Morreu Tolentino de Nóbrega, o jornalista sem medo
Morreu Tolentino de Nóbrega, jornalista do PÚBLICO, na madrugada desta terça-feira, vítima de doença prolongada que o impossibilitou de acompanhar as últimas eleições para o Governo Regional no mês passado.
Tolentino de Nóbrega tinha 63 anos, 40 de jornalismo sempre passados na Madeira, que dizia ser “uma terra maravilhosa” apesar de aí ter sido ameaçado várias vezes. “Não tinha medo de denunciar nada”, lembra a colega e amiga Lília Bernardes que diz que “sem Tolentino de Nóbrega o jornalismo não faz sentido na Madeira”.
“Durante 25 anos, o Tolentino escreveu com independência e liberdade. Se houve lugar difícil para se ser jornalista nestes anos foi a Madeira", declara Bárbara Reis, directora do PÚBLICO. "O Tolentino tinha o desafio de ser correspondente num lugar onde havia notícias importantes – para não dizer incríveis – todos os dias. Mas teve a sabedoria de fazer duas coisas: procurá-las e resistir, com um sorriso, às provocações e pressões que, constantemente, o poder regional lhe foi lançando pelo caminho”, acrescenta.
Tolentino de Nóbrega nasceu em Machico na Madeira, em 1952. Estudou na Escola Superior de Artes Plásticas da Madeira e ao longo da sua vida de jornalista, continuou a dar aulas de Geometria Descritiva na escola secundária que foi a antiga Escola Industrial do Funchal. Começou a actividade no jornal Comércio do Funchal aos 20 anos.
Quando recebeu o Prémio Gazeta de 1999, disse não ser um crítico de Alberto João Jardim mas de “todas as formas de autoritarismo e de todas as formas de governo que desrespeitem as liberdades”. E acrescentava: “Sem uma imprensa livre não há democracia. Se há, numa região de Portugal, pressões e coacções contra jornalistas, restrições ao acesso às fontes de informação, não há democracia plena, há défice democrático."
Numa entrevista ao jornal Record afirmou que o mais importante não era, para ele, receber um prémio, mas um prémio para um jornalista que está fora de Lisboa.
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