domingo, 7 de julho de 2024

A cidade do Porto no tempo de Luís Vaz de Camões

 A história da Inquisição no Porto

 Por carta de 30 de junho de 1541, o rei D. João III ordenou ao bispo do Porto, D. Frei Baltasar Limpo, que instituísse um tribunal do Santo Ofício na cidade. Umas casas da Rua Escura, pertencentes a Fernão Aranha e sua mulher, Catarina Seixas, foram requisitadas e nelas se instalaram os cárceres da Inquisição. A 20 de outubro, de 1542, aquele prelado escreveu ao rei informando-o de que “ao presente estão sentenciadas para ir ao cadafalso perto de 40 pessoas”. O auto de fé realizou-se no dia 11 de fevereiro de 1543, “em um campo desta cidade onde estava a Porta do Sol”. Foi o único auto de fé que se realizou no Porto e decorreu, segunda uma testemunha da época, “socegado, com bom ordem que nele houve, e poz grande espanto às gentes da terra que nunca outra tal viram”. Passados poucos meses (julho de 1547), o tribunal foi extinto nesta cidade.

A cidade no tempo de Luís Vaz de Camões (séc.XVI)

 Como seria o Porto no tempo de Camões (1524/1580)? A pergunta ocorreu-nos ao passar os olhos por um folheto publicado no Porto em 1925 , para assinalar os supostos quatrocentos anos do nascimento do poeta. O autor do folheto, anónimo, admite que o autor de “Os lusíadas” terá passado pela nossa cidade, no que não acreditamos. O que levou o autor do folheto a chegar àquela conclusão foi uma informação dada no século XVI pelo “licenciado” Francisco Dias que, em 1548, foi colocado no Porto como corregedor da comarca e por cá se manteve durante 35 anos. Nesse período de tempo, escreveu umas “Memórias de coisas que aconteceram nesta cidade depois que vim a ela”. No capítulo em que alude ao ano em que chegou ao Porto, Francisco Dias diz-nos somente que então residia nesta cidade um fidalgo chamado Simão Vaz de Camões e sua mulher, dona Francisca Brava, os quais “tiveram uma filha que morrera”. Agora, seria aquele Simão Vaz de Camões o pai do poeta? Duvidamos. Ao que parece, trata-se de um parente afastado do pai de Luís Vaz de Camões, provavelmente um afilhado. Segundo as mais avalizadas opiniões, é hoje assente que Camões terá nascido no ano de 1524. E como seria o Porto do tempo do nosso poeta maior? Pode dizer-se que era uma próspera cidade de mercadores e mesteirais. Estes viviam arruados nas artérias que levavam os nomes dos respetivos ofícios: surradores de peles, nos Pelames; caldeireiros e anzoleiros, na Rua dos Caldeireiros, antes da Ferraria de Cima; ourives , na Rua da Ourivesaria, entretanto desaparecida e que ficava junto à ermida de S. Nicolau, onde os fabricantes de ouro e prata tinham o seu altar sob a proteção de Santo Elói; ferreiros e fabricantes de espadas na Rua da Bainharia, antiga de Ferraris, ou dos Ferreiros. A Rua dos Mercadores tem este nome porque era nela que habitavam os homens de negócios e que ali tinham “as suas boticas”. No século XVI, era a rua mais importante do burgo, ao ponto de gozar, tal como acontecia com a Rua Chã, do “privilégio da isenção do tributo da aposentadoria real”, o que significa que os moradores daquelas artérias não eram obrigados a receber nas suas casas o rei e os da sua comitiva, quando viessem à cidade ou por ela estivessem de passagem”. Em 1547, Luís Vaz de Camões tinha pouco mais de vinte anos. Nesse ano, é extinto, no Porto, o Tribunal do Santo Ofício (ler caixa), o que foi considerado na época como um dos principais fatores para a modernidade da cidade. Por 1560, chegam ao Porto os primeiros padres da Companhia de Jesus, os jesuítas. Instalam-se numa viela no Barredo, na Ribeira, que receberia mais tarde o nome de Francisco de Borja, que chefiava o pequeno grupo de religiosos. Os padrões da cultura, da educação, da instrução, vão mudar a partir daí no então restrito panorama cultural do burgo. O centro da atividade mercantil e cívica da urbe centrava-se na Praça da Ribeira. Dizem relatos de viajantes que “por essa época a praça era quadrada” e, no dizer de um dos cronistas, “tinha alguns cubiertos”. Estes cobertos eram semelhantes àqueles que ainda hoje existem em Miragaia. Atente o leitor nesta curiosa descrição do que era a Praça da Ribeiro nos meados do século XVI: “Quem descia da Rua dos Mercadores topava logo ao fundo, e à mão direita, com os cobertos da Ribeira. Andavam eles aforados e os seus possuidores pagavam à Câmara o espaço da praça que ocupavam. Além da ponte do rio da Vila, ficavam as estalagens de Pantaleão de Vasconcelos, também foreiras à Câmara. Olhando para o rio, sucediam-se as boticas ou tendas de variado comércio”. Mas o século XVI, mais do que um período de desenvolvimento comercial, foi também uma época de profunda inovação urbanística e cultural. A velha urbe medieval enriqueceu bastante nos séculos passados, com os tratos de comércio e a atividade produtiva dos mesteirais, mas por meados do século XVI assiste-se ao ressurgimento de um novo estilo de vida , a que não são indiferentes as ideias novas que os nossos mercadores assimilavam numa Europa renascentista. E é dessa forma que o Porto do tempo de Luís de Camões começa a transformar-se gradualmente na cidade mais europeia de Portugal. (JN Germano Silva)

3 comentários:

  1. Ufa, pensei que ele ia falar da ponte ‘Dom’ Luís

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    1. Ele está a se referir ao actual hereje José Manuel Coelho

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    2. Lá está o "padre das esmolinhas" a se meter com o Coelho!

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