terça-feira, 3 de março de 2020

Perseguição aos calvinistas na Madeira no séc. XIX

O escocês perseguido na Madeira por causa da sua fé

Robert Kalley Robert Kalley foi expulso há 160 anos por causa do seu trabalho evangelizador
Foi conhecido como o santo dos pobres ou o bom doutor inglês. Montou escolas e um hospital no Funchal. Foi depois perseguido, preso e obrigado a sair da Madeira - tal como aconteceu a pelo menos dois mil madeirenses que tinham abraçado a fé protestante. O médico Robert Reid Kalley, que, entre 1838 e 1846, viveu na ilha, foi o fundador da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal (IEPP) e incansável divulgador da Bíblia. A memória das perseguições aos "hereges calvinistas" irá ser feita durante os próximos dois anos pela Igreja Presbiteriana, a propósito dos 160 anos da expulsão.Um livro há muito esgotado, que conta a história deste evangelizador intrépido, acaba de ser reeditado pela IEPP. Robert Reid Kalley - O Apóstolo da Madeira foi escrito por Michael P. Testa, um outro pastor presbiteriano, este de origem americana, que trabalhou em Portugal entre 1949 e 1964. Uma história desenvolvida no livro Madeirenses Errantes (ed. Oficina do Livro), do jornalista Ferreira Fernandes.
David Valente, secretário-geral da IEPP, recorda que a perseguição aos madeirenses protestantes foi uma das duas maiores do século XIX, a par de uma outra em Madagáscar. E, mesmo em tempos de diálogo ecuménico - amanhã termina a Semana Mundial pela Unidade dos Cristãos -, David Valente diz que "é preciso conhecer estas histórias para saber o que aconteceu e evitar que volte a acontecer".
Nascido em 8 de Setembro de 1809, nos arredores de Glasgow, a alma racionalista do jovem Kalley não quis seguir os desejos do padrasto e do avô, que o desejavam para ministro da Igreja da Escócia. Por isso opta pela Medicina, licenciando-se em 1829.
Com 20 anos, oferece-se como médico de bordo nos navios que faziam a viagem até Bombaim. Já estabelecido como médico, o acompanhamento de uma doente muda-lhe a vida: "Senti, satisfeito, que há um Deus, que este livro [a Bíblia] é de Deus...", dirá ele mais tarde. Kalley deseja partir como médico e missionário para a China. A mulher com quem entretanto casara era tísica e ele decidiu levá-la uns tempos para a Madeira, com a ideia de que ela se curasse. Chegaram ao Funchal a 12 de Outubro de 1838.
Kalley usa esforços e fortuna "a favor do povo pobre e analfabeto da ilha", escreve Testa. Estuda Português, faz exame para exercer Medicina em Portugal e aprofunda estudos teológicos. Em 1840, monta um hospital com 12 camas, oferecendo tratamentos e internamento gratuitos. Monta uma rede de escolas, às quais fornece material e professores, frequentadas por "centenas de homens, após os trabalhos duros nos campos", como o próprio descreve.
Preso durante seis mesesAo mesmo tempo, Kalley distribuía exemplares da Bíblia, esclarecia dúvidas, compunha hinos religiosos em Português. As suas actividades proselitistas começam a merecer a desconfiança das autoridades políticas e religiosas. O bispo católico, que se contava entre os clientes e amigos, comunica-lhe o teor de uma carta de Lisboa, recomendando o fim de tal apostolado. Kalley não desiste.
O médico enfrenta dificuldades. Burocracia, ameaças, tudo serve para apertar o cerco, dirigido sobretudo por um cónego católico - Carlos Teles de Meneses. O escândalo, nota Ferreira Fernandes, "atinge o ponto de não retorno quando, no início de 1843, dois madeirenses se convertem publicamente": Nicolau Tolentino Vieira e Francisco Pires Soares.
Kalley é preso durante seis meses. Maria Joaquina Alves, mãe de sete filhos, é também detida, mas por dois anos e meio. No Outono de 1845, crescem a violência e os insultos. A 8 e 9 de Agosto seguinte, soldados e cúmplices expulsam os "calvinistas hereges" das suas casas, obrigando-os a fugir para os campos e a montanha. Sobrevivem escondidos.
Kalley foge nesse dia a bordo do Forth, aportado na baía do Funchal. No dia 23, o William leva pelo menos 200 refugiados fugidos à perseguição religiosa. Nos dois anos seguintes, um total de dois mil madeirenses irá para Trindade, Antígua, Jamaica, Illinois, Havai. Depois de passar por Malta e Palestina, Kalley chega ao Brasil em 1855, onde funda a Igreja Presbiteriana. Regressa à Escócia em 1876, após uma vida dedicada à causa que abraçara. (público)


Na Ilha da Madeira, as autoridades sucessivamente ordenaram o fechamento das escolas evangélicas, proibiram o Dr. Kalley de exercer a medicina e de realizar cultos domésticos e, invocando uma lei inquisitorial de 1603, o prenderam por seis meses sem direito a fiança (julho de 1843 a janeiro de 1844). Ele tinha a permissão de receber três visitantes de cada vez, mas não podiam cantar hinos e ler as Escrituras. Sob a liderança do cônego Carlos Telles de Meneses, houve um grande esforço no sentido de suprimir o movimento evangélico, do qual resultou a prisão de muitos crentes sob acusações de apostasia, heresia e blasfêmia. Uma pobre mãe de sete filhos, Maria Joaquina Alves, ficou presa durante dois anos e meio (janeiro de 1843 a maio de 1845). Foram terminantemente proibidas a posse e a leitura da Bíblia, embora a versão distribuída fosse a do padre Antônio Pereira de Figueiredo. Após a sua libertação, o Dr. Kalley prosseguiu com o seu trabalho de modo mais limitado e cauteloso, concentrando-se na localidade de Santo Antônio da Serra, onde aos domingos chegavam a reunir-se seiscentas pessoas. Teve o apoio incondicional da Igreja Escocesa de Funchal e de um missionário recém-chegado, o Rev. William Hepburn Hewitson.[9] Em 23 de março de 1845, na casa pastoral da Igreja Escocesa, a Ceia do Senhor foi celebrada pela primeira vez em português segundo a liturgia presbiteriana. Pouco depois, em 8 de maio, foi organizada sob a liderança do Rev. Hewitson a primeira igreja presbiteriana portuguesa, com mais de sessenta membros comungantes, sendo eleitos vários presbíteros e diáconos. (fonte)

Após a sua libertação, o Dr. Kalley prosseguiu com o seu trabalho de modo mais limitado e cauteloso, concentrando-se na localidade de Santo Antônio da Serra, onde aos domingos chegavam a reunir-se seiscentas pessoas.[Consultar FONTE]

2 comentários:

  1. O Chega tem aqui o seu futuro grande líder: José Manuel Coelho.

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  2. Coelho não se esqueça publicar no Ocorrências da Madeira e Pravda Ilhéu reportagem sobre Patrícia Brazao de Castro. Saiu hoje no Diário de Notícias da Madeira.

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