segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Manuel Pedro, resistente antifascista, antigo preso político, dirigente comunista, morreu aos 94 anos, em Lisboa.

 


Nascido em Lisboa a 19 de agosto de 1931, "filho de um operário que era comunista", cresceu na Ajuda, "um bairro praticamente só de operários e, portanto, era natural que fosse contra o Salazar", dizia. Apesar de ser um dos melhores alunos da escola, teve que começar a trabalhar com 11 anos na limpeza de um restaurante da elite lisboeta, quase apenas em troca de comida. Regressou aos estudos e trabalhou numa companhia de seguros onde conheceu colegas que o integram no movimento cineclubista, onde acabaria por chegar a dirigente do Cineclube Imagem, e no qual tem contacto com estudantes e intelectuais antifascistas e o primeiro contacto com o PCP.
Em 1957 participa no Festival da Juventude em Moscovo e no regresso a Lisboa, é preso com o cineasta José Fonseca e Costa e a sua irmã, com quem havia ido ao festival. Desse período lembra, "estive três meses numa gaveta no Aljube, que é das coisas mais horrorosas. Fala-se tão pouco de uma gaveta, que é das coisas mais imundas. Não há espaço para andar, não há cadeira para sentar, não há mesa para a gente comer, não há um urinol dentro da gaveta. O espaço, eu cheguei a medir com os braços, de largura é um metro e qualquer coisa, de fundo era dois metros e picos - não tinha espaço, portanto. Para andar tinha que me movimentar sempre apoiado num pé. Saí de lá coxo".
Libertado em fevereiro de 1958, voltaria a ser preso, entregue por um delator, dias antes de passar à clandestinidade. Foi sujeito a dois meses de isolamento no Aljube, após interrogatório, ficou 18 meses na enfermaria desta prisão até ser enviado para Caxias e dias depois para a prisão da PIDE no Porto, onde ficou três anos. Manuel Pedro foi ainda enviado para Paços de Ferreira, onde esteve seis meses, e no fim das medidas de segurança (condenado a dois anos e um mês de prisão, cumpria pena já há mais de cinco anos), foi ainda enviado para Peniche antes da liberdade condicional, sujeita a caução de dez contos, valor arrecadado por amigos e colegas da companhia de seguros.
Em 1964 passa à clandestinidade com a mulher e as filhas, responsável pela organização do Baixo-Ribatejo, região que ia de Loures até Santarém. A terceira prisão acontece numa casa de apoio, com Ângelo Veloso. Enviado para a sede da PIDE, sujeito à brutais agressões e 11 dias e 11 noites de tortura do sono. Seria depois enviado para Caxias, onde ficou vários meses até ser julgado e enviado para Peniche, de onde só seria libertado após o 25 de Abril de 1974.
Manuel Pedro contou com 60 anos dedicados à militância no PCP, onze dos quais pas­sados nas pri­sões fas­cistas e quatro anos de clandestinidade.
Fundador e um ativo membro da URAP, participava regularmente em iniciativas de partilha das suas memórias de resistência à ditadura em escolas e outros espaços. Publicou "Sonhos de Poeta, Vida de Revolucionário" e "Resistentes", nos quais partilha as suas memórias de resistência, clandestinidade e prisão.

À sua família e amigos, o Museu do Aljube Resistência e Liberdade transmite as mais sentidas condolências, e presta homenagem a Manuel Pedro.

2 comentários:

  1. Para aguentar tanto tempo não era comuna de certeza

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    1. Ninguém hoje quer saber destes heróis anti-fascistas, inclusive como se vê pelos comentários do matarruanos neste blog. Ser fascista é que está na moda.

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