«Eu vi homens duros que se transformavam em bebés... enrolados nas suas camas, em posição fetal, e nunca mais diziam uma palavra; alguns não conseguiam parar de falar, mas diziam coisas sem sentido; outros gritavam o dia inteiro; houve muitos que se conseguiram suicidar; mas eles não nos querem mortos, é por isso que nos enterram vivos». É assim que Albert Woodfox descreve os 43 anos que passou em regime de solitária, numa cela de 2,7 metros por 1,8.
Libertado este domingo após 44 anos preso por razões políticas, Albert Woodfox explicou-me, numa entrevista por via electrónica, que a primeira coisa que fez quando saiu da infame prisão de Angola, na Luisiana, foi deixar flores na campa da mãe, que morreu em 1990. «Quando ela morreu, não me deixaram ir ao funeral. Mas eu prometi que ia». E foi.
Albert Woodfox, de 69 anos, era o último dos presos políticos conhecidos como «os três de Angola» ainda atrás das grades. A Penitenciária Estadual da Luisiana, também conhecida como Angola, deve o nome à antiga plantação existente nesse lugar, onde milhares de escravos angolanos eram forçados a trabalhar. Duzentos anos depois, a principal diferença é que a plantação deixou de produzir algodão e passou a produzir cana-de-açúcar. Os 6500 presos que aí trabalham, quase todos negros, não são, porém, menos escravos.
«A prisão é uma indústria», explica Albert Woodfox. «Depois da Guerra Civil a escravatura acabou, os negros foram conquistando mais direitos e o nosso trabalho foi ficando mais caro. Em resposta, o sistema criou a indústria prisional para embaratecer a mão-de-obra negra, para desumaniza-la. É por isso que neste país um em cada três negros já esteve preso. Não se trata só do trabalho escravo dentro das prisões privadas… vai para além disso: um negro que saia da prisão está carimbado para o resto da vida como mão-de-obra barata; quando a polícia manda parar um adolescente negro a caminho da escola, a mensagem é «não levantes muito a cara, fica no teu lugar.»
«O meu crime foi ser militante»
Acusado de ter assassinado Brent Miller, um guarda prisional, em 1972, Albert Woodfox foi condenado a 42 anos de prisão num julgamento-farsa sem provas físicas e marcado pelo «desaparecimento» de elementos do processo. Há muito que a própria família de Brent Miller exigia a libertação de Woodfox e, no Verão passado, Teenie Rogers, a viúva de Miller, avisou que «está na hora do Estado parar de fingir que há qualquer prova de que Albert Woodfox matou o Brent».
«Eu estou inocente desse crime», diz Albert Woodfox, «mas não foi por esse crime que passei 43 anos em solitária. O meu crime foi ser militante do Partido Pantera Negra e lutar contra a segregação das prisões».
Recém-saído de uma tortura difícil de imaginar, Albert Woodfox promete dedicar-se agora a combater o uso disseminado da solitária nas prisões estado-unidenses. «É uma violação flagrante dos Direitos Humanos. Fechar um homem sozinho numa cela durante décadas é tortura e é bárbaro. A solitária chama-se solitária porque nos isola. É assim que nos quebram: isolados não somos humanos. Neste regime, só saímos da cela durante uma hora por dia. Às vezes, sentia-me esmagado. Não conseguia respirar. Suava em bica... Nos piores momentos, sentia as paredes a apertar-me a cara. Foi assim durante quatro décadas. Mas como imaginar submeter uma criança de 14 anos a esta tortura? Isso acontece muito nos EUA! Basta que um tribunal decida julgar um adolescente como um adulto. Que tipo de regime faz uma coisa destas?»
Violante Matos «mudou de poio» agora para ela o PS é mais chique, já não quer saber do Bloco para nada. Quem não a conhece que a compre como diz o povo!
Personalidades da «rota das estrelas»
«O meu crime foi ser militante»
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