No governo da Madeira há 36 anos, Jardim quer formar novo partido
“Cansado do PSD-Madeira”, líder regional atinge longevidade de Salazar na chefia do governo. Para 5 de Abril está marcado um jantar do Forum Autonomia (FAMA) para debater a criação do Partido Social Federalista.
Alberto João Jardim completa esta segunda-feira 36 anos como presidente do Governo Regional da Madeira. Faltam-lhe apenas mais três meses para ultrapassar o tempo de Oliveira Salazar como chefe de um governo, cargo que exerceu durante um período recorde de 36 anos e 84 dias.
Quando entrou para o governo, para substituir Ornelas Camacho, primeiro presidente do primeiro governo autónomo saído das legislativas regionais de 1976, Jardim garantiu que o seu executivo não teria “qualquer dependência ou subordinação hierárquica em relação ao Governo da República". “A Madeira será o "que os madeirenses quiserem", prometeu no discurso proferido a 17 de Março de 1978.
O PPD deve a D. Francisco Santana a vitória que o levou ao governo em 1976, reconheceu Jardim. Foi este bispo do Funchal, nomeado nas vésperas da Revolução de Abril que, dois anos antes, lhe ofereceu a direcção do então diocesano Jornal da Madeira, agora governamentalizado, para a cruzada contra Lisboa com que se afirmou na política.
Passadas quase quatro décadas, o governante insular confessa-se “cansado” do partido que lidera de “forma prepotente e anti-democrática”, como agora já publicamente denunciam os seus críticos internos. "Não estou cansado da Madeira, estou cansado do PSD-Madeira", confidenciou Jardim aos jornalistas na passada semana, na Quinta Vigia, presidência do governo.
Por inúmeras vezes, Jardim declarou que em breve abandonaria as funções governativas. No último congresso do PSD-Madeira, em Novembro de 2012, anunciou que deixaria a política activa em Janeiro de 2015, aquando da consagração do novo líder em congresso. Mas mais uma vez recuou, apesar de asseverar que não está “agarrado ao poder”, e declara-se “disposto a levar o mandato de governo até ao fim”, se Cavaco Silva não aceitar a mudança de presidente do governo sem eleições antecipadas.
Há menos de um mês, para justificar a sua ausência no congresso nacional do partido, Jardim reiterou o seu distanciamento do líder nacional do partido e do governo da República. "Este não é o PSD onde eu nasci para a política, nem é o PSD que coincide com os meus princípios e valores”, disse. E sublinhou que inclui, no seu projecto de revisão constitucional, a extinção da proibição da criação de partidos regionais.
Jardim defendeu, várias vezes, a criação de um novo partido para fazer oposição em Portugal, em ruptura com o PSD, “um partido que seja uma gironda contra os jacobinos de Lisboa”. A ser designado por Partido Social Federalista, representaria, nas suas palavras, “um partido ao centro, com base nos grandes princípios de justiça distributiva da doutrina social da Igreja Católica e que simultaneamente descentraliza o poder para que os recursos não fiquem todos em Lisboa”.
Novo partido é debatido em Abril
O novo partido poderá ter origem no Fórum Autonomia (FAMA), associação de que Jardim é o sócio número um e que tem tomado posições pró-independência da Madeira, próximas da frente separatista FLAMA. A passagem daquele movimento a partido político foi anunciada terça-feira noJornal da Madeira pelo seu presidente, Gabriel Drumond, antigo deputado e autarca do PSD. Este assunto será debatido no jantar (interdito à comunicação social) que o movimento vai promover no próximo dia 5 de Abril, data em que se assinala o 83.º aniversário da Revolta da Madeira contra o regime da ditadura.
A FAMA deve “transformar-se em partido político a curto, médio ou longo prazo e estabelecer organizações desde o Algarve ao Minho e Açores, formando, assim, um partido das regiões”, defende Drumond. “Os partidos do arco do poder, PSD, PS e CDS não têm razão de existir hoje em dia, pois são partidos de interesses pessoais e de cariz capitalista”, diz. (Público)
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