domingo, 1 de dezembro de 2024

O grande tubarão da medicina privada: Joaquim Chaves Saúde

 Joaquim Chaves 1929-2024 Farmacêutico e empresário

 Destacou-se na área da saúde, fundando uma empresa com centenas de postos de análises clínicas. Desaparece aos 94 anos, mas o seu nome continuará espalhado em amarelo por todo o país.
 Foi em 1959 que surgiu a primeira clínica com o nome de Joaquim Chaves. Passados 65 anos, já se fala num “império” de clínicas, postos de análises e laboratórios: no total, são mais de 400. Todas exibem o nome do seu fundador, sobre um plano de fundo amarelo. Desde cedo, as prioridades de Joaquim Chaves assentaram na “inovação técnica e científica, na qualidade analítica, na automatização e na robótica”, escreve a Ordem dos Farmacêuticos. Hoje, multiplicam-se os laboratórios — um deles fora do país, em Moçambique — ligados às análises clínicas, mas também a áreas como a anatomia patológica ou genética médica. Também se vão somando as clínicas, gerais ou especializadas na oncologia. Já na área das análises clínicas, o grupo Joaquim Chaves Saúde é omnipresente. São cerca de 400 postos destinados a este fim, localizados no continente e ilhas. Um verdadeiro “império”, como reconhece o seu colega e rival na área das análises clínicas, Germano de Sousa. Por trás deste “império” na saúde, um nome: Joaquim Francisco Jorge Martins Chaves. Nascido em 1929, em Lisboa, foi na Universidade do Porto que se licenciou em Farmácia, em 1958. Quando concluiu a especialidade em Análises Clínicas pela Ordem dos Farmacêuticos, em 1968, já tinha começado a afirmar o seu nome na área, saber que foi sendo colocado “ao serviço dos cidadãos”, diz Hélder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. A primeira pedra desse empreendimento foi colocada em Mafra, onde foi fundada a primeira clínica, ainda em 1959. As primeiras novidades surgiram logo na década que estava perto de começar: em 1963, Joaquim Chaves desenvolveu os primeiros kits completos de reagentes. Em 1966, já trazia para Portugal um equipamento para determinar o metabolismo basal e, em 1968, na área da hematologia, foi a vez de mostrar ao país o primeiro auto-analisador de células. Vinha trazendo estas novidades para Portugal porque não perdia de vista o que se fazia no exterior. Assim que o país aderiu à União Europeia, em 1986, entendeu que era importante começar a fazer certos exames que, até então, eram sempre enviados para o exterior, para serem analisados em França, Espanha e Inglaterra. Joaquim Chaves queria acrescentar Portugal e o seu nome a essa lista: a meta era que esses exames também pudessem ser feitos no seu laboratório. Foi o próprio fundador que começou por viajar pela Europa para perceber o que era necessário e possível fazer. Depois, também os trabalhadores que a empresa foi acolhendo viajaram, através de estágios em que foram aprimorando as técnicas necessárias. Em simultâneo, o laboratório foi sendo enriquecido com a tecnologia que complementaria essas técnicas. Por essa altura, além de investir no próprio laboratório, Joaquim Chaves também fundou a Associação Portuguesa dos Analistas Clínicos e passou pela direcção da Secção de Biologia Clínica da Federação Internacional Farmacêutica. Entre 1980 e 1982, chegou ao auge da sua colaboração com a Ordem dos Farmacêuticos, assumindo a presidência da Secção Regional do Sul. Nesse período, fez, enquanto cidadão, o que faz agora a entidade empresarial com o seu nome: percorrer o país visitando outros laboratórios de análises clínicas, numa época em que se estavam a consolidar as primeiras convenções com os Serviços Médico-Sociais. Mas, nessa altura, a empresa ainda teria um longo percurso pela frente — não apenas no tocante à sua internacionalização, em Moçambique, em 2014. Em 1998, fundou a primeira clínica de ambulatório, com o objectivo de dar resposta às necessidades de exames complementares de diagnóstico; e, desde 2017, o grupo também começou a dar resposta a pedidos de cirurgia. E, em 2002, a empresa voltou-se para o tratamento oncológico, inaugurando o Centro Oncológico Dra. Natália Chaves: um nome fundamental na sua história. Natália Chaves, esposa de Joaquim Chaves, abdicou das profissões de fisioterapeuta e médica para se dedicar à gestão administrativa e organizativa da empresa, enquanto esta se tornava numa “referência em análises clínicas”. Joaquim Chaves foi pioneiro no desenvolvimento de empresas privadas na área da saúde. A maioria das que existem agora foi fundada ou desenvolveu-se mais tarde, quando Joaquim Chaves já estava a tentar colocar o seu grupo ao nível dos avanços internacionais. E, ainda assim, contribuiu, em tempos, para a construção do SNS, em conjunto com o antigo ministro da Saúde António Arnaut, afirmam os responsáveis da empresa. Um “homem bastante interessado e dotado, que trouxe dignidade para a área”, resultando  numa “grande perda”, reconhece Germano de Sousa. “Perdemos uma figura maior quer da profissão farmacêutica quer da área das análises clínicas”, considera o actual bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. Destacou-se pela sua “dedicação à classe farmacêutica” e pelo seu “envolvimento na comunidade profissional”. Aliás, recebeu, ainda em 2023, uma Medalha de Honra da Ordem dos Farmacêuticos em reconhecimento da sua carreira profissional. Uma “visão muito à frente do seu tempo” é outra das descrições da vida proÆssional de Joaquim Chaves. O laboratório central da empresa é hoje totalmente robotizado e é visto como uma referência na área, recebendo visitas tanto nacionais como internacionais. Desenvolveram-se novas áreas e técnicas e diversificaram-se outras, como a radioterapia, reconhece o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos. E, a par das funções principais da empresa, o fundador também esteve sempre empenhado em dar “apoio a projectos de investigação cientifica”. (jornal Público)

Sem comentários:

Enviar um comentário