AMANCIO ORTEGA O misterioso senhor Zara
Amancio Ortega adquiriu 12% do capital da empresa portuguesa Redes Energéticas
Nacionais (REN), através da sua sociedade Pontegadea Inversiones, um dia depois
de ter passado também a ser acionista da REE, em Espanha. É agora o segundo
maior acionista da REN. Discreto, não se deixa fotografar e nunca dá entrevistas.
Em comunicado, a REN informou o mercado e o público em
geral que recebeu das sociedades Mazoon e Pontegadea Inversiones comunicações relativas a participações assumidas no seu capital. “A Mazoon
B.V. [da Oman Oilk] transmitiu à sociedade
Pontegadea Inversiones S.L. a totalidade das
ações que aquela detinha na REN, correspondendo a uma participação de 12,006% do capital social desta sociedade. Em resultado de tal
aquisição, a Pontegadea Inversiones S.L. detém diretamente 12,006% dos direitos de voto
na REN, sendo tais direitos de voto também
imputáveis ao Sr. Amancio Ortega Gaona nos
termos do Código dos Valores Mobiliários”.
Foi assim que foi anunciado que o dono do
império têxtil Inditex, que detém as marcas
Zara, Pull & Bear, Bershka ou Massimo Dutti,
passa a ser o segundo maior acionista da REN.
É “uma decisão de acordo com a lógica de investimento da Pontegadea no que toca ao setor, tipo de empresa e de mercado”, garante a
empresa do empresário espanhol, também em
comunicado.
O mais recente investimento de Ortega surge
um dia depois de ter sido tornada pública a
compra de 5% do capital da Red Eléctrica de
España (REE), a empresa que faz a gestão da
rede energética no país vizinho. Esta participação implicou um investimento de 456 milhões de euros e fez do multimilionário espanhol o segundo maior acionista desta empresa. O primeiro é a chinesa State Grid.
Reestruturação do grupo
No dia 2 de agosto, a Inditex promoveu uma
reorganização da sua estrutura societária, a
maior da sua história, eliminando 27 empresas
do grupo em diversos países. Trata-se da
maior redução de um ano para o outro desde
que a empresa existe.
Segundo o diário espanhol “Cinco Días”, a
empresa fundada por Amancio Ortega, agora
também proprietário de 12% da REN, tinha, a
31 de janeiro de 2021, 350 empresas no seu
grupo detidas a mais de 50% pela empresa sediada na Corunha. Segundo a mesma publicação, esta é a estrutura societária mais reduzida
da Inditex desde 2013, e ocorreu paralelamente
ao fecho de lojas em todo o mundo. Em
2020, fecharam mais de 750 lojas de insígnias
como Zara e Pull & Bear. O objetivo é, explicou a Inditex ao “Cinco Días”, uma “simplificação de sociedades”. Esta reorganização, nalguns casos consolidou o negócio que até aí se
dividia em múltiplas empresas e filiais, como
na Croácia, Bósnia e Japão. Noutros casos, significou o fecho total da operação, como
aconteceu em Macau, território que a Inditex
abandonou, fechando todas as suas lojas.
Quem é Amancio Ortega?
Nascido a 28 de março de 1936, em Busdongo
de Arbas, León, aos 14 anos foi trabalhar como
empregado de duas conhecidas lojas de roupa
de A Coruña. Nunca chegou a terminar o ensino secundário. Em 1963, decidiu trabalhar por
conta própria e criou a empresa de confeções
GOA, cujo nome foi criado com as suas iniciais
ordenadas de trás para a frente, já que se chama
Amancio Ortega Gaona. Começou a produzir
batas e ainda durante a década 60 do século XX
passou a exportar para diversos países europeus. Em 1975 abriu a primeira Zara, numa
das principais ruas do centro de A Coruña. Devido ao grande crescimento do volume de negócios, em 1986 optou por criar, com a sua
mulher de então, um grupo empresarial, ao
qual chamou Inditex, que inclui ainda as marcas Massimo Dutti e Pull & Bear.
Três anos mais tarde, em 1988, deu-se a internacionalização da Zara, com a abertura de
uma loja no Porto, em Portugal. No ano seguinte, abriram os estabelecimentos de Paris
(França) e Nova Iorque (EUA). O processo de
internacionalização prosseguiu depois com a
abertura de lojas no resto da Europa, na América, Ásia, Médio Oriente e norte de África. A
Zara espalhou-se por 96 países e em 2020 tinha 2.208 lojas. Aprendeu a fazer robes e lingerie com a primeira mulher, Rosalia Mera,
com quem teve dois filhos. Paralelamente aos
têxteis, Ortega investiu noutro tipo de negócios, como o imobiliário, o financeiro e o comércio de automóveis.
Em 2001, Ortega tornou-se no homem
mais rico de Espanha. Segundo dados de 2006
da revista “Forbes”, era o terceiro homem
mais rico da Europa e o oitavo mais rico do
mundo, com uma fortuna avaliada em 24 mil
milhões de dólares. Nesta altura, o grupo Inditex tinha mais de três mil lojas em 65 países e
empregava 70 mil funcionários. Em 2001,
criou a Fundação Amancio Ortega, destinada
a apoiar projetos ligados à investigação científica, educação e ciência. Criou também a Fundação de Paideia, que apoia crianças com necessidades especiais.
Democratizador da moda
É tido como um homem de rotinas e de gostos
simples. Vive na Corunha, a mesma cidade da
Galiza onde abriu a primeira Zara. Foi o grande democratizador da moda e o principal pioneiro da fast fashion, pois a Zara baseia-se num
conceito que assenta em adaptar os modelos
que desfilam nas passarelas das semanas da
moda internacionais em modelos acessíveis ao
bolso da maioria das pessoas. O empresário revolucionou a indústria da moda ao acelerar
drasticamente o esquema de produção, pois as
coleções passam dos esboços dos designers a
estarem disponíveis para venda em apenas
duas semanas. Ortega e a sua primeira mulher,
Mera, divorciaram-se em 1997. O empresário
voltou a casar-se, com Flora Perez Marcote,
em 2003, com quem teve outro filho, em 1983.
Quando a sua primeira mulher morreu, em
2013, a filha deles, Sandra Ortega Mera, herdou 89 por cento da fortuna da mãe e tornou-
-se no segundo maior acionista da Inditex e na
mulher mais rica de Espanha. Extremamente
discreto, pouco revela da sua vida privada e só
em 1999 é que foi divulgada a primeira fotografia sua. Nunca dá entrevistas. É caso para dizer que o segredo é a alma do negócio.
ANA CÁCERES MONTEIRO
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