Boa tarde Ao ex-patrão do meu pai: Aqui fala a filha do homem que você despediu sem dó nem piedade, há cerca de um ano. Você apenas se deve lembrar do processo demorado que lhe levou tempo e alguns milhares, nem sei se você se lembra do nome do meu pai. Mas eu vou fazer questão de lhe lembrar quem ele era. Trabalhou para si mais de 20 anos. Começou como motorista dos seus já extintos camiões. Fazia viagens de 3-4 dias para Lisboa e Algarve todas as semanas, para poder alimentar a família, enquanto eu, na altura pequena, me agarrava à sua roupa a chorar com saudades do meu pai. Sim, porque o meu pai é tão mal educado e violento que a filha chorava na sua ausência. Depois de muitos anos como camionista, você decidiu que lhe ficava mais em conta acabar com os camiões e contratar uma empresa de fora. E convidou o meu pai a passar para o armazém e ser chefe. Ele aceitou claro. Fez um bom trabalho durante uns cinco anos, até que você decidiu começar a cortar no pessoal. Aí sim é que se viu o caráter das pessoas que trabalham para si, e melhor ainda, o seu. Com medo de perderem o próprio emprego e por inveja do lugar do meu pai, decidiram que ele era um alvo a abater. De repente, o meu pai, que sempre foi uma boa pessoa, tornou-se, na boca dos invejosos e cruéis, uma pessoa mal-educada e violenta. Você nem se deu ao trabalho de constatar os factos, meteu-lhe um processo disciplinar sem vencimento e despediu-o. Com 50 anos de idade, sem indemnização, sem fundo de desemprego e sem dignidade, foi assim que os 26 anos de trabalho na sua empresa acabaram. Como qualquer outro em plena consciência, o meu pai tentou combater esta injustiça e gastou do pouco que lhe sobrou para que a justiça fosse feita. E desta parte você deve lembrar-se, pois desta vez você esteve presente, com a única intenção de o mandar embora novamente sem nada. O meu pai lutou e foi massacrado em tribunal por antigos amigos que, de repente, só o viam como o homem que os tratava mal. Houve pessoas que, com medo de serem os próximos, não testemunharam a favor mas mantiveram a dignidade e não testemunharam contra. E houve aqueles que não ficaram calados e defenderam o meu pai como ele merecia (e a estas pessoas mando, desde já, o meu agradecimento por num mundo cheio de hipocrisia terem tido a coragem de falar). O meu pai ganhou o processo como você se deve lembrar, mas claro que não lhe queria pagar o que lhe era devido e você recorreu. Em portas fechadas, não sei o que aconteceu, nem como, mas você ganhou. E agora eu pergunto com a minha inocência no mundo: por que é que, depois deste empate, você é que ganha e o meu pai nem pode recorrer? Como é para si dormir à noite sabendo que o seu trabalhador veio para a rua sem nada e por nada? Quero que saiba, o meu pai era um péssimo funcionário, uma péssima pessoa e mesmo assim conseguiu um novo emprego num armazém. Ele realmente devia ser tudo aquilo que lhe contaram. A minha pergunta para si é: você deu-se ao trabalho de saber os dois lados da história ou o que lhe interessa é apenas a opinião dos seus escovas? Você destruiu a vida de um funcionário que era exemplar, até à data em que lhe resolveram encher os ouvidos. Não espero que com isto você lhe pague. Só quero que o país saiba o poder que lhe deu com as novas leis de trabalho. Quero que saibam a injustiça que foi feita. Quero que um dia isto não possa mais acontecer porque alguém defende a parte fraca desta equação. A todos os que leem neste momento esta carta quero que saibam que este é o país em que vivemos, onde o patrão enriquece à custa da desgraça dos seus trabalhadores. Onde a justiça é aquela que manda o trabalhador embora sem hipóteses de ripostar. É este o país, é esta a justiça? É isto que me espera no futuro? Não vou fazer a diferença, eu sei, mas pelo menos sei que não fiquei calada a ver a vida do meu pai desmoronar.
Ana Sousa.
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«Notem a falta de solidariedade dos próprios colegas de trabalho, a testemunharem em tribunal a favor do patrão. Isto é muito frequente nos tribunais de trabalho do nosso país. Eu próprio nos anos 90 trabalhava no consórcio Nova Pista, (construção do Aeroporto da Madeira). Fui despedido por tentar formar uma comissão de trabalhadores recorri ao tribunal de trabalho do Funchal e tive como testemunhas contra mim os próprios colegas de trabalho que todos os dias me davam palmadinhas nas costas. Até o presidente do Sindicato da Construção Civil Diamantino Alturas (sindicato esse filiado na CGTP imaginem!) era testemunha do patrão contra mim. Fui obrigado a assinar um acordo e sair por conselho do meu advogado Manuel Pegado.Vendo que eu não tinha qualquer hipótese de ganhar o processo aconselhou-me que a melhor coisa para mim seria chegar a um acordo e abandonar a empresa.»
foto do Estadão (S.Paulo)
Carta de uma jovem que perdeu o emprego.
ResponderEliminarPai ,teimoso pai.
Porque não me destes ouvidos e fostes nas conversas dos senhores da cidade, ou movido pelo teu ego.
Porque foste fazer sociedades com outros senhores, quando podias ter seguido com o negocio só da nossa familinha.
Agora perdi o meu lindo tacho , a maninha também ,
Ficamos todos a ver navios ( menos tu claro), mas vais receber o ordenadozinho sequinho.
Pai, porque não me deste ouvidos.
Agora os nossos empregados vão todos para o olho da rua.