quinta-feira, 22 de março de 2018

Homenagem ao camarada Angélica de Santa Cruz recentemente falecido

Morreu o Angélica

O seu verdadeiro nome, porém, ainda que praticamente desconhecido, era José Luís de Sousa Freitas, filho, neto, bisneto, tetraneto, sobrinho e irmão de pescadores, espécie hoje em dia em vias de extinção em Santa Cruz e em quase toda a Região. 
Angélica, meu amigo pessoal e de toda a minha família desde a sua infância, filho do fabuloso arrais Freitinhas, era um homem de uma inteligência rara, que conheceu como ninguém os mares, os fundos e as espécies marinhas, melhor que a superfície emersa das nossas ilhas. 
Conhecia como as linhas das suas mãos os picos, as crateras, os corredores e as bacias submersas, as correntes marítimas, as temperaturas das águas, como se tudo fizesse parte de um livro aberto à leitura dos seus olhos e à interpretação do seu cérebro. 
Aqui há uns dois ou três anos, Angélica saiu sozinho, no começo de uma noite sem lua, da foz da ribeira de São Pedro, na sua pequena lancha Delta, designação tirada do nome da companheira dos seus dias e mãe dos seus dois filhos. Aproou ao mar da meia-cale, onde a profundidade ultrapassa por vezes os dois mil metros. Meteu uma pota de um quilo no anzol e arreou cento e cinquenta metros de linha. Prendeu-se-lhe no anzol um atum, rabilho ou patudo, já não me lembro, mas lembro-me de que, pela madrugada, Angélica desembarcou na lota um atum de cento e vinte quilos, o dobro do peso do solitário Angélica… 
Com mais de sessenta anos, Angélica repetiu, sessenta anos depois, a proeza de um outro pescador excepcional e temerário: o Augusto, filho do Tio Augusto, que também capturou um patudo com cerca de duzentos quilos, numa canoa à vela e a remos, também sozinho, mas aí o pescador tinha apenas vinte anos de idade… 
Do ponto de vista político, Angélica e a sua família foram sempre homens e mulheres de esquerda, gente do povo que amou o povo e lutou sempre pelo povo. Angélica integrou sempre as listas eleitorais do nosso Partido na Região Autónoma da Madeira. 
Em nome do PCTP/MRPP e no meu nome pessoal, apresento a toda a família enlutada e a todos os amigos do meu amigo Angélica os meus mais sentidos e profundos sentimentos de pesar.

 (Arnaldo Matos)

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