Ricardo Salgado
(por Henrique Custódio nosso comentador semanal em Economia Política)
Os desenvolvimentos do caso Espírito Santo não expõem unicamente os malefícios da influência de uma família de banqueiros; também evidenciam o afundamento despudorado do Governo do PSD de Passos Coelho na mixórdia, há muito cozinhada por sucessivos próceres do autodesignado «partido social-democrata».
Encenando indiferença, Passos Coelho não hesitou em transformar a sua incapacidade em pôr o Estado a intervir descaradamente em favor dos Espírito Santo numa indecorosa farronca a afirmar a «independência do Governo» perante os «assuntos privados de um Grupo».
Mas o truque da «independência do Governo» escancarou o jogo ao colocar na direcção do BES (o banco do Grupo) um trio fatal: Vítor Bento, um economista neoliberal que Passos e Cavaco têm vindo a acrisolar (até fazia parte do Conselho de Estado), João Moreira Rato, vindo da empresa que administrava a dívida pública (muita dela comprada/negociada pelo BES) e Mota Pinto, viajando directamente da bancada do PSD para a presidência do dito.
A este trio chama o Governo de Passos uma «equipa independente», «tecnocrática» e «caucionada pelo governador do Banco de Portugal», lui même, o agora tão incensado Carlos Costa e que também tem um passado pelos encobertos meandros da Banca trilhados por gente do «bloco central», PS e PSD, mas com particular relevo para este último. Os governos do PS dedicaram-se mais às empresas de construção civil embora, obviamente, nunca descurando os interesses dos exmos banqueiros.
Muito andou a «família Espírito Santo», desde que o segundo da geração foi um fervoroso apoiante nazi e o conselheiro de Salazar que reunia com ele semanalmente. A nacionalização do BES no 25 de Abril foi mero contratempo e as privatizações abertas por Cavaco Silva, enquanto chanceler, iriam recompor o Grupo em nova ligação estreita ao poder, agora em democracia, o que não impediu que o GES, sob a batuta de Ricardo Salgado, fizesse e desfizesse governos a bel-prazer. Ficaram célebres intervenções suas, seja a determinarem a queda de Sócrates e a entrada da troika, seja a participar (!) num conselho de ministros de Passos, dias antes de ele assumir sérias decisões (gravosas como sempre) perante o País.
O PSD (e em menor exposição o PS) está enterrado até ao pescoço com a Banca, a quem os seus governos foram entregando paulatinamente a influência e as rédeas sobre o poder democrático do País, desembocando nos escândalos BPN e BPP – ambos dirigidos por um formigueiro do PSD – e agora na «solução» do BES, que coloca à frente do banco – e para substituir a «famiglia» Espírito Santo, cujas burlas bancárias a tornaram incompatível com a função – um trio de indefectíveis «laranjas».
Finalmente, o PSD publicitou-se como uma espécie de consigliere da família Espírito Santo.
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