terça-feira, 13 de agosto de 2024

O racismo português em Angola. O dinheiro de Angola valia pouco em Portugal. Os colonos eram assim obrigados a continuar.

 


«Eu fartei-me de apanhar reguadas. Mas nós [brancos] apanhávamos cinco, eles [negros] apanhavam dez, pela mesma coisa, ou por menos. E apanhavam por tudo e por nada» -anotava David Luna

A escritora e autora do romance Retorno, sobre retornados, não pretende amenizar o que era a divisão racial de então: “Claro que os brancos estavam em posição de poder e, portanto, era menos mau para os brancos, obviamente.” Mas lembra: “O dinheiro de lá valia muito pouco na metrópole. As pessoas eram obrigadas a continuar, a não ser que perdessem muito dinheiro para voltar. A ideia era povoar, a ideia era ocupar. E se uma pessoa quisesse, de repente, mudar a sua vida, teria de abdicar muito do que tinha trabalhado.”

 Os fascistas de Salazar diziam que os pretos não podiam ser portugueses.

 Segundo o Estatuto de 1954, eram indígenas todas as pessoas negras sem instrução e “hábitos portugueses”. Para a obtenção da cidadania — e assimilação —, tinham de ter mais de 18 anos, falar correctamente português, ter uma profissão ou rendimento necessário ao seu sustento e da sua família, apresentar bom comportamento e hábitos portugueses, entre outros requisitos (o que era possível apenas a uma pequena minoria), nota Cláudia Castelo.

Pretos quando morriam eram chamados de «sacos de carvão».

Presenciou um desastre entre dois homens negros que iam de bicicleta e embateram num jipe do exército da Diamang. Os dois ficaram muito mal, e havia uns homens das milícias que estavam preocupados. “Mas outros diziam: ‘Estás preocupado? São menos dois sacos de carvão.’” Aquelas palavras nunca lhe saíram da cabeça. “É mesmo a desumanização total.”

O apartheid português em Luanda

 Esta separação geográfica era nítida noutras cidades como Luanda. Filmagens da agência Reuters de 1961 mostram o contraste dos dois mundos. De um lado, a cidade branca com as suas casas baixas e jardins, as avenidas de cimento largas e com palmeiras; os colonos a conviverem em esplanadas, a beberem cerveja (provavelmente, Cuca) e a fumar, vestindo camisa e calças brancas. Do outro lado, a estrada de terra, um travelling de casas com telhado de palha, meninos e mulheres a caminharem descalços, alguns nus, alguns a brincar em poças de água.

Aplicava-se a lei do Talião

“Numa segunda-feira, dia 24 de Julho de 1961: o doutor [Barros Machado, director do laboratório] contou-me que em Carmona um rapaz de 13 anos, a quem os pretos mataram o pai, foi autorizado a retalhar à catanada quatro pretos amarrados, suspeitos, e depois decepou-os.”

 Mão de obra escrava

 Não vivia de forma abastada, mas não esquece as precárias condições em que as pessoas negras trabalhavam, nem como eram tratadas, quando homens eram amontoados em camiões que transportavam animais, passando pela estrada rumo ao Norte de Angola — eram “depósitos” de pessoas negras, os chamados “contratados”, “embora fosse escravidão pura”. Também nos camiões que percorriam milhares de quilómetros, avistava o motorista, branco, que estava a conduzir, e o ajudante, negro, em cima da carga, “imagem muito marcada de uma clara separação entre raças”. “O negro ia vestido de uma forma muito precária e o branco com calças, camisa, sapatos, chapéu, eventualmente — o negro com calção, ou descalço ou de sandálias, sandálias rudimentares, feitas de borracha de camião. Imagine, viagens de 300, 400, 500 quilómetros em cima de carga — não devia ser uma coisa muito confortável.”



4 comentários:

  1. A facilitar os pretos para a candonga

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  2. Até o coelho branco quando andou lá a atrapalhar utilizou esse sistema.... ele diz ...ser mais rentável que gamar flores nos cemitérios

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  3. Todos os madeirenses são pretos, dirigidos por reis da tabanca

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    1. E os miras ladroes, esses sim, andam por aqui , sem trabalhar, só atrapalham essa ladroagem , ralé!

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