Terrorista ou herói: desafio de Mondlane à Frelimo segue para tribunal. Voltará às ruas?

 Entre os crimes de que o acusam está o incitamento ao terrorismo. Mondlane diz ser consequência de resistir ao regime ditatorial.

 Investigar a polícia “Eu reconheço que, de facto, existe aqui o perigo de esta coisa ser interpretada como perseguição política e, até certo ponto, é, enquanto o próprio Estado não responsabilizar os seus próprios agentes”, refere Macamo. “Por exemplo, já devia ter sido criada uma comissão de inquérito para averiguar o comportamento da polícia, porque a violência da polícia foi expressiva e completamente desproporcional. Se isso não for feito, fragiliza-se a acção que a PGR está a mover contra Venâncio Mondlane.” Para Macamo, as acusações contra Mondlane “fazem sentido”, porque “ele portou-se mal, não há como aceitar o que ele fez — o poder significa responsabilidade, quem não exerce o poder com responsabilidade tem de ser responsabilizado”. O mais grave, diz o sociólogo moçambicano, “é que ele realmente incitou à violência” e “semeou o caos”. No entanto, de que outra maneira é que se consegue chamar a Frelimo à razão senão por interposta violência? Como lembra Borges Nhamirre, “a Frelimo nunca iniciou nenhum diálogo político sem estar encurralada; desde o Acordo Geral de Paz, em todas as crises político-militares que se seguiram, a Frelimo só aceitou o diálogo ao ser encurralada”. “Eu prestei um grande serviço a este país”, disse Mondlane depois de divulgar os crimes de que tinha sido acusado pela procuradoria (apologia pública ao crime, incitamento à desobediência colectiva, instigação pública a um crime, instigação ao terrorismo e incitamento ao terrorismo). “É a primeira vez desde a independência nacional que o moçambicano sente que pertence a uma pátria, sente orgulho de ser moçambicano. Tudo isto para mim constitui um grande serviço prestado à pátria.” Alberto da Cruz lembrava, na terça- -feira, num artigo de opinião no diário O País, que, “em Moçambique, o patriotismo teve, em tempos, um signiÆcado claro e mobilizador, sobretudo durante a luta de libertação, nos anos 60 e 70”. Por isso, não admira que Mondlane tente recuperar agora esse espírito, porque “ser patriota, então, significava aderir à luta, apoiar a revolução e participar na construção de uma nova nação”