Os anos de convívio com Álvaro
Cunhal foram marcantes. “Marcou-
-me a forma dele falar sempre de igual
para igual com as pessoas. Desde a camarada da limpeza ao secretário-geral
de outro partido que viesse a Portugal.
É uma forma de estar na vida. E isso
aprendi com ele.” Nos anos da democracia, Cunhal já tinha a aura de uma
figura histórica colada à pele. Podia ser
intimidatório, ou fascinante. “Era óbvio e claro que todos tinham essa perceção.” É o que acontece sempre com
pessoas acima da média. “Podemos
passar a vida inteira a fotografar artistas plásticos, mas um dia fotografamos
o Picasso. E aí, sabemos que fomos ao
topo. Eu percebi isso quando fotografei Cunhal.”“Tive a sorte de andar com ele”
e apenas fez questão de selecionar uma
fotografia institucional: a do encontro
entre Cunhal e Gorbachev, ainda o dirigente da URSS não chegara a secretário-geral do PCUS e nenhum imaginava que a perestroika estava ao virar
de uma esquina da História. “Estão
os dois sorridentes, porque eram dois
camaradas de partidos diferentes que
se encontravam.” Gorbachev veio ao
Porto ao Congresso do PCP a chefiar a
delegação soviética. “É um encontro
privado e só eu tenho esta foto.”para funcionário foi um passo de anão.
“No princípio, era tudo muito pequeno e a propaganda do PCP era feita
por designers, poetas, escritores, publicitários, realizadores de cinema”,
conta José Carlos Pratas. O partido era
como um íman a juntar intelectuais
antifascistas que, voluntariamente,
ajudavam às sucessivas causas políticas em que o PCP entrava de braços
abertos. O jovem designer aprendia
com os melhores, mas o partido não
arriscava e antes de o responsabilizar
pela tarefa de montar, organizar e gerir
um laboratório de fotografia, enviou-o
para um estágio na antiga República
Democrática Alemã. O PCP não brinca
em serviço e desde o início fazia questão de formar os seus quadros para as
tarefas que tinham pela frente.
“Os partidos irmãos ajudavam-
-se mutuamente”, explica José Carlos Pratas. Durante nove meses, o jovem
quadro comunista fez um “estágio de
fotografia política”, que o levou a passar pela agência noticiosa da RDA, pelo
jornal oficial, mas também por uma
agência de publicidade e uma empresa
fotográfica. Com ligações profundas à
União Soviética, a Alemanha de Leste
servia de porto de abrigo de muitos comunistas espalhados pelo mundo, mas
também de escola de quadros onde
muitos funcionários recebiam formação técnica para as mais diversas atividades políticas. Foi assim com Pratas
que, no regresso, estava apto a ingressar no PCP com as armas e as bagagens
necessárias para registar tudo em memória futura.
Os anos de convívio com Álvaro Cunhal foram marcantes. “Marcou-me a forma dele falar sempre de igual para igual com as pessoas. Desde a camarada da limpeza ao secretário-geral de outro partido que viesse a Portugal. É uma forma de estar na vida. E isso aprendi com ele.” Nos anos da democracia, Cunhal já tinha a aura de uma figura histórica colada à pele. Podia ser intimidatório, ou fascinante. “Era óbvio e claro que todos tinham essa perceção.” É o que acontece sempre com pessoas acima da média. “Podemos passar a vida inteira a fotografar artistas plásticos, mas um dia fotografamos o Picasso. E aí, sabemos que fomos ao topo. Eu percebi isso quando fotografei Cunhal.”
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