No 25 de Abril: os riscos para a liberdade e para a democracia
«...Perguntem aos donos de offshores, aos que têm dinheiro para pagar o segredo e a fuga ao fisco, para esconder o seu património desta entidade, se eles se incomodam com o fisco. Incomodar, incomodam, mas podem pagar para deixarem de ser incomodados. Já viram algum offshore de uma cabeleireira, de um feirante, de um mecânico de automóveis, de um pequeno empresário que tem um café ou um restaurante, aqueles sobre os quais o fisco actua exemplarmente como se fossem esses os seus inimigos principais?...» (revista Sábado)
Não me espanta ver que, com o tempo, e à medida que os próprios mecanismos do jornalismo – que vive da novidade e que esgota ele próprio rapidamente a novidade, e que não consegue, nem quer, manter o critério da relevância – vão esmorecendo, o "interesse" pelas revelações dos Panama Papers desaparece e vai ficando tudo na mesma. Nas duas últimas semanas vários distintos advogados foram a todos os canais, RTP, SIC, TVI, explicar que os offshores, não sendo uma coisa excelente (esta argumentação ad terroremfica para os autores de blogues "liberais"), são de uma pura legalidade. Já comparei este tipo de argumento com o dos defensores das armas nos EUA: "Não são as armas que matam as pessoas, são as pessoas que matam as pessoas." Aqui é "não são os offshores que levam à fraude fiscal, à evasão fiscal, à lavagem de dinheiro criminoso, da droga, dos subornos, etc., são as pessoas que fazem tudo isso." O instrumento é impoluto, é "legal". Claro que há uma pergunta que tem ainda mais sentido com os offshores do que com as armas: qual é a utilidade económica dosoffshores? E depois outra pergunta: por que razão, havendo tantos meios "legais" de ter guardado o seu dinheiro, sólidos bancos, colchões, cofres na parede, os muito, muito ricos, têm uma espécie de predilecção intensa por esta forma de "legalidade" que são os offshores? É que o mundo dos "mercados" e de muita política capturada por eles, não mobiliza milhares, nem milhões, mobiliza biliões e triliões. Isto é que é amor pela "legalidade"! (Sábado)
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