É uma imagem, já com 62 anos, que perdura na minha memória: a de uma capa de jornal, creio que do Diário Popular, com uma foto a toda a largura da primeira página e uma manchete simples: Mancha. Nesse sábado, 21 de Agosto de 1954, o país delirava com a notícia, divulgada pela rádio, da vitória na maratona da Mancha – a travessia do canal, entre Calais, França, e Dover, Inglaterra – de um dos mais extraordinários atletas portugueses de sempre: Baptista Pereira, então com 33 anos.
O nadador de Alhandra percorreu os 40 quilómetros em 12 horas e 25 minutos, com 1.200 metros de avanço sobre o segundo, o egípcio Hassan Hammad, apelidado de crocodilo do Nilo. Foi o mais importante dos 150 triunfos de Baptista Pereira em duas décadas de uma carreira desportiva que culminaria, em 1959, com o recorde europeu de permanência na água: 206 quilómetros (!) a nadar, em 28 horas e 45 minutos.
Operário e comerciante de sucata, Baptista Pereira foi perseguido pelo regime de Salazar, que o suspendeu da competição, em 1946, por ter saudado, com o punho fechado, um poster gigante do ditador Franco, num Portugal-Espanha, em Tenerife. Após o 25 de Abril, soube-se que era militante de longa data do PCP e que distribuíra, na clandestinidade, o jornal Avante!. Convidado para candidato autárquico pelo seu partido, recusou, por não saber ler, nem escrever. Morreu em 1984, aos 63 anos, deixando-nos, por legado, uma lenda. (sábado)
Tio Alberto chama "polvo" ao atual governo do seu PSD
Sem comentários:
Enviar um comentário