segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Shalom Nagar (1936-2024) O homem que matou Adolf Eichmann

Shalom Nagar (1936-2024) O homem que matou Adolf Eichmann.
 Poderíamos chamar-lhe o carrasco do carrasco e assim resumir a vida inteira deste homem, como se toda a existência terrena de Shalom Nagar, falecido há dias num local desconhecido de Israel, se reduzisse àqueles breves instantes – uns segundos, uns minutos – em que abriu o alçapão da forca de Adolf Eichmann, aguardou que ele morresse, e depois recolheu o cadáver, levando-o de maca para um forno especialmente construído por sobreviventes do Holocausto, onde foi incinerado. Ficou tão abalado por isso que já não cumpriu a segunda parte da sua missão, acompanhar as cinzas do falecido até ao navio da Guarda Costeira que depois as lançou algures no Mediterrâneo, fora das águas territoriais de Israel. “O rosto de Eichmann estava branco como giz, os olhos estavam esbugalhados e a língua saída da boca”, disse Nagar à revista judaica Mispacha, em 2005. A corda rasgara a pele do pescoço, e a boca e o peito de Adolf Eichmann ficaram cobertos de sangue, sujando as vestes do seu carrasco. Quando este chegou a casa, com a roupa tingida de sangue, a sua mulher ficou horrorizada, mas fez poucas perguntas sobre o que sucedera, pois sabia que o marido fora escolhido para uma missão ultrassecreta, da qual nada se soube durante mais de três décadas. Na verdade, era grande o risco de represálias por parte dos neonazis, que nunca aceitaram o desfecho daquela história, começada com a captura de Adolf Eichmann num subúrbio de Buenos Aires, na noite de 11 de Maio de 1960, e com o seu transporte clandestino para Jerusalém, onde foi julgado e condenado à morte, em 15 de Dezembro de 1961, por hediondos crimes contra a Humanidade. Shalom Nagar era guarda na prisão de Ramla e, nessa qualidade, integrou a equipa de 22 elementos a quem foi dado o encargo de vigiar o criminoso nazi. Para evitar que houvesse tentações de vingança sobre o prisioneiro, todos eles eram judeus sefarditas, escolhidos a dedo, não tendo qualquer relação com as vítimas ou com os sobreviventes do Holocausto. Cabia-lhes outra tarefa ingrata, provar a comida do facínora, que chegava a Ramla em recipientes selados, para evitar o risco de envenenamento. “Antes de lhe dar as refeições, tinha de as provar. Se eu não caísse morto em dois minutos, o oficial de plantão autorizava que o prato entrasse na cela”, diria Nagar, muitos anos depois. Nagar nasceu numa aldeia do Iémen em data incerta, 1936 ou 1938, e pouco se sabe da sua infância. Tinha sete anos quando o pai morreu, a mãe casou pouco depois, abandonando-o e aos quatro irmãos. Aos 12 anos, quando Israel declarou a independência, decidiu ir viver para aquela que considerava ser a sua pátria, fazendo a pé a maior parte do caminho entre a sua terra natal e o novo Estado. Aos 16, alistou-se no Exército, foi integrado nos paraquedistas, desempenhou missões de alto risco, a guardar a fronteira sob ameaça ou a desarmadilhar minas terrestres. A seguir, fez-se polícia, foi trabalhar para os serviços prisionais, aí esteve quase três décadas. Diria depois que não era um homem para ter medo, mas que o teve, e muito, do homem que enforcou, Otto Adolf Eichmann, um dos principais arquitectos e executores da “Solução Final”, seis milhões de mortos. Agora, nos obituários, dizem que Nagar foi um “carrasco relutante”, uma verdade inegável, já que, de toda a equipa que guardava Eichmann, ele fora o único que dissera que não queria desempenhar o espinhoso encargo de matar o preso à sua guarda. O director da prisão, no entanto, achava-o o carrasco ideal: órfão de pai no Iémen, uma infância agreste, soldado condecorado, passara a guerra longe de Israel e, sobretudo, não tinha conexões com o Holocausto. Para o convencer, mostraram-lhe filmes de nazis a chacinar crianças, Nagar aceitou a custo ser metido na lista dos potenciais executores, dos quais o infeliz eleito seria escolhido por sorteio. No dia 31 de Maio de 1962, quando passeava na rua com a mulher, Ora, e com o filho, uma carrinha da polícia travou à sua frente, meteram-no às pressas no veículo. Nagar sabia que chegara a hora, e só teve tempo de pedir ao condutor que desse meia-volta para explicar a Ora que não estava a ser raptado. O seu nome fora escolhido para executar aquela que foi a única condenação à morte na história do Estado de Israel. Marcada para a meia-noite de 31 de Maio, a execução atrasou-se uns minutos, ocorrendo já no dia 1 de Junho. Além de um pequeno grupo de oficiais e guardas, a morte foi presenciada por quatro jornalistas e pelo reverendo canadiano William Lovell Hull, que fora o conselheiro espiritual de Eichmann no cativeiro e mais tarde escreveu um livro sobre essa tremenda experiência, expressivamente intitulada The Struggle for a Soul. Antes de morrer, Eichmann bebeu vinho branco e fumou alguns cigarros. Ao subir ao cadafalso, recusou ser vendado e, segundo os presentes, terá dito que morria acreditando em Deus. Porém, segundo Rafi Eitan, o agente da Mossad que o prendeu na Argentina e que agora assistia ao seu enforcamento, as suas últimas palavras, murmuradas num sussurro de gelo, foram: “espero que todos vós me sigam.” Shalom Nagar deixaria mais tarde os serviços prisionais, vivendo em Hebron até ao massacre de 1994, quando colonos israelistas e radicais de extrema-direita dispararam indiscriminadamente contra os palestinianos que rezavam no Túmulo dos Patriarcas, na Mesquita Ibrahim daquela cidade. Depois dessa tragédia, fixou-se em Kiryat Arba, na Margem Ocidental, e regressou à religiosidade estrita da sua infância no Iémen, tornando-se talhante de carne kosher. O papel que teve na morte de Eichmann só foi revelado em 2004 por uma estação de rádio israelita e, em resultado disso, em 2011 foi feito um filme com a sua história, The Hangman, dirigido pela cineasta Avigail Sperber, que há dias comunicou ao mundo o seu falecimento. Nas entrevistas que deu, Shalom Nagar contou que o episódio mais marcante da execução de Eichmann passou-se com ele já morto: quando se aproximou do cadáver, este soltou o ar que tinha acumulado no estômago, envolvendo Nagar num medonho bafo sonoro que o perseguiria até ao fim dos seus dias. “Senti que o Anjo da Morte também tinha vindo para me levar”, recordou o carrasco relutante, quase dizendo que também ele morreu ao matar Adolf Eichmann – o que é uma triste verdade.
Adolf Eichmann
 

8 comentários:

  1. Poupem-nos com literatura barata

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  2. Os judeus que se fodam. Ukras o mesmo.

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  3. Idem idem todos os comunas do pravda

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  4. A malta está preocupada com o padre das esmolinhas. Consta que ia bêbado ao volante

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  5. O padre das esmolinhas também merecia ir ao cadafalso

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  6. OS JUDEUS TORNARAM-SE IGUAIS AOS NAZIS QUE OS PERSEGUIRAM. Sem pôr nem tirar!

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