O outro lado da meia-noite!
Há um país que infelizmente os nossos governantes não querem ver.
Um país que não aparece nas conferências de imprensa, nem nos corredores do poder.
Um país que se esconde quando se apagam as luzes e se fecha a porta de casa.
E esse País está refugiado naquilo que designo: “no outro lado da meia-noite”. E é aí que mora a verdade.
É aí que mora a dor surda de quem trabalha o mês inteiro e, ainda assim, não sabe se chega ao fim dele.
É aí que mora todas aquelas famílias que fazem das tripas coração para suportar e elevadíssimo custo de vida.
É aí que mora o silêncio dos pais que mentem à mesa, dizendo que não têm fome, só para deixar mais um prato para os filhos.
É aí que mora a humilhação de quem conta moedas no balcão da farmácia.
É aí que mora a ansiedade de quem olha o frigorífico vazio e pensa: “como é que vou fazer amanhã?”
Este país não vive. Sobrevive. Com esforço. Com medo. Com vergonha e com uma dignidade silenciosa que devia envergonhar quem toma decisões de cima para baixo, sem nunca descer à realidade.
E o mais revoltante? É que este país trabalha. Levanta-se cedo. Chega tarde a casa. Faz horas extra. Aguenta tudo. Cala tudo e como já disse “faz das tripas coração” todos os dias.
As famílias portuguesas, incluindo as das regiões autónomas, estão a viver no fio da navalha. E quem devia proteger, governa de olhos fechados e de fachada.
Fala-se de “crescimento económico”, de “recuperação”, de “otimismo nos mercados”.
Mas isso não mata a fome. Não paga a renda. Não aquieta o medo.
As soluções que aparecem são curtas. São técnicas. São medidas que chegam tarde, ou então não chegam a quem mais precisa.
Medidas que vêm escritas em PowerPoints, mas não cabem dentro de uma casa humilde com um, dois, três filhos ou mais filhos e um salário mínimo.
Este “O outro lado da meia-noite” é um grito abafado. Um lamento coletivo de um povo que está a ser empurrado para o limite.
Um país que se está a esquecer de quem o constrói todos os dias com as mãos, com o suor e com o coração.
Por isso digo que é urgente devolver humanidade à política. É urgente governar com os pés no chão e com o coração no lugar certo.
Porque um país que abandona quem trabalha, quem cuida, quem resiste, é um país que já perdeu o essencial: a alma.
Enquanto esse lado sombrio da meia-noite continuar a ser ignorado, cá estarei para dar nome às dores. Para dar rosto aos silêncios e para ser voz onde há silêncio.
Porque a política não é para quem quer poder.
É para quem tem coragem de servir.
Bom domingo para todos,
Filipe Sousa
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