quarta-feira, 18 de maio de 2022

Shireen Abu Akleh:Para que a sua morte não seja em vão, este é o nosso modesto contributo contra o esquecimento

Quem se importa com este homicídio?
 Quero juntar-me ao, infelizmente, pequeno coro de revoltados pelo assassinato da jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh. Quero indignar-me, unido aos poucos que me acompanham nessa revolta, com a carga policial sobre o cortejo fúnebre da também cidadã norte-americana Shireen Abu Akleh. Quero aplaudir, com os raros que não discriminam as vítimas mortais conforme a nacionalidade e a política dos agressores, as pessoas que seguraram o caixão de Shireen Abu Akleh e, enquanto recebiam bastonadas, tentaram tudo para o segurar, tenazes, da queda no chão. Quero apontar, com alguns bravos nadadores contra a corrente bem comportada, o dedo acusador ao francoatirador, anónimo, do Exército de Israel que apontou à repórter, visível ao longe no seu ostensivo colete “Press”. Esse soldado decidiu disparar uma bala de 5,56 mm. Fê-la sair, supersónica, a girar sobre si mesma para furar melhor, de uma espingarda M-16 com mira telescópica. Um centésimo de segundo depois o projétil, letal, esburacava o pequeno espaço entre o capacete e a gola do colete à prova de bala de Shireen Abu Akleh. Quero denunciar, com a rara companhia que encontrar, o Estado de Israel por transformar a luta pelo seu legítimo direito à existência num processo ilegal de expansão territorial, de desumana opressão sobre uma população, de exercício de terror sistemático sobre civis pobres, como relatava frequentemente, para a televisão Al Jazeera, a jornalista Shireen Abu Akleh Quero recordar, com alguns que têm memória, que Israel recusa, há anos, ser investigada sobre crimes de guerra, nega a entrada no país de representantes de tribunais internacionais, rejeita receber o relator especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Quero referir, para os originais que se interessam por isto, que pelo menos 144 jornalistas palestinianos foram feridos por tropas de Israel desde 2018 e três deles acabaram por morrer. Um desses feridos foi Ali al-Samoudi, o produtor de Shireen Abu Akleh. Quero sublinhar, para resistentes a branqueamentos seletivos, que os bombardeamentos aéreos sucessivos e massivos levados a cabo por Israel sobre a Faixa de Gaza, em áreas densamente povoadas, vitimam sobretudo civis inocentes, às centenas: por exemplo, há uns tempos uma operação dessas, que durou 51 dias, matou 2250 palestinianos, incluindo 551 crianças. Este tipo de crimes era reportado por Shireen Abu Akleh. Quero destacar, para a aritmética da realidade que quase todos preferem ignorar, o facto de a resposta militar palestiniana à invasão israelita não contar com unidades mecanizadas, Força Aérea, Marinha, mísseis, nem artilharia pesada. Israel, por seu lado, é a 15ª potência militar do mundo e garantiu, para os próximos 10 anos, mais 38 mil milhões de dólares em armamento graças a uma ajuda dos Estados Unidos da América. Esta desproporção de forças era mostrada nas reportagens de Shireen Abu Akleh. Quero notificar, para o deserto dos que se importam com a dualidade de critérios que manda neste mundo, o quanto é diferente a atual paixão solidária para com o povo ucraniano, vítima cruel da invasão russa e da política de expansão da NATO, da angustiante serenidade quase indiferente com que se assiste à sucessão de, não vejo outro termo, crimes de guerra cometidos por Israel, nem à aparente lenta operação de expulsão total dos palestinianos do restinho de país que lhes deixaram na Faixa de Gaza. Posso querer isso tudo mas, inconformado, vaticino: Shireen Abu Akleh será rapidamente esquecida. Não é a única.- Pedro Tadeu jornalista

 

1 comentário:

  1. Coelho safaste-te. Se não fosse andares a limpar excrementos na SPAD.... estarias a cobrir como enviado especial do Kremlin ou do Garajau.

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