A Polícia Judiciária realizou, na manhã desta terça-feira, uma vasta operação no Alentejo destinada a desmantelar uma alegada rede de exploração laboral, extorsão e maus-tratos a imigrantes. A intervenção policial envolve o cumprimento de mais de duas dezenas de mandados de detenção.
10 militares da GNR e um agente da PSP detidos em megaoperação da PJ contra tráfico humano
Pelo menos 45 trabalhadores agrícolas imigrantes viviam em condições miseráveis e desumanas.
https://www.agroportal.pt/gnr-repudia-atos-de-10-militares-detidos-pela-pj-caso-se-confirmem-suspeitas/
Rede de tráfico de pessoas explorava centenas de imigrantes no Alentejo. Dez GNR e um PSP entre os detidos
São centenas de vítimas de vários crimes e a estas poderão somar-se outras já que, muitas vezes, é isso que acontece em processos envolvendo redes violentas como aquele que levou a Polícia Judiciária (PJ) a desencadear, ontem, uma operação em larga escala no Alentejo. A investigação foi iniciada, em 2023, por suspeitas de crimes de auxílio à imigração ilegal, falsiÆcação, fraude Æscal e branqueamento de capitais, mas também tráÆco de pessoas, conÆrmou ao PÚBLICO fonte oÆcial. Ontem, Æcaram detidos 17 suspeitos de apoiar ou pertencer a um grupo que explorava centenas de trabalhadores na agricultura. Entre os detidos há dez militares da GNR e um elemento da PSP, depois de os inspectores terem estado em pelo menos quatro cidades para o cumprimento dos cerca de 50 mandados de busca e dos 17 mandados de detenção: Portalegre, Figueira da Foz, Porto e Beja. Segundo a PJ, esta rede “aproveitava-se da vulnerabilidade dos trabalhadores, explorandoos, cobrando alojamentos e alimentação e mantendo-os sob coacção através de ameaças, havendo mesmo vários episódios de ofensas à integridade física”. Foi em Cabeça Gorda, Beja, que se centrou a operação, acompanhada pelas Equipas Multidisciplinares Especializadas (EME) para assistência às vítimas de tráÆco de seres humanos. Nem a presidente da Junta de Freguesia de Cabeça Gorda nem o presidente do município de Beja estiveram disponíveis para falar com o PÚBLICO sobre este caso. A EME do Alentejo prestou assistência directa, conÆrmando que os trabalhadores são vítimas identificadas de tráÆco de pessoas para fins de exploração laboral. “A equipa esteve presente durante as inquirições [das vítimas] para assegurar a [sua] estabilização emocional e avaliar as suas necessidades mais imediatas”, disse Marta Pereira, coordenadora nacional das Respostas de Assistência a Vítimas de Tráfico de Seres Humanos da APF – Associação para o Planeamento da Família. “Nesta fase inicial ainda não é possível determinar com precisão quantos trabalhadores poderão ter sido alvo de tráfico de seres humanos para exploração laboral, maus tratos ou condições análogas à escravidão”, acrescenta. “As que foram identificadas correspondem apenas ao grupo presente no local da operação, e o número poderá aumentar à medida que mais pessoas procurem ajuda ou sejam sinalizadas pelos serviços”, explica a responsável. “É provável que nos próximos dias surjam novas vítimas” ainda não identificadas. O tráfico de pessoas pressupõe ameaças e coacção, restrições à liberdade de movimentos, ficando as pessoas reféns dos seus exploradores, que lhes subtraem os documentos pessoais e o dinheiro e lhes limitam os contactos com o exterior. “Ao longo de vários meses, a PJ realizou inúmeras diligências investigatórias que permitiram obter indícios e elementos incriminatórios, bem como traçar o quadro geral do funcionamento deste grupo violento, de estilo mafioso”, adiantou ainda a PJ, que contou com a colaboração da GNR nesta operação, denominada Safra Justa. Os estatutos da GNR determinam que suspeitos de crimes dentro da GNR só podem ser detidos por superiores hierárquicos. Num comunicado, o Comando Geral da GNR repudiou os actos de que são suspeitos elementos seus. “Confirmando-se as suspeitas que levaram à sua detenção, com práticas violadoras dos mais elementares princípios e valores que ditam a conduta dos militares da Guarda enquanto servidores da lei, a GNR tudo fará para que os autores sejam criminalmente responsabilizados”, refere a nota à comunicação social. A Direcção Nacional da PSP conÆrmou que o agente detido estava de baixa há 14 meses e assegura que, assim que tiver informação sobre os crimes de que aquele é indiciado, “serão desenvolvidos os procedimentos disciplinares adequados e preventivos”. Marta Pereira explica que “para reunir todos os elementos necessários para o esclarecimento da verdade e a responsabilização dos suspeitos”, mas também para “garantir condições de protecção” das vítimas, o trabalho conjunto entre PJ, Ministério Público, EME e demais entidades “é fundamental”. “Alguns [dos trabalhadores] conseguiam comunicar em inglês, enquanto outros falavam apenas hindi, razão pela qual a presença de intérpretes foi fundamental para a compreensão dos seus relatos”, disse. Seja como for, a condição das pessoas sinalizadas é de “grande fragilidade emocional, medo ou confusão”, diz. “Podem não conseguir, de imediato, expressar de forma clara ou coerente tudo o que sofreram”. Muitas vezes precisam de tempo, segurança e apoio especializado. “O medo de represálias por parte dos suspeitos é muito comum, o que pode inicialmente limitar a sua capacidade de colaborar.” Os 17 suspeitos serão hoje presentes a juiz no Tribunal Central de Instrução Criminal em Lisboa. (público)
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