Memórias de um dia fatídico
Em Outubro de 1997, 67 jovens de vários pontos da Madeira tentaram a sorte num concurso público para candidatos a guardas florestais. O objectivo era percorrer mais de oito quilómetros entre a Fajã da Nogueira e o Pico do Areeiro, no mínimo tempo possível, para garantir lugar nas 16 vagas existentes. O mau tempo e a falta de condições existentes acabaram por dar um desfecho inesperado a este dia – três mortos e 21 feridos.Foi Gonçalo Pereira que terá pedido que levassem roupa leve, calções e t-shirt porque o trajecto ia ser longo. O Sr. Gonçalo, como todos o tratam, era o responsável pelo percurso e pela prova. O braço direito de Rocha da Silva, director Regional de Florestas.Encontraram-se perto das 8 da manhã no Funchal para cerca das 10h00 darem o início ao percurso. Foi dada a partida e os jovens começaram a prova com alguns chuviscos. Logo no início começaram a perder-se. Com o passar do tempo, as condições meteorológicas agravaram-se. Os candidatos, quase todos de calções e t-shirt, começaram a sentir frio, cansaço e fome. A sinalização do percurso revelou-se deficiente e difícil de detectar no meio do nevoeiro. A agravar o cenário havia apenas três guardas para todo o percurso, sem equipamento de contacto para uma eventualidade.O Pico do Areeiro, o final da prova, era o único local com acesso automóvel. Nesse local estava, desde as 13h00, uma única ambulância preparada para tratar eventuais ferimentos ligeiros.Na corrida contra o tempo estavam Miguel e o melhor amigo, Miguel Ivo. Os dois do Garajau, os dois com pouco mais de 18 anos, ambos tentavam a sorte em nome de um futuro melhor e de empregos estáveis. Mas Miguel começou perceber cedo que o dia podia não correr bem. Duas horas após o início da partida começou a sentir os primeiros sinais de hipotermia. O tempo tinha agravado, entretanto, e a chuva, como contou, parecia alfinetes. Não se via mais de 1 metro e meio. Miguel acabou por dizer ao melhor amigo que precisava de parar para descansar e pediu-lhe que continuasse para não esfriar. Foi a últimas vez que se viram.O alerta às autoridades só aconteceu depois das 17h30, depois da confirmação da primeira morte dada pelo hospital do Funchal. Os meios foram accionados pela Protecção Civil. Gonçalo Pereira, o coordenador do concurso, nunca pediu ajuda e garantiu que tudo estava controlado quando questionado, por telefone, pelo Director Regional de Florestas, que se encontrava num casamento no Funchal.Gonçalo Pereira foi condenado a um ano e meio de prisão com pena suspensa. O Director Regional das Florestas, Rocha da Silva, foi sujeito a uma multa de três mil euros e mantém-se no mesmo cargo.Doze anos depois da subida ao Pico do Areeiro, o “Perdidos e Achados” regressou à Madeira e foi refazer o percurso. Ouvimos sobreviventes, socorristas, a protecção civil. Ouvimos as memórias daquele dia fatídico e foram-nos recusados os pedidos de entrevistas aos responsáveis da prova. A verdade é que passados estes 12 anos há ainda quem não tenha desistido de pedir que seja feita Justiça. (ver DN/Lisboa)
Reportagem da SIC
Em Outubro de 1997, 67 jovens de vários pontos da Madeira tentaram a sorte num concurso público para candidatos a guardas florestais. O objectivo era percorrer mais de oito quilómetros entre a Fajã da Nogueira e o Pico do Areeiro, no mínimo tempo possível, para garantir lugar nas 16 vagas existentes. O mau tempo e a falta de condições existentes acabaram por dar um desfecho inesperado a este dia. O resultado foram três mortos e 21 feridos.
Encontraram-se perto das 8 da manhã no Funchal para cerca das 10h00 darem o início ao percurso. Foi dada a partida e os jovens começaram a prova com alguns chuviscos. Logo no início começaram a perder-se. Com o passar do tempo, as condições meteorológicas agravaram-se. Os candidatos, quase todos de calções e t-shirt, começaram a sentir frio, cansaço e fome. A sinalização do percurso revelou-se deficiente e difícil de detectar no meio do nevoeiro. A agravar o cenário havia apenas três guardas para todo o percurso, sem equipamento de contacto para uma eventualidade.
O Pico do Areeiro, o final da prova, era o único local com acesso automóvel. Nesse local estava, desde as 13h00, uma única ambulância preparada para tratar eventuais ferimentos ligeiros.
Na corrida contra o tempo estavam Miguel e o melhor amigo, Miguel Ivo. Os dois do Garajau, os dois com pouco mais de 18 anos, ambos tentavam a sorte em nome de um futuro melhor e de empregos estáveis. Mas Miguel começou perceber cedo que o dia podia não correr bem. Duas horas após o início da partida começou a sentir os primeiros sinais de hipotermia. O tempo tinha agravado, entretanto, e a chuva, como contou, parecia alfinetes. Não se via mais de 1 metro e meio. Miguel acabou por dizer ao melhor amigo que precisava de parar para descansar e pediu-lhe que continuasse para não esfriar. Foi a últimas vez que se viram.
O alerta às autoridades só aconteceu depois das 17h30, depois da confirmação da primeira morte dada pelo hospital do Funchal. Os meios foram accionados pela Protecção Civil. Gonçalo Pereira, o coordenador do concurso, nunca pediu ajuda e garantiu que tudo estava controlado quando questionado, por telefone, pelo Director Regional de Florestas, que se encontrava num casamento no Funchal.
Gonçalo Pereira foi condenado a um ano e meio de prisão com pena suspensa. O director regional das Florestas, Rocha da Silva, foi sujeito a uma multa de três mil euros e mantém-se no mesmo cargo.
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