e caril; ao domingo, excepcionalmente, o dia começava com açúcar com farinha e ao almoço havia carne e arroz. Os reclusos inquiridos pelos militares nunca mencionaram carne e arroz, mas antes farinha celeste, feijão e por vezes peixe seco. Sempre em pouca quantidade e de má qualidade. Em Janeiro de 1973 as compras para a subdelegação constavam somente de farinha, feijão, óleo e farinha para cães. Embora nunca tenha sido possível apurar quantas pessoas foram presas pela PIDE em Nampula — muitas não foram registadas nem tinham fichas de presos —, vários depoimentos indicam que os dois lugares de reclusão nunca tiveram, desde finais dos anos 60, menos de 300 detidos. O motivo, quando documentado, era invariavelmente o mesmo: “Averiguações.” Em data incerta, mas ainda na década de 60, a PIDE e a PSP procuraram resolver o problema da sobrelotação das celas com uma solução que, segundo as duas forças policiais, beneficiava toda a gestão colonial: trabalhos forçados. “Se os presos que estavam na PSP não tivessem saído todos os dias para irem trabalhar, muitos mais teriam adoecido pois as condições das celas eram más”, assumiu Baptista Ramos num interrogatório feito em Ænais de Maio. A mão-de-obra penitenciária foi explorada por particulares e instituições públicas: em Nampula, os presos trabalharam sem remuneração na construção da nova cadeia, no campo de aviação, na abertura de valas e estradas, nos campos de amendoim, arroz e milho, em estabelecimentos comerciais, no hospital Egas Moniz, em serrações e em obras camarárias. Alguns exerceram também tarefas domésticas nas casas de dirigentes da PIDE e da PSP.
Cadáveres embrulhados em mantas e inumados sem registo
Em finais dos anos 1960 “morria muita gente” nos calabouços da PIDE, admitiram as mais de três dezenas de elementos da PSP inquiridos pela comissão. Muitas vezes, seis pessoas em apenas um dia. As mortes eram comunicadas à direcção em Maputo, através de ofícios breves nos quais se identificava o morto, a data e o local de óbito (“nesta subdelegação”, “nas prisões privativas da PSP” ou no hospital da cidade). Cópias destes documentos foram agregadas aos processos-crime. Em muitas, lê-se a manuscrito: “Decl. Bento Maria. Dr. Cruchinho”, isto é, a declaração de óbito tinha sido feita pelo guarda prisional e pelo médico que colaborava habitualmente com a PIDE, quase sempre nas celas. Era ainda o guarda quem requeria a certidão de óbito à Conservatória dos Registos de Nampula, informando a mesma da causa de morte: “Insuficiência cardíaca” ou “broncopneumonia” ou “nefrite aguda” ou “poliavitaminose”. Segundo testemunhas, os cadáveres podiam ficar horas ou dias até serem retirados das celas. Paulino Paconeto contou que na sua cela chegaram a estar cinco corpos que aguardaram três dias para serem retirados. “O cheiro que exalava era nauseabundo tornando o ar irrespirável.” Na PSP, o agricultor Mucueta Mucumpua Alucasse viu morrer sete presos num só dia: “Os cadáveres eram removidos às 15 horas de cada dia, pelo que muitos cheiravam bastante mal quando os retiravam.” Nem todos os mortos eram inumados no cemitério. Interrogado pela comissão, Joaquim Alves do Nascimento, auxiliar e intérprete da PIDE desde 1962, disse que nas cadeias “morreu muita gente quer por doença quer por maus tratos quer ainda pela má alimentação que lhes era dada e que depois era levada no jipe da PIDE para local que se desconhece”. “Esse transporte”, continuou, “era efectuado pelos guardas prisionais Ramos, Bento Maria, Graça e Madureira.” Baptista Ramos, ouvido pelos militares, negou as inumações fora dos cemitérios, mas reconheceu que os cadáveres ficavam “24 horas dentro das celas” e que depois eram “embrulhados em mantas e transportados no jipe para o cemitério”. A comissão decidiu então ouvir o coveiro. Abílio Roda depôs a 11 de Junho perante Nuno Brederode dos Santos e Manuel Ferreira da Cruz: “Perguntado se alguma vez recebeu um ou mais cadáveres entregues pela DGS para sepultar, respondeu que sim, com muita frequência. Esclarece que era um veículo todo o terreno de cor verde e caixa fechada que lhe levava os corpos. Perguntado acerca da frequência dessas entregas, respondeu que era grande. Recorda-se de ter recebido, por vezes, dois e três corpos no mesmo dia. Perguntado se sabe explicar a causa de tantas mortes, respondeu que não, que nem sequer via os cadáveres pois estes lhe eram apresentados envoltos numa manta e o declarante sepultava-os assim mesmo. Por outro lado, esclarece ainda não dispor de qualquer documentação e que a existir um registo destas inumações será na câmara municipal; ao declarante os agentes da DGS apenas exibiam uma ordem escrita para sepultar os cadáveres, mas não sabe precisar de quem provinha essa ordem.” Nos primeiros dias de Junho de 1967, Nampula informou a direcção em Maputo de que tinha na sua posse mais de nove contos pertencente aos presos que tinham morrido. Os valores não tinham sido entregues às famílias porque desconheciam o paradeiro das mesmas, alegavam, pelo que perguntavam se podiam usar o dinheiro para custear “funerais em atraso e, bem assim, aqueles que de futuro venham a efectuar-se”.
