Poderíamos chamar-lhe o carrasco do carrasco e assim resumir a
vida inteira deste homem, como
se toda a existência terrena de
Shalom Nagar, falecido há dias num local
desconhecido de Israel, se reduzisse
àqueles breves instantes – uns segundos,
uns minutos – em que abriu o alçapão da
forca de Adolf Eichmann, aguardou que
ele morresse, e depois recolheu o cadáver,
levando-o de maca para um forno especialmente construído por sobreviventes
do Holocausto, onde foi incinerado. Ficou
tão abalado por isso que já não cumpriu a
segunda parte da sua missão, acompanhar as cinzas do falecido até ao navio da
Guarda Costeira que depois as lançou algures no Mediterrâneo, fora das águas territoriais de Israel.
“O rosto de Eichmann estava branco
como giz, os olhos estavam esbugalhados
e a língua saída da boca”, disse Nagar à revista judaica Mispacha, em 2005. A corda
rasgara a pele do pescoço, e a boca e o peito de Adolf Eichmann ficaram cobertos
de sangue, sujando as vestes do seu carrasco. Quando este chegou a casa, com a
roupa tingida de sangue, a sua mulher ficou horrorizada, mas fez poucas perguntas sobre o que sucedera, pois sabia que o
marido fora escolhido para uma missão
ultrassecreta, da qual nada se soube durante mais de três décadas.
Na verdade, era grande o risco de represálias por parte dos neonazis, que nunca
aceitaram o desfecho daquela história,
começada com a captura de Adolf Eichmann num subúrbio de Buenos Aires,
na noite de 11 de Maio de 1960, e com o
seu transporte clandestino para Jerusalém, onde foi julgado e condenado à morte, em 15 de Dezembro de 1961, por hediondos crimes contra a Humanidade.
Shalom Nagar era guarda na prisão de
Ramla e, nessa qualidade, integrou a
equipa de 22 elementos a quem foi dado
o encargo de vigiar o criminoso nazi. Para
evitar que houvesse tentações de vingança sobre o prisioneiro, todos eles eram judeus sefarditas, escolhidos a dedo, não
tendo qualquer relação com as vítimas ou
com os sobreviventes do Holocausto. Cabia-lhes outra tarefa ingrata, provar a comida do facínora, que chegava a Ramla
em recipientes selados, para evitar o risco
de envenenamento. “Antes de lhe dar as
refeições, tinha de as provar. Se eu não
caísse morto em dois minutos, o oficial de plantão autorizava que o prato entrasse
na cela”, diria Nagar, muitos anos depois.
Nagar nasceu numa aldeia do Iémen
em data incerta, 1936 ou 1938, e pouco se
sabe da sua infância. Tinha sete anos
quando o pai morreu, a mãe casou pouco
depois, abandonando-o e aos quatro irmãos. Aos 12 anos, quando Israel declarou a independência, decidiu ir viver para
aquela que considerava ser a sua pátria,
fazendo a pé a maior parte do caminho
entre a sua terra natal e o novo Estado. Aos
16, alistou-se no Exército, foi integrado
nos paraquedistas, desempenhou missões de alto risco, a guardar a fronteira sob
ameaça ou a desarmadilhar minas terrestres. A seguir, fez-se polícia, foi trabalhar
para os serviços prisionais, aí esteve quase três décadas. Diria depois que não era
um homem para ter medo, mas que o
teve, e muito, do homem que enforcou,
Otto Adolf Eichmann, um dos principais
arquitectos e executores da “Solução Final”, seis milhões de mortos.
Agora, nos obituários, dizem que Nagar
foi um “carrasco relutante”, uma verdade
inegável, já que, de toda a equipa que
guardava Eichmann, ele fora o único que
dissera que não queria desempenhar o espinhoso encargo de matar o preso à sua
guarda. O director da prisão, no entanto,
achava-o o carrasco ideal: órfão de pai no
Iémen, uma infância agreste, soldado
condecorado, passara a guerra longe de Israel e, sobretudo, não tinha conexões com
o Holocausto. Para o convencer, mostraram-lhe filmes de nazis a chacinar crianças, Nagar aceitou a custo ser metido na
lista dos potenciais executores, dos quais
o infeliz eleito seria escolhido por sorteio.
No dia 31 de Maio de 1962, quando passeava na rua com a mulher, Ora, e com o
filho, uma carrinha da polícia travou à sua
frente, meteram-no às pressas no veículo. Nagar sabia que chegara a hora, e só
teve tempo de pedir ao condutor que desse meia-volta para explicar a Ora que não
estava a ser raptado. O seu nome fora escolhido para executar aquela que foi a única condenação à morte na história do Estado de Israel.
Marcada para a meia-noite de 31 de
Maio, a execução atrasou-se uns minutos,
ocorrendo já no dia 1 de Junho. Além de
um pequeno grupo de oficiais e guardas,
a morte foi presenciada por quatro jornalistas e pelo reverendo canadiano William
Lovell Hull, que fora o conselheiro espiritual de Eichmann no cativeiro e mais tarde escreveu um livro sobre essa tremenda
experiência, expressivamente intitulada
The Struggle for a Soul.
Antes de morrer, Eichmann bebeu vinho
branco e fumou alguns cigarros. Ao subir
ao cadafalso, recusou ser vendado e, segundo os presentes, terá dito que morria
acreditando em Deus. Porém, segundo Rafi Eitan, o agente da Mossad que o prendeu
na Argentina e que agora assistia ao seu enforcamento, as suas últimas palavras, murmuradas num sussurro de gelo, foram: “espero que todos vós me sigam.”
Shalom Nagar deixaria mais tarde os serviços prisionais, vivendo em Hebron até ao
massacre de 1994, quando colonos israelistas e radicais de extrema-direita dispararam indiscriminadamente contra os palestinianos que rezavam no Túmulo dos Patriarcas, na Mesquita Ibrahim daquela
cidade. Depois dessa tragédia, fixou-se em
Kiryat Arba, na Margem Ocidental, e regressou à religiosidade estrita da sua infância no Iémen, tornando-se talhante de carne kosher. O papel que teve na morte de Eichmann só foi revelado em 2004 por uma
estação de rádio israelita e, em resultado
disso, em 2011 foi feito um filme com a sua
história, The Hangman, dirigido pela cineasta Avigail Sperber, que há dias comunicou ao mundo o seu falecimento.
Nas entrevistas que deu, Shalom Nagar
contou que o episódio mais marcante da
execução de Eichmann passou-se com ele
já morto: quando se aproximou do cadáver, este soltou o ar que tinha acumulado
no estômago, envolvendo Nagar num medonho bafo sonoro que o perseguiria até ao
fim dos seus dias. “Senti que o Anjo da Morte também tinha vindo para me levar”, recordou o carrasco relutante, quase dizendo que também ele morreu ao matar Adolf
Eichmann – o que é uma triste verdade.Adolf Eichmann
Poupem-nos com literatura barata
ResponderEliminarPravda só literatura de lixo
EliminarOs judeus que se fodam. Ukras o mesmo.
ResponderEliminarO nazi Coelho que se foda
EliminarIdem idem todos os comunas do pravda
ResponderEliminarA malta está preocupada com o padre das esmolinhas. Consta que ia bêbado ao volante
ResponderEliminarO padre das esmolinhas também merecia ir ao cadafalso
ResponderEliminarOS JUDEUS TORNARAM-SE IGUAIS AOS NAZIS QUE OS PERSEGUIRAM. Sem pôr nem tirar!
ResponderEliminar