sexta-feira, 3 de junho de 2022

Durante mais de uma década, José Carlos Pratas registou em imagens a vida do Partido Comunista

 


 Os anos de convívio com Álvaro Cunhal foram marcantes. “Marcou- -me a forma dele falar sempre de igual para igual com as pessoas. Desde a camarada da limpeza ao secretário-geral de outro partido que viesse a Portugal. É uma forma de estar na vida. E isso aprendi com ele.” Nos anos da democracia, Cunhal já tinha a aura de uma figura histórica colada à pele. Podia ser intimidatório, ou fascinante. “Era óbvio e claro que todos tinham essa perceção.” É o que acontece sempre com pessoas acima da média. “Podemos passar a vida inteira a fotografar artistas plásticos, mas um dia fotografamos o Picasso. E aí, sabemos que fomos ao topo. Eu percebi isso quando fotografei Cunhal.”
“Tive a sorte de andar com ele” e apenas fez questão de selecionar uma fotografia institucional: a do encontro entre Cunhal e Gorbachev, ainda o dirigente da URSS não chegara a secretário-geral do PCUS e nenhum imaginava que a perestroika estava ao virar de uma esquina da História. “Estão os dois sorridentes, porque eram dois camaradas de partidos diferentes que se encontravam.” Gorbachev veio ao Porto ao Congresso do PCP a chefiar a delegação soviética. “É um encontro privado e só eu tenho esta foto.”
para funcionário foi um passo de anão. “No princípio, era tudo muito pequeno e a propaganda do PCP era feita por designers, poetas, escritores, publicitários, realizadores de cinema”, conta José Carlos Pratas. O partido era como um íman a juntar intelectuais antifascistas que, voluntariamente, ajudavam às sucessivas causas políticas em que o PCP entrava de braços abertos. O jovem designer aprendia com os melhores, mas o partido não arriscava e antes de o responsabilizar pela tarefa de montar, organizar e gerir um laboratório de fotografia, enviou-o para um estágio na antiga República Democrática Alemã. O PCP não brinca em serviço e desde o início fazia questão de formar os seus quadros para as tarefas que tinham pela frente. “Os partidos irmãos ajudavam- -se mutuamente”, explica José Carlos Pratas. Durante nove meses, o jovem quadro comunista fez um “estágio de fotografia política”, que o levou a passar pela agência noticiosa da RDA, pelo jornal oficial, mas também por uma agência de publicidade e uma empresa fotográfica. Com ligações profundas à União Soviética, a Alemanha de Leste servia de porto de abrigo de muitos comunistas espalhados pelo mundo, mas também de escola de quadros onde muitos funcionários recebiam formação técnica para as mais diversas atividades políticas. Foi assim com Pratas que, no regresso, estava apto a ingressar no PCP com as armas e as bagagens necessárias para registar tudo em memória futura.

 

Os anos de convívio com Álvaro Cunhal foram marcantes. “Marcou-me a forma dele falar sempre de igual para igual com as pessoas. Desde a camarada da limpeza ao secretário-geral de outro partido que viesse a Portugal. É uma forma de estar na vida. E isso aprendi com ele.” Nos anos da democracia, Cunhal já tinha a aura de uma figura histórica colada à pele. Podia ser intimidatório, ou fascinante. “Era óbvio e claro que todos tinham essa perceção.” É o que acontece sempre com pessoas acima da média. “Podemos passar a vida inteira a fotografar artistas plásticos, mas um dia fotografamos o Picasso. E aí, sabemos que fomos ao topo. Eu percebi isso quando fotografei Cunhal.”  






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