"Padre" Ricardo almejava ser o futuro director da RTP/Madeira
sábado, 28 de junho de 2025
sexta-feira, 27 de junho de 2025
José Luís Nunes não gosta da Patricia Dantas e da candidata Venezuela. Bateu em retirada já não quer ser o candidato do PSD ao Funchal
José Luís Nunes indica que não será candidato do PSD à CMF

José Luís Nunes pede um tempo para “ponderar”, mas diz que até decidir, “não serei candidato definitivo à Câmara do Funchal”, pelo PSD.
As declarações foram prestadas por ocasiã0 da inauguração da ETAR do Funchal.
“Ponderar é uma coisa, concluir é outra… até lá, quero que me vejam como presidente da Assembleia [Municipal]”, referiu o também médico, prometendo que “vai defender sempre os munícipes” e adiantando que se “aguardam cenas dos próximos capítulos”.
José Luís Nunes disse que “praticamente já tomou” a decisão de não ser candidato. E que já comunicou, “por estes dias”, a sua decisão ao presidente do partido, Miguel Albuquerque.
Recusando-se a esclarecer aos jornalistas o que terá acontecido, limitou-se a dizer: “São questões pessoais”. (FN)
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Patrícia Dantas na lista de Nunes pelo Funchal
A número 2 é nada mais nada menos que a senhora Patrícia Dantas envolvida no escândalo do desaparecimento de 8 milhões de euros de Fundos europeus no consórcio de empresas AIMINHO. Foi com a assinatura desta senhora finória do PSD/Madeira, que todo este dinheiro obteve guia de marcha para as mãos de vários corruptos do partido dela. Os milhões desapareceram sem deixar rasto ela nunca foi julgada nem condenada e nem um dia de cadeia apanhou. É obra! Ladrões finórios são sempre protegidos.
O Sr. Bispo Nuno Brás é muito amigo do Miguel Albuquerque, Presidente do Governo Regional da Madeira
São Josemaría Escrivá de Balaguer. Dedicou a vida ao serviço de Deus e do fascismo espanhol
Malditos ditadores.
Tem toda a razão Miguel de Sousa Tavares
"Vamos gastar dinheiro que não temos a comprar armas de que não precisamos para uma ameaça que não existe": Miguel Sousa Tavares.
Duarte Caldeira escreve excelente artigo em Homenagem ao glorioso padre Martins
Morreu o meu grande amigo Padre Martins Júnior
o Padre José Martins Júnior foi um homem sério, honesto que defendeu sempre, os mais oprimidos
Talvez a primeira, tenha sido a reunião que fizemos no início de Maio de 1974, na Ribeira Seca onde havia uma escola e mais tarde uma Igreja, que na altura tinha telhados de zinco e chovia torrencialmente. O tema foi a colonia, o que era, quais as soluções, com gente da própria Ribeira Seca que era vítima desse sistema quase feudal. Foi a primeira vez que se tratou desse assunto, aqui na Madeira. A segunda, foi no ano seguinte, em Fevereiro de 1975 quando publiquei no DN um trabalho sobre a cana do açúcar em que os produtores ocuparam a fábrica de Açúcar do Torreão e, por minha sugestão ocuparam, também a Delegação Regional da Administração do Álcool e do Açúcar que funcionava como anexa da Junta Nacional do Vinho e que superintendia tudo o que dizia respeito àqueles dois produtos. Foi uma luta ganha que ainda hoje beneficia os produtores madeirenses de Cana do Açúcar.
