A maior das loucuras, disse o grande humanista a dado passo, é querer ser-se sensato num mundo de cegos, loucos e bárbaros.
Releio uma obra que será sempre
de referência para quem aprofunde
o saber das Humanidades: o Elogio
da Loucura, de Erasmo de
Roterdão. Este célebre ensaio de
1509 (editado em Paris, em 1511,
com grande sucesso e alargado
debate) é uma sátira filosófica,
emocionada e lúcida sobre o estado
de insânia, vilania e crueza a que
pode chegar o género humano.
A maior das loucuras, disse o
grande humanista a dado passo, é
querer ser-se sensato num mundo
de cegos, loucos e bárbaros. Uma
verdade cristalina que se aplica
como uma luva ao nosso presente
tempo de cinzas.
Tenho visto e lido, com crescente
desgosto, debates televisivos e
notícias sobre o “estado da Nação”,
Çagelado por uma campanha
organizada em escala inaudita pela
ignomínia anti-humanista e pelo
crescendo de desumanização a que
chegou a política. É a mais baixa das
políticas: xenófoba, odiosa,
salazarenta, que já nem esconde ao
que vem. Trata-se de uma verdadeira
cruzada que estes novos bárbaros
apregoam: anti-humanista,
antidemocrática, anti-Estado social,
antidireitos dos trabalhadores e até
mesmo, na sua sanha contra o valor
da fraternidade, o mais possível
anticristã na sua essência.
Todos sabemos que o regime
democrático, que tem tantas
imperfeições, precisa de
aprofundamento social, cultural,
ecológico, etc., estabelecendo
direitos e deveres e fazendo
cumprir escrupulosamente a
Constituição. Mas de certeza que
não precisa de conspiradores
“anti-sistema”, que o minam com
impune descaro...
A tolerância e partilha que os
valores constitucionais ainda
asseguram têm de ser um tampão
contra a barbárie. A defesa dos
grandes valores da ética, da
estética, da cultura de partilha, da
sustentabilidade ambiental e da
mais elementar dignidade humana
continuam a assumir-se como o
imperativo que une a grande
maioria das pessoas contra a
barbárie neofascista que avança.Leia-se, pois, o Elogio da Loucura
à luz do nosso tempo. Na nossa
legítima diversidade de pensar,
sejamos loucos lúcidos, e não
cúmplices na indiferença — como
era Erasmo de Roterdão, que
enfrentou as injustiças do seu
século — e cerremos fileiras contra
estes profetas do ódio à solta, e da
intolerância mais abjecta que
envergonham o 25 de Abril e a
nossa democracia.
Vítor Serrão

Coelho grande louco merece ser elogiado. Viva Coelho e Coelhinha.
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