quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Dark Side. O lado negro do Diário de Notícias do Funchal

O colunista Gil Canha analisa com minúcia o modus operandi do Diário de Notícias do Funchal ao longo da sua existência

Choramingada
Gil Canha

Há dias, escrevi um artigo sobre o estranho facto de o Diário de Notícias (DN) nunca publicar na sua edição impressa os comunicados da associação ambientalista Cosmos, sobre a retirada/roubo de inertes das nossas linhas de água e orla costeira, nomeadamente da Ribeira da Metade, no Faial, Ribeira da Ponta do Sol, Ribeira dos Socorridos, Ribeira da Madalena do Mar e da faixa costeira da mesma freguesia. Também referi que este súbito interesse do DN pelo tal furto de inertes tinha a ver com a recente “guerra” entre o DN (Sousas e Blandy) e o Jornal da Madeira (Avelino). 
Ora, esta opinião levantou uma “choramingada” em certos círculos do DN, como se eu tivesse dito alguma mentira. Felizmente, conheço há anos o papel dúbio e ambíguo do Diário de Notícias no tratamento da informação, daquilo que deve e aquilo que não deve ser publicado; do “timing” para soltar o jornalista e o “timing” para prender o jornalista; do aperto que deve ser dado, cirurgicamente e subtilmente, para certas autarquias ou organismos públicos abrirem os cordões-à-bolsa, e financiarem encartes e outros “chouriços”, vitais para a sobrevivência financeira da publicação. Aliás, já escrevi opinião no DN e fui censurado e “despedido”, porque não me retratei nem me verguei; já tive direito a primeiras páginas do DN, onde me chamaram mentiroso, porque acusei o DN de receber grossas maquias da Câmara Municipal do Funchal, para fazerem propaganda elogiosa ao sr. Cafofo (muita dela paga através da E.M. Frente-Mar). Até fui a tribunal responder por causa disso. Por isso, não venham os senhores do DN lamentarem-se como "virgens ofendidas", que o DN não é nenhuma “púdica donzela”, nem é uma publicação totalmente independente nem imaculada, como muitos tentam fazer crer. Também tem o seu “dark side”, como têm a maioria dos jornais que são suportados por grupos económicos. 
Mas, apesar de tudo, não tenho uma visão maniqueísta do DN. Se me perguntarem se o Diário de Notícias do Funchal foi importante para a Madeira, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN tem tido um papel relevante para o esclarecimento, informação e defesa do interesse público na região, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN tem bons jornalistas, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN foi vital para acabar com certos vícios, abusos, e injustiças praticados por gente sem escrúpulos ao longo da sua centenária existência, eu também digo que sim! Se me perguntarem se o DN tem garantindo nestes últimos tempos a sua imparcialidade, independência, e rigor informativo, eu também digo que não! E isso preocupa-me, porque o tal insustentável equilíbrio que sempre existiu editorialmente entre o correto e o despudorado, começa agora a pender inexoravelmente para o tal “dark side” do jornalismo por encomenda. 
E esta visão que tenho sobre o DN, já tinha o Capitão José Pestana, oficial censor da Direção Geral do Serviço de Censura à Imprensa (na Ditadura) quando no seu relatório de 10 de Janeiro de 1930, e após redigir palavras elogiosas ao Diário no seu preâmbulo, escreveu o seguinte: “O Diário de Notícias defende os interesses da casa comercial Blandy Brothers & Cª Ltd, de que é propriedade. Manteve-se numa correção digna de nota ao longo do ano, mas, no mês de Dezembro, publicou uma série de artigos intitulados – Serenamente – nos quais, sob o pretexto de apreciação e crítica aos actos administrativos da Câmara Municipal, foi de tal modo violento, que a censura teve de intervir. O motivo daquelas apreciações e da sua pretendida violência, foi a aplicação, pela respetiva Comissão Administrativa, duma taxa legal sobre os canos existentes no Funchal, taxa que onera a casa Blandy, porque esta tem um largo negócio de abastecimento de água potável ao domicílio”, e adianta, que foi obrigado a meter o jornal nos eixos, já que o “nítido” objetivo do DN era - “a substituição” dos responsáveis autárquicos, e conclui: “a Censura fez terminar definitivamente essa tendenciosa e improfícua campanha. Os referidos artigos não foram assinados, cabendo, portanto, a sua responsabilidade ao respetivo diretor, Feliciano Soares”. 
Como podem ver, o DN sempre teve os seus pecadilhos como também teve as suas coisas meritórias. Na altura, era o negócio dos canos; hoje, sabendo-se do universo empresarial dos atuais sócios, é de prever que os seus interesses abarquem negócios muito mais vastos que simples canalizações em ferro. (fénix do atlântico)


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