A história da Inquisição no Porto
Por carta de 30 de junho de 1541, o rei D. João III ordenou ao bispo do Porto, D. Frei Baltasar Limpo, que instituísse um tribunal do Santo Ofício na cidade. Umas casas da Rua Escura, pertencentes a Fernão Aranha e sua
mulher, Catarina Seixas, foram requisitadas e nelas se
instalaram os cárceres da Inquisição. A 20 de outubro,
de 1542, aquele prelado escreveu ao rei informando-o
de que “ao presente estão sentenciadas para ir ao cadafalso perto de 40 pessoas”. O auto de fé realizou-se no
dia 11 de fevereiro de 1543, “em um campo desta cidade
onde estava a Porta do Sol”. Foi o único auto de fé que
se realizou no Porto e decorreu, segunda uma testemunha da época, “socegado, com bom ordem que nele
houve, e poz grande espanto às gentes da terra que
nunca outra tal viram”. Passados poucos meses (julho
de 1547), o tribunal foi extinto nesta cidade.
A cidade no tempo
de Luís Vaz de Camões (séc.XVI)
Como seria o Porto no tempo de Camões (1524/1580)? A pergunta ocorreu-nos ao passar os olhos por um folheto publicado no Porto em 1925 , para
assinalar os supostos quatrocentos anos
do nascimento do poeta. O autor do folheto, anónimo, admite que o autor de
“Os lusíadas” terá passado pela nossa cidade, no que não acreditamos.
O que levou o autor do folheto a chegar àquela conclusão foi uma informação dada no século XVI pelo “licenciado” Francisco Dias que, em 1548, foi
colocado no Porto como corregedor da comarca e por cá se manteve durante
35 anos. Nesse período de tempo, escreveu umas “Memórias de coisas que
aconteceram nesta cidade depois que
vim a ela”.
No capítulo em que alude ao ano em
que chegou ao Porto, Francisco Dias
diz-nos somente que então residia
nesta cidade um fidalgo chamado Simão Vaz de Camões e sua mulher,
dona Francisca Brava, os quais “tiveram uma filha que morrera”.
Agora, seria aquele Simão Vaz de Camões o pai do poeta? Duvidamos. Ao
que parece, trata-se de um parente
afastado do pai de Luís Vaz de Camões,
provavelmente um afilhado. Segundo
as mais avalizadas opiniões, é hoje assente que Camões terá nascido no ano
de 1524. E como seria o Porto do tempo do nosso poeta maior?
Pode dizer-se que era uma próspera
cidade de mercadores e mesteirais. Estes viviam arruados nas artérias que
levavam os nomes dos respetivos ofícios: surradores de peles, nos Pelames;
caldeireiros e anzoleiros, na Rua dos
Caldeireiros, antes da Ferraria de
Cima; ourives , na Rua da Ourivesaria,
entretanto desaparecida e que ficava
junto à ermida de S. Nicolau, onde os
fabricantes de ouro e prata tinham o
seu altar sob a proteção de Santo Elói;
ferreiros e fabricantes de espadas na
Rua da Bainharia, antiga de Ferraris,
ou dos Ferreiros.
A Rua dos Mercadores tem este
nome porque era nela que habitavam
os homens de negócios e que ali tinham “as suas boticas”. No século
XVI, era a rua mais importante do burgo, ao ponto de gozar, tal como acontecia com a Rua Chã, do “privilégio da
isenção do tributo da aposentadoria
real”, o que significa que os moradores
daquelas artérias não eram obrigados a
receber nas suas casas o rei e os da sua
comitiva, quando viessem à cidade ou
por ela estivessem de passagem”.
Em 1547, Luís Vaz de Camões tinha
pouco mais de vinte anos. Nesse ano, é extinto, no Porto, o Tribunal do Santo Ofício (ler caixa), o que foi considerado na época como um dos principais
fatores para a modernidade da cidade.
Por 1560, chegam ao Porto os primeiros padres da Companhia de Jesus, os
jesuítas. Instalam-se numa viela no
Barredo, na Ribeira, que receberia
mais tarde o nome de Francisco de Borja, que chefiava o pequeno grupo de religiosos. Os padrões da cultura, da educação, da instrução, vão mudar a partir
daí no então restrito panorama cultural do burgo.
O centro da atividade mercantil e cívica da urbe centrava-se na Praça da Ribeira. Dizem relatos de viajantes que
“por essa época a praça era quadrada”
e, no dizer de um dos cronistas, “tinha
alguns cubiertos”. Estes cobertos eram
semelhantes àqueles que ainda hoje
existem em Miragaia. Atente o leitor
nesta curiosa descrição do que era a Praça da Ribeiro nos meados do século
XVI: “Quem descia da Rua dos Mercadores topava logo ao fundo, e à mão direita, com os cobertos da Ribeira. Andavam eles aforados e os seus possuidores pagavam à Câmara o espaço da
praça que ocupavam. Além da ponte do
rio da Vila, ficavam as estalagens de
Pantaleão de Vasconcelos, também foreiras à Câmara. Olhando para o rio, sucediam-se as boticas ou tendas de variado comércio”.
Mas o século XVI, mais do que um período de desenvolvimento comercial,
foi também uma época de profunda
inovação urbanística e cultural. A velha urbe medieval enriqueceu bastante nos séculos passados, com os tratos
de comércio e a atividade produtiva dos
mesteirais, mas por meados do século
XVI assiste-se ao ressurgimento de um
novo estilo de vida , a que não são indiferentes as ideias novas que os nossos
mercadores assimilavam numa Europa renascentista. E é dessa forma que o
Porto do tempo de Luís de Camões começa a transformar-se gradualmente
na cidade mais europeia de Portugal. (JN Germano Silva)
Ufa, pensei que ele ia falar da ponte ‘Dom’ Luís
ResponderEliminarEle está a se referir ao actual hereje José Manuel Coelho
EliminarLá está o "padre das esmolinhas" a se meter com o Coelho!
Eliminar