segunda-feira, 27 de outubro de 2025

A mentira, servida como notícia, por jornalistas vendidos tornou-se o caldo de cultura para a criação do novo Partido Média CHEGA


"Não era preciso um Salazar, eram precisos três para pôr o país na ordem"

https://www.noticiasaominuto.com/politica/2876763/nao-era-preciso-um-salazar-eram-precisos-tres-para-por-o-pais-na-ordem

 Salazar não foi apenas o ditador que mais tempo governou Portugal. Foi, também, um dos maiores criminosos políticos da história europeia. Sob o seu regime, ergueu-se um país de medo, censura e morte. Mais de cento e cinquenta mil vidas foram sacrificadas pela máquina repressiva do Estado Novo, sem contar com os que morreram de fome, de doença, de parto, ou nos campos de batalha coloniais. Outros duzentos mil regressaram mutilados, amputados da guerra e da dignidade.

 Mas o horror não foi apenas físico, foi também moral. A corrupção do regime não se media em malas de dinheiro, mas em monopólios e favores.

 O ditador escolhia a dedo cinco grandes grupos económicos, os "amigos do regime", e entregava-lhes o país. Sob a lei do condicionamento industrial, cada sector produtivo estava reservado a um círculo de poderosos. A economia portuguesa tornou-se uma quinta privada onde a miséria dos trabalhadores era o adubo que alimentava o luxo de poucos. Salários baixos, greves proibidas, sindicatos extintos, o medo substituía o contrato social.

 E, como sempre, a propaganda fez o resto. A mentira, servida como notícia, tornou-se doutrina.

  A censura era o filtro da realidade e os jornais altar do regime. O jornalismo, quando abdica da verdade, torna-se cúmplice da tirania. E hoje, quando os grandes media voltam a dar palco à intolerância e ao revisionismo, o espectro do salazarismo renasce, não em fardas, mas em talk shows e "entrevistas" que mascaram o veneno de ideologias que já mataram demasiado.

 O neofascismo português é, em grande parte, uma criação mediática. Há empresários que o financiam, há televisões que o normalizam, há jornalistas que o desculpam. E todos juntos constroem um novo partido nacional: o Partido Media/Chega. Deste conluio, poucos são inocentes. Apenas os que morreram por falar livremente, os operários cujo nome repousa no mural do Aljube, permanecem puros.

  Assistir hoje a esta encenação grotesca, a manipulação mediática do ódio e da ignorância, é ver a história repetir-se em câmara lenta. E testemunhar a profanação da memória dos mortos. O filósofo escreveu que, enquanto houver capitalismo, nem os mortos estarão a salvo. E tinha razão: a corrupção não se esgota na morte, apenas muda de formato.

 Portugal não precisa de novos ditadores, precisa de memória, de justiça e de coragem. Porque um país que se esquece do sangue que o fundou, acaba sempre por servir os mesmos senhores.

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