Joaquim Chaves 1929-2024 Farmacêutico e empresário
Destacou-se na área da saúde, fundando
uma empresa com centenas de postos
de análises clínicas. Desaparece aos 94 anos,
mas o seu nome continuará espalhado
em amarelo por todo o país.
Foi em 1959 que surgiu a primeira
clínica com o nome de Joaquim
Chaves. Passados 65 anos, já se fala
num “império” de clínicas, postos
de análises e laboratórios: no total,
são mais de 400. Todas exibem o
nome do seu fundador, sobre um
plano de fundo amarelo.
Desde cedo, as prioridades de
Joaquim Chaves assentaram na
“inovação técnica e científica, na
qualidade analítica, na
automatização e na robótica”,
escreve a Ordem dos
Farmacêuticos. Hoje,
multiplicam-se os laboratórios —
um deles fora do país, em
Moçambique — ligados às análises
clínicas, mas também a áreas como
a anatomia patológica ou genética
médica. Também se vão somando
as clínicas, gerais ou especializadas
na oncologia. Já na área das
análises clínicas, o grupo Joaquim
Chaves Saúde é omnipresente. São
cerca de 400 postos destinados a
este fim, localizados no continente
e ilhas. Um verdadeiro “império”,
como reconhece o seu colega e
rival na área das análises clínicas,
Germano de Sousa.
Por trás deste “império” na
saúde, um nome: Joaquim
Francisco Jorge Martins Chaves.
Nascido em 1929, em Lisboa, foi na
Universidade do Porto que se
licenciou em Farmácia, em 1958.
Quando concluiu a especialidade
em Análises Clínicas pela Ordem
dos Farmacêuticos, em 1968, já
tinha começado a afirmar o seu
nome na área, saber que foi sendo
colocado “ao serviço dos
cidadãos”, diz Hélder Mota Filipe,
bastonário da Ordem dos
Farmacêuticos. A primeira pedra desse empreendimento foi
colocada em Mafra, onde foi
fundada a primeira clínica, ainda
em 1959.
As primeiras novidades surgiram
logo na década que estava perto de
começar: em 1963, Joaquim Chaves
desenvolveu os primeiros kits
completos de reagentes. Em 1966,
já trazia para Portugal um
equipamento para determinar o
metabolismo basal e, em 1968, na
área da hematologia, foi a vez de
mostrar ao país o primeiro
auto-analisador de células.
Vinha trazendo estas novidades
para Portugal porque não perdia
de vista o que se fazia no exterior.
Assim que o país aderiu à União
Europeia, em 1986, entendeu que
era importante começar a fazer
certos exames que, até então, eram
sempre enviados para o exterior,
para serem analisados em França,
Espanha e Inglaterra. Joaquim
Chaves queria acrescentar Portugal
e o seu nome a essa lista: a meta
era que esses exames também
pudessem ser feitos no seu
laboratório.
Foi o próprio fundador que
começou por viajar pela Europa
para perceber o que era necessário
e possível fazer. Depois, também os
trabalhadores que a empresa foi
acolhendo viajaram, através de
estágios em que foram
aprimorando as técnicas
necessárias. Em simultâneo, o
laboratório foi sendo enriquecido
com a tecnologia que
complementaria essas técnicas.
Por essa altura, além de investir no
próprio laboratório, Joaquim
Chaves também fundou a
Associação Portuguesa dos Analistas Clínicos e passou pela
direcção da Secção de Biologia
Clínica da Federação Internacional
Farmacêutica.
Entre 1980 e 1982, chegou ao
auge da sua colaboração com a
Ordem dos Farmacêuticos,
assumindo a presidência da Secção
Regional do Sul. Nesse período,
fez, enquanto cidadão, o que faz
agora a entidade empresarial com
o seu nome: percorrer o país
visitando outros laboratórios de
análises clínicas, numa época em
que se estavam a consolidar as
primeiras convenções com os
Serviços Médico-Sociais.
Mas, nessa altura, a empresa
ainda teria um longo percurso pela
frente — não apenas no tocante à
sua internacionalização, em
Moçambique, em 2014. Em 1998,
fundou a primeira clínica de
ambulatório, com o objectivo de dar resposta às necessidades de
exames complementares de
diagnóstico; e, desde 2017, o grupo
também começou a dar resposta a
pedidos de cirurgia. E, em 2002, a
empresa voltou-se para o
tratamento oncológico,
inaugurando o Centro Oncológico
Dra. Natália Chaves: um nome
fundamental na sua história.
Natália Chaves, esposa de Joaquim
Chaves, abdicou das profissões de fisioterapeuta e médica para se
dedicar à gestão administrativa e
organizativa da empresa, enquanto
esta se tornava numa “referência
em análises clínicas”.
Joaquim Chaves foi pioneiro no
desenvolvimento de empresas
privadas na área da saúde. A
maioria das que existem agora foi
fundada ou desenvolveu-se mais
tarde, quando Joaquim Chaves já
estava a tentar colocar o seu grupo
ao nível dos avanços
internacionais. E, ainda assim,
contribuiu, em tempos, para a
construção do SNS, em conjunto
com o antigo ministro da Saúde
António Arnaut, afirmam os
responsáveis da empresa.
Um “homem bastante
interessado e dotado, que trouxe
dignidade para a área”, resultando numa “grande perda”, reconhece
Germano de Sousa. “Perdemos
uma figura maior quer da profissão
farmacêutica quer da área das
análises clínicas”, considera o
actual bastonário da Ordem dos
Farmacêuticos. Destacou-se pela
sua “dedicação à classe
farmacêutica” e pelo seu
“envolvimento na comunidade
profissional”. Aliás, recebeu, ainda
em 2023, uma Medalha de Honra
da Ordem dos Farmacêuticos em
reconhecimento da sua carreira
profissional.
Uma “visão muito à frente do seu
tempo” é outra das descrições da
vida proÆssional de Joaquim
Chaves. O laboratório central da
empresa é hoje totalmente
robotizado e é visto como uma
referência na área, recebendo
visitas tanto nacionais como
internacionais. Desenvolveram-se
novas áreas e técnicas e
diversificaram-se outras, como a
radioterapia, reconhece o
bastonário da Ordem dos
Farmacêuticos. E, a par das
funções principais da empresa, o
fundador também esteve sempre
empenhado em dar “apoio a
projectos de investigação
cientifica”. (jornal Público)
Sem comentários:
Enviar um comentário