sábado, 6 de maio de 2023

A matança do 27 de Maio continua a ser assunto tabu em Angola

 

Agora que o inferno de mentiras do regime angolano se abriu sem fissuras diante dos olhos de toda a gente ao descobrir-se a falsidade das ossadas das vítimas, é hora de as ilusões caírem de vez.


Ficou definitivamente escancarado que no reino do MPLA tudo é possível. Ali ergue-se um gigantesco e sombrio castelo de falsidades comandado por uma força de orientação política que já deu provas suficientes de só conhecer a sua verdade, a que vê reflectida no seu próprio espelho.

Acompanhei atentamente toda a teatralidade de simulações que o regime político montou nos últimos anos em torno da chamada Comissão de Reconciliação. Como sempre, este órgão filtrou para o exterior das suas fronteiras internas muitos acenos e cumprimentos hipócritas tanto de Francisco Queiroz, ex-titular da pasta da Justiça, como doutros seus pares. Todos se esforçaram por aparentar uma falsa dignidade, fazendo crer ao grande público que estavam ali para honrar uma solução de justiça para os mortos do 27 de Maio e seus familiares consumidos pela dor.

Como era previsível, pelo menos aos meus olhos, a gestão dos dossiers sobre o conflito do 27 de Maio por esta Comissão resultou em expectativas desanimadoras. Nenhum dos métodos aplicados noutras geografias políticas do mundo, que tornaram possível avançar com sucesso na direcção de um entendimento entre o Estado e as vítimas da violência, em Angola tal possibilidade ficou muito aquém de se concretizar. O Governo e o MPLA nunca denotaram disposição para cooperar em bases democráticas, senão pela imposição das suas regras exclusivas, sem a participação de amplos sectores da sociedade. Esta forma de agir revela que os altos responsáveis têm as orelhas entupidas pela insustentável arrogância que lhes advém do exercício do poder omnipotente.

Contra esta pertinácia e insensibilidade só existe uma resposta: usar a “força de muita retórica”, como diria Machado de Assis, o grande mestre da literatura brasileira, e meter nos ouvidos surdos dessa gente “um sopro de verdade”[1]. Pode ser que, desta maneira, ao estampar-se-lhes na consciência coisas sérias da vida que preocupam os cidadãos angolanos, esses senhores parem para pensar um pouco, com seriedade, e deixem de querer enganar o mundo com o seu interminável cortejo de fatuidades, mentiras e particularismos partidários.

A Comissão de Reconciliação lamentavelmente simbolizou o ápice de um golpe profundo contra as vítimas e os sobreviventes do 27 de Maio por todo o aparato de propaganda e desinformação que a cercou desde o início dos seus trabalhos. Tudo ali foi criminosamente ocultado. A Comissão furtou-se a fazer o resgate da memória das vítimas e das chacinas, como também a revelar a identidade dos algozes da ditadura de Agostinho Neto.

Se há que apontar um responsável por todo o caudal se enganos que se ofereceu ao país e ao mundo, tal responsável tem um nome: general João Lourenço, presidente de Angola. Ele tentou cortar o nó górdio que embaraça o MPLA há décadas, que é a ferida não cicatrizada produzida pela hecatombe do 27 de Maio. Para isso, socorreu-se de um expediente astucioso. Fez do pedido de perdão a solução menos vexatória para resolver o imbróglio das matanças e salvar a face do seu regime político. Sucede, porém, que o pedido não teve nada de sincero, é falso até à sua raiz. Tem o sabor de uma traição. Somente os adoradores de contos fantásticos se regozijaram com o perdão e não entenderam que o regime em todo este tempo jogou com o ânimo e a credulidade da maioria das pessoas e com as suas esperanças. Adulou-as e enganou-as com falsas promessas.

Agora que o inferno de mentiras do regime se abriu sem fissuras diante dos olhos de toda a gente ao descobrir-se a falsidade das ossadas das vítimas, é hora de as ilusões caírem de vez. Que se encare de frente o que significa a brutal e cruel realidade do mandato de João Lourenço. O MPLA por ele capitaneado não é diferente do que sempre foi nos reinados dos seus antecessores, especialmente no reinado de Agostinho Neto, o grande tirano. Pelos gestos estereotipados do seu rosto e do seu corpo e, até, pela rigidez do seu sorriso e das suas palavras, Lourenço faz lembrar o “rei-mito”. Basta estar atento aos seus tiques políticos para se perceber a pele que veste. É o que eu chamo a pele de duplo de Neto. É uma pele que Lourenço cinge com orgulho, sobretudo nos momentos em que se mira ao espelho.

A compulsão de consagrar e exaltar a figura de Neto e de o sacralizar, persiste obsessiva no consulado de Lourenço. Ele gosta de imitar o seu grande líder e mentor na glória e na paixão de mandar. Neto e Lourenço têm muitos pontos em comum, na vaidade, no hábito e no vício de dominar. Foi esta jactância de poder que embriagou Neto e gerou em torno de si a estética do culto à personalidade. Do mesmo modo que embriaga Lourenço que, cego por tanto narcisismo da sua personalidade, cultiva as aparências em vez da realidade, convencido de ser dono absoluto do poder e tudo lhe ser permitido.

https://jornalf8.net/2023/o-mpla-e-o-27-de-maio-escrementos-do-diabo/

6 comentários:

  1. Os madeirenses não querem saber dessas coisas de pretos

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    1. Os madeirenses são tratados como pretos, tal como em Angola e nem sabem!

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    2. Parece que te enganaste.
      Estás a confundir madeirenses com macacos

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    3. O gilinho era preto, mas com o susto que apanhou ao fugir dos miras chegou à Madeira já meio-preto

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  2. Os madeirenses são tontos como o c#$%WW" Basta dizer que são informados diariamente pelo padre das esmolinhas e pelo meia saca. Duas bestas quadradas. E são governados por aquilo que a Susana Prada não vê nas águas do Funchal

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