Santa Casa de Santa Cruz
Um dia armei-me em sindicalista, convencido que o nível de liberdade que se vive em Portugal admitia a um sindicalista da Policia fazer declarações públicas que denunciassem o estado de algumas situações dúbias existentes na Policia de Segurança Pública. Ingénuo que fui.
As declarações foram publicadas na imprensa, logo, os visados, quais virgens ofendidas, accionaram queixa-crime contra a minha pessoa. Nada de surpreendente nisso. A surpresa veio depois, o Tribunal condenou-me ao pagamento de indemnizações aos visados e também em 400 horas de multa, pagas em trabalho comunitário na Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz. Foram três meses de trabalho diário.
Entrei num mundo novo, estranho, com todas as desconfianças de quem cai de rompante num ambiente que nunca viveu, mas tive a felicidade de conviver com gente maravilhosa, que luta diariamente por uma causa, naturalmente com as tensões próprias de quem vive para fazer sempre o melhor que pode e consegue. Conheci gente boa, muito boa, muito solidária, que me soube incluir no meio e me aceitaram como se fosse um deles. Dediquei-me à causa dos idosos, e dos seus problemas diários. Ria-me com eles, brincava com eles, passeava com eles, partilhava com eles os seus momentos bons e menos bons, e cheguei a chorar com eles. Fiquei muito mais rico como pessoa, como ser-humano. Conheci um mundo que me fascinou.
No final desses três meses estava na hora de terminar esta experiência. Não sabia ao certo se tinha cumprido bem ou mal as minhas funções, essa confirmação veio depois. Fiz uma despedida simbólica a todos os idosos ali residentes, e as lágrimas deles disseram-me que tinha cumprido o meu dever, com dedicação, carinho e ternura para com todos eles. E para todos eles daqui lhes envio o meu agradecimento pessoal por todos os momentos que partilhámos.
Aos funcionários, todos eles, o meu muito obrigado por me terem recebido tão bem, e finalmente, à Provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz o meu agradecimento por me terem dado a possibilidade de conhecer um mundo tão interessante como são as questões da deficiência física e da terceira idade. Muito obrigado a todos, eu vou passando por aí. Grande abraço. (publicada no DN/Madeira no dia 7 de Junho de 2014)
Coelho fazendo trabalho comunitário (foi condenado em 2005 por uma juizinha da treta feita com o regime jardinista no tribunal de Santa Cruz)
Foto da Santa casa da Misericórdia de Santa Cruz onde Cartaxo cumpriu trabalho comunitário por ordem de um juíz do regime
fotomontagem de Herlanda Amado a “Staline de Saias”
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