Muitas outras se seguiram e muitas foram as vezes que foste perseguido, primeiro pelo poder político, depois pelo poder eclesiástico. Quando eras pároco na Ilha do Porto Santo e que fundaste o grupo folclórico daquela Ilha, foste perseguido pela PIDE. Foram dois agentes da polícia política à tua procura para te prenderem, mas o teu povo, guardou-te bem guardado e os agentes regressaram à Madeira de mãos a abanar. Mais tarde, D. Francisco Santana, nomeado Bispo do Funchal, nas vésperas do 25 de Abril e ainda embebido de ideias fascistas e fascisantes decidiu suspender-te Ad Divinis do teu múnus de Pároco da Ribeira Seca, sem que para isso tivesse quaisquer motivos. Um dia na Igreja Matriz de Machico Martins Júnior estava presente, pois iria ser padrinho de um crismando, cerimónia presidida pelo referido Bispo, que ao vê-lo deu ordem para que abandonasse o templo. Ao que recusaste e disseste-lhe: «Se quer que saia, expulse-me da Igreja». Claro que não o fez e ameaçou-o com a suspensão, mas o povo continuou a acreditar no seu pároco e o poder civil retirou-lhe o poder de celebrar casamentos, de acordo com a concordata. Aconselhados pela conservadora e notária de Machico de então, passaram a casar primeiro no civil e depois na Igreja para resolver o problema. Mas o poder político não estava satisfeito e continuou o ataque, através de D. Teodoro, Bispo madeirense que aconselhado pelo Governo Regional, chamou a Polícia de Segurança Pública para tomar de assalto a Igreja, que entretanto o povo da Ribeira Seca tinha construído e era propriedade da sua associação cívica e não da Diocese. O Comandante da PSP de então, também madeirense, tomou uma atitude ilegal e ocupou a igreja, mas por poucos dias, porque rapidamente voltou para a mão do povo da Ribeira Seca. Martins Júnior continuou suspenso pelo medíocre D. Teodoro, mas continuou a levar a palavra de Deus ao seu rebanho. Seguiu-se um outro Bispo, oriundo do Algarve, ainda familiar directo de Cavaco e Silva, que não teve coragem para lhe retirar a suspensão, certamente com medo de perder os dinheiros que recebia do poder político. Finalmente este também resignou e o seu substituto, o actual Bispo do Funchal, D. Nuno Brás, resolveu rapidamente. Falou com o Padre Martins Júnior e tudo ficou resolvido. Curiosamente a Igreja da Ribeira Seca deve ser a única Igreja católica madeirense que não foi nem financiada pela Diocese, nem pelo poder político, mas exclusivamente pelo seu povo.
De salientar que enquanto pároco, Martins Júnior nunca cobrou um único tostão ou cêntimo ao seu povo. Vivia do seu ordenado de professor e isso incomodava o clero madeirense, ou seja nunca vendeu os sacramentos…
Queremos salientar outra perseguição de que o meu grande amigo Martins Júnior foi vítima: Foi perseguido pela Assembleia Legislativa da Madeira que o expulsou de deputado com acusações falsas, impróprias de representantes do povo madeirenses, Os Deputados do PPD fizeram-lhe várias acusações, injustas e que demonstraram o dom para a mentira daquele grupo parlamentar, mas como tinham maioria absoluta, julgavam que tinham o poder, para o expulsar da Assembleia, mas desta vez enganaram-se, recorreu da decisão do plenário da Assembleia Regional para o Tribunal Constitucional e ganhou.
Já antes, quando a Assembleia Regional ainda era no Salão Nobre do edifício da antiga Junta Geral, o Padre Martins foi agredido por um outro deputado, do PPD, que numa atitude de cobardia negou o acto e uma testemunha, um outro deputado também do PPD, negou. (1)Tratou-se de Egídio Pita, o deputado agressor.
Sem dúvida que esta foi uma das maiores vergonhas porque passou a Assembleia Legislativa da Madeira, que obedecia cegamente em tudo ao que o Presidente do Governo de então, Alberto João Jardim, mandava fazer. Acho mesmo que a actual Presidência da Assembleia Legislativa da Madeira, deveria pedir desculpas póstumas, públicas, ao Padre Martins Júnior por tão ignóbil acto.
Por aqui me fico, por agora, para que o povo madeirense fique sabendo que o Padre José Martins Júnior foi um homem sério, honesto que defendeu sempre, os mais oprimidos, os mais fracos, que praticou o evangelho, nunca se limitando a dizer «façam aquilo que eu digo e não o que eu faço». Ele fez o BEM. Foi Presidente da Câmara Municipal de Machico. No período revolucionário designado por PREC, foi acusado de ter feito um julgamento político em Machico, mas curiosamente os juízes eram ou passaram a ser membros do PPD.
Muito mais haverá para dizer, mas quero apenas lembrar algumas das injustiças a que foi sujeito por dois poderes fortemente implantados na Madeira e que viveram à sombra da própria Igreja. Refiro-me ao poder religioso que, ele próprio, condenava todo o Evangelho e o poder político que vivia à sombra dos três Bispos referidos.
Agressores do padre Martins:(1)
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Grande consciência de classe dos motoristas de autocarros na Madeira. Albuquerque diz que não negocia com o sindicalista do Continente a quem chama de comunista
