AFINAL, ERA EM ANGOLA!
Dionísio Andrade
Tinha acabado de assistir ao fogo de artifício num convívio de amigos, num prédio situado nos Barreiros, sem nada a tapar a vista da deslumbrante baía do Funchal e com muito champanhe pelo meio, para os renovados votos de Bom Ano, e já cansado e meio tocado pelos aromas e fluídos de Baco, dei comigo no vale dos lençóis. A passagem de ano tinha sido maravilhosa e excecional. E de repente, a meio da noite, dei um salto da cama, meio confuso, com o sonho que acabara de ter.
Sonhara, que estava num país africano, em Luanda, Angola, (vejam lá onde andava a minha mente sonhadora). Como é possível, pensei eu, que depois de uma noite memorável, estar rodeado de gente de cor-negra, a festejar ruidosamente, não a passagem do Ano Novo, mas sim a decisão do Tribunal de Luanda em arrestar os bens e a congelar as contas bancárias de Isabel dos Santos, filha do anterior presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Bens roubados ao povo angolano, como sejam os diamantes, ouro e petróleo.
Não queria acreditar no que se estava a passar comigo. Mas, afinal, estes eventos não deveriam estar a acontecer em Portugal, num país europeu? Agora, em Angola? Num país inserido na geografia da corrupção! Só poderia estar no meio dum sonho… a justiça angolana a combater corruptos e todos aqueles que se apropriam dos bens públicos do Estado?! Ainda para mais, num regime, onde o prato forte tinha sido a perseguição feroz a todos os críticos, que o diga o jornalista Rafael Marques e outros ativistas angolanos. Quem não se lembra dos Generais e Coronéis que tinham empresas para sacar as riquezas de todo o povo angolano para as contas privados de meia dúzia de oligarcas em Angola e em paraísos fiscais. Devo estar muito equivocado! Devo estar a sonhar ou a delirar. E questiono-me novamente: OS TRIBUNAIS ANGOLANOS A PERSEGUIREM CORRUPTOS?
Será que o recente e enérgico discurso do sr. Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, era dirigido a Angola? Será que era um incentivo à justiça angolana? (Voltei a adormecer e a sonhar…) É que para este país de certeza que não foi, porque, felizmente, na Madeira, o MP e os tribunais têm perseguido este fenómeno da corrupção com implacável dureza, aqui não há corrupto que não seja punido exemplarmente, basta ver os mediáticos casos de corrupção julgados pelos nossos tribunais, em que os nossos burlões de alto calibre foram todos mandados para trás das grades. Vejamos o que aconteceu no caso de corrupção no porto do Funchal; vejamos o caso das facturas falsas engendradas num apartamento da Nazaré, onde o Estado foi lesado em vários milhões de euros; vejamos o que aconteceu aos nossos governantes que esconderam uma dívida superior a mil milhões de euros, à revelia da lei, do nosso do parlamento e do tribunal de contas; vejamos o caso do sr. Presidente do Governo, que em troca da compra do seu hotel falido, deu o Grupo Pestana, por ajuste direto, a exploração do nosso Centro Internacional de Negócios; vejamos a dura perseguição da lei aos vigaristas que, mancomunados com certos políticos, venderam um terreno de cabras no Porto Santo, por cerca de 6 milhões de euros; ( E continuava a sonhar…) vejamos o calvário judicial por onde irão desfilar os empresários que foram apanhados a furtar inertes nas nossas ribeiras e orla costeira; vejamos o caso da célebre agende de execução M. J. Marques, que burlou centenas de madeirenses, e foi exemplarmente castigada pelos nossos juízes. Sinceramente, não gostaria de estar na pele deles, ou então, são burros, pois sabem perfeitamente que a nossa justiça é mais intransigente que a justiça de Singapura quando esta apanha traficantes de droga. E mesmo assim, sabendo da dureza da lei, estes “desgraçados” ainda arriscam as suas carreiras, as suas famílias, e a sua liberdade, em negócios obscuros e outras golpadas. Foi então que percebi que voltara novamente a sonhar, que afinal, quem estaria em maus lençóis eram os corruptos angolanos, porque esta eficácia judicial afinal não era na minha terra, mas sim na longínqua Angola. Os meus belos sonhos foram embalados talvez pelo magnifico e glamoroso espetáculo do Fim de Ano, e com os alvores da manhã, percebi que mergulhara novamente num pesadelo, que é a realidade pura e dura. Afinal eu não estaria em Luanda, mas sim na Madeira, onde os magistrados do MP e os tribunais não mexem uma palha para castigar seja quem for que tenha o mínimo de influência ou alguém conhecido, em que a justiça é só implacável para os pilha-galinhas e para os críticos do sistema, normalmente jornalistas ou ativistas políticos.
Fiquei tão baralhado com tão estranhos sonhos… ao tempo a que chegámos! Um tipo a pedir em devaneios noturnos uma justiça para a sua terra igual há que existe agora em África. Quem diria! Nunca pensei assistir de tão perto a esta estranha troca de papéis, só espero que neste Novo Ano de 2020 os nossos magistrados façam um esforço e se aproximem, mesmo que levemente, dos seus congéneres africanos. Penso que não é pedir muito!
Um Bom Ano para todos! (ver Fénix do Atlântico)
Este texto mais parece ter sido feito pelo Gil Canha o maior "amigo" do Coelho.
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