Não sei se já ouviram um pio de uma coruja, mas o pio é longo e sofredor, e por ser persistente, dá a ideia de um lamento dorido e resignado, embora toda a gente saiba que este predador alado foi dotado pela natureza de armas formidáveis, como garras portentosas e um voo ágil e silencioso, que se abate num arremesso fofo e mortal sobre as suas pobres vítimas, normalmente ratos-do-campo ou láparos.
Hoje, pela madrugada, ouvi novamente esse pio doloroso, e olhei para as árvores e para a torre da Capela de S. João e não vi nenhuma coruja empoleirada, ostentando a sua penugem arredondada e sua tristeza travessa. Foi só quando me dirigi para o interior do meu apartamento e vi o meu gato Bonifácio, de garra em riste, apontando para o ecrã do meu computador, que percebi que o pio corujento vinha do interior da página eletrónica do Diário de Notícias. Surpreso, li: “Ninguém tem o direito de levar política para uma associação empresarial centenária”; e mais à frente, novo pio… “no mandato de que ainda faço parte, nunca houve politização da ACIF”, seguido dum pio mais longo e lúgubre, parecendo que vinha do interior da folhagem sombria dum cipreste de cemitério … “informo que não irei formalizar uma candidatura às próximas eleições desta associação”.
Olhei para o Bonifácio espantado e murmurei: - Mas este ser, que é vice-presidente da ACIF, não é o mesmo cavalheiro escolhido pelo sr. Candidato Paulo Cafôfo, para coordenador da área de economia, dos Estados Gerais do PS/Madeira, uma espécie de Governo a fingir da cafofolândia? Não é esta coisinha fofinha, um dos administradores executivos do Grupo Sousa, o tal grupo que criou uma espécie de dinastia à moda norte-coreana (com o apoio dum bando de tontos) e que geriu interruptamente esta associação durante uma década e meia? Não foi esta pesarosa criatura nomeada pelo Dono-disto-tudo para suceder a uma senhora bem-penteada, que alterou os estatutos da associação, para permanecer no poder mais tempo que o Putin na Rússia? Não é este senhor um alto quadro dum grupo que fez uma verdadeira fortuna política à custa da proteção dum ex Governante rechonchudo que agora escreve romances de cordel, com histórias lamechas de faca e alguidar?
Efetivamente, este ente tem toda a razão, a ACIF nunca foi “politizada” nem sequestrada por um grupo-de-rapina, especialista em promover dieta mediterrânea aos indígenas.
A ACIF foi de facto uma associação imaculada, independente (muito parecida ao atual DN) e gerida ao longo dos tempos por uma tríade de colibris angélicos, ungidos em água-benta, e virginalmente extraídos de uma iconografia cristã, da capela ortodoxa copta de São Frumêncio, nas montanhas sagradas da Eritreia, o que, e em abono da verdade, nada tem a ver com corujas!
Mas, paradoxalmente, se apurarmos a audição, conseguimos ouvir perfeitamente um pio longo e triste de uma corujinha que se perdeu da sua mamã Coruja, ali para os lados do Largo dos Varadouros, a tal ave de rapina matreira que consegue rodar a cabeça até 270 graus (135 graus para cada lado). (fénix do Atlântico)
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