Padre César Teixeira da Fonte
Em 1936, sendo pároco do Faial e São Roque do Faial, colocou-se ao lado do seu povo contra as determinações de Salazar, durante a Revolta do Leite na Madeira .“A mim, pessoalmente não dizia respeito, mas não podia ficar indiferente, tinha de me interessar pelo povo, se não me interessasse, não era um pároco digno”, diz numa entrevista ao Cónego Tomé Velosa publicada no Jornal da Madeira.
A 11 de setembro de 1936 foi preso pela PIDE e colocado no Lazareto no Funchal. “Quando dormia profundamente, fui acordado por uma forte pancada na porta do quarto, ficando sobressaltado e nervoso mas no mais completo silêncio (…) perguntei ‘Quem está lá?’ O chefe Avelino Pereira respondeu que desejava falar comigo num instante. Abri a porta e ele, entrando armado de pistola, disse-me para acompanhá-lo à esquadra”.
As condições na cadeia do Lazareto eram miseráveis Para além da falta de comida, também faltava o ar. Os presos “aproximavam-se da porta encostando a boca aos orifícios e frinchas para respirarem um pouco”.
Nove meses depois, o padre Teixeira da Fonte foi transferido para a prisão de Caxias em Lisboa. Em julho de 1937 é libertado e no início do ano seguinte regressa à Madeira onde continua a exercer o ofício de pároco do Faial, mas por pouco tempo. O bispo do Funchal em novembro de 1938, “pressionado por forçar tenebrosas, impôs-me a saída dessa mesma paróquia até ao fim do mês e sem mais qualquer colocação, limitando-se a dizer apenas que esta medida era tomada por ele ´por conveniência de serviço´”, escreveu.
“Em princípios de dezembro de 1938 saí, de madrugada cedo e ocultamente da paróquia do Faial em cumprimento daquela cruel e injusta intimação do prelado e logo, no mesmo dia, embarquei rumo a Lisboa”.
Em Lisboa inscreveu-se logo no curso de Direito que concluiu em 1943 com distinção. Exerceu a advocacia como serviço aos pobres e aos presos políticos. Oferecia o seu trabalho aos mais necessitados sem cobrar. “Nos honorários dele, ele foi muito prejudicado, por culpa dele. Ele nunca apresentava”, refere Maria Henriques, que trabalhava com o “padre doutor”.
Em Lisboa continuou o múnus sacerdotal, celebrando na paróquia de São Sebastião da Pedreira.
César Miguel Teixeira da Fonte, nasceu em 1902 no Estreito da Calheta. Foi ordenado sacerdote em 1927 por D. António Pereira Ribeiro. Passou pelas paróquias de Câmara de Lobos, Porto Santo, Calheta, Faial e São Roque do Faial. Faleceu a 19 de junho de 1976 em Lisboa.
-Giselo Andrade
Mais um tipo "pandeireta" da linha do sinistro da Ribeira Seca de triste memória
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