terça-feira, 26 de agosto de 2025

2 de agosto CENTÉSIMO ANIVERSÁRIO do nascimento de Miguel Urbano Tavares Rodrigues

 

MIGUEL URBANO, CENTÉSIMO ANIVERSÁRIO
Hoje, 2 de Agosto, decorre o centésimo aniversário do nascimento de Miguel Urbano Rodrigues (1925-2017). Seria impossível condensar numa breve nota a sua trajetória como jornalista, escritor e ativista, tanto em Portugal como no Brasil e no Conselho Europeu.   Miguel foi um dos fundadores de resistir.info, em 2002, uma manifestação de repúdio ao asqueroso jornalismo corporativo que se praticava e pratica em Portugal.   Grande parte dos seus escritos recentes estão concentrados em resistir.info (podem ser pesquisados através do Free Find) e em odiario.info.

Miguel foi da estirpe dos grandes jornalistas, tal como Wilfred Burchet, John Pilger, Julius Fucik e tantos outros que souberam acompanhar os ventos da história. Nos tempos sombrios em que vivemos – em meio a genocídios, atrocidades e políticos medíocres – é bom relembrar que houve pessoas como Miguel que não se vergaram e combateram pela emancipação humana.Passa no dia 2 de Agosto o centenário de Miguel Urbano Rodrigues, fundador e editor de odiario.info
, no que constituiu uma das últimas tarefas que empreendeu numa longa vida dedicada à causa da emancipação humana. Emancipação que sempre considerou ter no conhecimento, na cultura e na informação verdadeira um dos seus mais poderosos instrumentos. A eles dedicou uma vida inteira de trabalho intelectual e político.

Natural de Lisboa, passa a infância em Moura onde o pai - jornalista, escritor, dramaturgo e político republicano - adquirira uma quinta. É o tempo do acelerar da crise da I República e da implantação da ditadura do “Estado Novo”. Desde jovem colheu a influência e inspiração das gentes insubmissas do Alentejo onde vive boa parte da infância e da juventude.

Cursou a Faculdade de Letras de Lisboa. Foi redactor do Diário de Notícias (com início em 1949) e chefe de redacção do Diário Ilustrado. Cedo se deparou, no jornalismo e fora dele, com a censura, a mediocridade, a cinzenta e brutal repressão do regime fascista. A ela respondeu não só com corajosa oposição, mas com uma efectiva ruptura: no final dos anos 50 exila-se no Brasil.

Trabalha ali como jornalista, desenvolve intensa actividade anti-salazarista, e não apenas na tomada de posição pública: integra o grupo armado que em Janeiro de 1961 assalta e desvia o paquete “Santa Maria” (operação significativamente designada “Dulcineia”, o que poderá ter alguma coisa a ver com a admiração que Miguel Urbano dedicava à obra-prima de Cervantes). Operação certamente limitada, mas durante a qual se verificou, à escala mundial, um muito significativo e debilitador impacto mediático sobre o regime salazarista.

Durante o seu exílio no Brasil é editorialista de O Estado de S. Paulo (1957 a 1974) e editor internacional da revista Visão (1970 a 1974). Acompanha, divulga ou intervém em eventos marcantes na actividade dos portugueses oposicionistas exilados, acompanha o desenvolvimento das lutas contra o colonialismo português conduzidas pelo PAIGC, o MPLA e FRELIMO. Em 1963 adere ao Partido Comunista Português.

Enquanto exilado convictamente internacionalista desenvolve vasta rede de contactos de trabalho e de laços de amizade pessoal (e de admiração mútua) com inúmeras personalidades polí¬ticas progressistas, não apenas da América Latina, mas de todo o mundo. Relações que prolonga ao longo da vida, e que ao longo dela ajudaram a ampliar a denúncia internacional do fascismo em Portugal, a solidariedade e apoio ao Portugal de Abril e à prolongada e dura luta em defesa das suas conquistas.

Regressa a Portugal logo após o 25 de Abril de 1974, no auge dessa histórica explosão de entusiasmo popular, incorpora-se militantemente na construção do regime democrático. Chefia a redacção do Avante! em 1974 e 1975 e é director do jornal O Diário, de 1976 a 1985. Exerceu a presidência da Assembleia Municipal de Moura de Janeiro de 1986 a Junho de 1988, foi deputado à Assembleia da República entre 1990 e 1995, e ainda deputado nas Assembleias Parlamentares do Conselho da Europa e da União da Europa Ocidental.

Miguel Urbano Rodrigues foi fundador do sítio resistir.info em 2002, e do sítio odiario.info em 2006. Foi o principal promotor dos memoráveis Encontros de Serpa “Civilização ou Barbárie” que, nos anos de 2004, 2007 e 2010, reuniram numerosos activistas cívicos e alguns dos mais destacados intelectuais progressistas dos cinco continentes em torno das questões que o objectivo da transformação revolucionária da sociedade coloca.

Viajante e observador incansável, intelectual excepcional, notável materialista histórico que, enquanto testemunha e participante da história do seu tempo, a entende e mostra como parcela de um muito longo trajecto. Viveu ou visitou as mais diversas latitudes e em todo o lado procura observar o que existe do passado no presente, o que neste é diverso, a realidade na sua complexidade inteira. E na humanidade de quem a vive, com a qual tem grande capacidade de diálogo. A sua obra publicada em livro (uma pequena parte dos milhares de páginas que escreveu) é extensa e diversa, indo do ensaio político à ficção literária e à memorialística. Toda ela é importante. Mas merece necessariamente destaque o singular e monumental “Nómadas e sedentários na Ásia Central”, obra que deveria ser de leitura obrigatória para quem pretenda seriamente opinar sobre o presente dessa extraordinária região do globo e os seus muitos milénios de história. Obra cuja reedição seria boa forma de celebrar este centenário.

O legado de Miguel Urbano Rodrigues é inestimável, tal como a sua memória. Mas mais inestimável ainda é o seu exemplo de vida: de coragem e fraternidade, de convicção inabalável, de dedicação sem limites a conhecer e dar a conhecer, de confiança em que, por muito adversas que possam ser as condições do presente, permanece possível e alcançável um futuro humano de emancipação, progresso e completa liberdade.

Seguir o seu exemplo é prosseguir a luta por esse futuro.

Os editores de odiario.info

https://www.odiario.info/nos-cem-anos-de-miguel-urbano

1 comentário:

  1. Há hm jornalista ainda mais distinto do que este. O grande jornalista e homem de letras Emanuel Bento

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