Dois políticos de pacotilha feitos com o grupo Sousa
A Ti Antónia acabava de limpar as ervas daninhas que as últimas chuvas tinham feito crescer no poio onde plantara cebolas, quando sentiu uma restolhada no meio do feno que tomara conta do antigo Caminho Real, que subia o Vale do Porto Novo. Apurou o ouvido, e escutou uma guincharia angustiante trazida pela brisa do Oeste. Aflita, pegou na foice, e preparou-se para se defender de algo que fazia estremecer o mato na sua direção. E só por pouco é que não foi espezinhada por um bando de ratazanas em fuga. Com o bico da foice estacou um dos bichos, que por ser gorda e velha caminhava com dificuldades atrás das outras.
– Por favor não me mate, tenha misericórdia de mim! – apelou a ratazana que tinha gravado no pelo as iniciais JR - a malta só está de passagem, porque vamos fugir da ilha num barco que está no Porto do Caniçal.
- Mas soltaram a gataria atrás de vossemecês? – perguntou a velha admirada – tenho esta idade e nunca vi tanta rataria junta a levar tanto lume nas patas!
- Senhora, isto é uma desgraça! A gente não está a fugir nem de gato nem de cão, a malta está a debandar porque o deputado Miguel Iglésias e o Paulo Cafôfo criaram no parlamento regional uma Comissão Eventual contra a Corrupção!
- Ah suas digraçadas da peste, subam por aí acima, e dêem a volta à roda de Gaula a modes que os gajos do JPP não vos apilhem! – aconselhou Ti Antónia – eles também se aliarem aos xocialistas para caçarem vocês!
Uma rata de meia-idade, com uma toga de magistrada meia rasgada em cima do lombo, e que seguia atrás, ouviu a conversa, e, ainda ofegante com a subida, disse para a outra: - vou correr a avisar as da frente. Se calhar é melhor avisar o Ratão da AFA e a Ratazana Pestanuda para contornarem a freguesia com o grupo. Não sei é se as ratazanas que rapinaram inertes nas ribeiras vão aguentar o desvio, elas vão muito carregadas! – alvitrou a rata de meia-idade.
Depois de uma correria pela serra acima para fugir aos esbirros do JPP, só no vale de Machico é que a rataria desceu novamente, tomou a Levada dos Maroços, onde alguns turistas assustados pensaram que havia algum Flautista de Hamelin nas proximidades, e meteram-se aos saltinhos no velho furado do Caniçal. Quando saíram do túnel, viram ao longe o bem-aventurado porto. Uma ratazana, meia cambada, que tinha presidido a uma empresa pública, e que vinha auxiliada por uma outra rata, famosa por em tempos andar metida no negócio das parcerias público-privadas, disse para outra: - ainda bem que os ratões do governo vieram connosco, porque se não fosse o Rato Rocha da Selva tínhamos sido comidas pelas mantas e furões na serra. – Certo – replicou a amiga - menos mal que a nossa querida e grande líder Ratazana Pianista e a Calada vieram aos ombros das ratas do JM, porque segundo dizem no grupo, a Ratazana inglesa anda perdida no mato, ou fingiu-se perdida, porque ainda não apareceu!
A vista do porto do Caniçal fez a rataria apressar a correria, e num abrir e fechar de olhos estavam todas na entrada do porto, cansadas e exaustas, é verdade, mas muito animadas pelo fim da longa e sofrida jornada.
A primeira a chegar foi a Rata Cervejeira, que começou a gozar do manhoso Rato JMR (Presidente da Casa dos Ratos Loucos), que fizera a última etapa desta hercúlea fuga, abraçada ao velho Ratão do Quebra Costas. Ambas tinham as patinhas em sangue, devido à dureza da caminhada, embora, o velho Ratão JR também apresentasse algumas bolhas-de-água nas patas de trás, o resto, fora uns arranhões no silvado e o stress, estavam todas bem.
E quando mais mortas que vivas, as ratazanas se preparavam para subir pelos cabos de amarração do navio salvador, apareceu pela frente, fresca e vigorosa, a mais gorda e opulenta rata da ilha, a célebre Ratazana do Caniçal, que abriu as patas em frente ao assustado grupo, e ameaçou:
- Onde pensam que vão?! Aqui ninguém sobe para o meu navio!
A rataria desesperada e quase em pânico, explicou à poderosa Ratazana do Caniçal que o Iglésias e o Cafofo tinham criado uma Comissão Parlamentar contra a corrupção, e se não embarcassem já, estavam completamente perdidas.
A Ratazana do Caniçal começou a rir… chegou-se até ao velho amigo Ratão JMR, e com a patinha em cima do ombro dele, declarou em alta voz:
- Estejam todas descansadas que tenho tudo controlado! Então não viram suas tontas que essa Comissão é uma coisa do faz-de-conta, é tudo para encher chouriços e enganar papalvos! Até tenho um rato meu no meio deles a orientar a coisa. – E com um sorriso na ponta do focinho ordenou - voltem para trás e continuem com os vossos afazeres que ninguém vos vai fazer mal, garanto! Eles trabalham para mim, e se Deus quiser, e o Ratão Costa ajudar, ainda vão arranjar um dinheirinho para a gente fretar um novo Ferry.
Após estas palavras apaziguadoras, a rataria acalmou. Contudo, muito irritada, a grande ratazana das inspeções automóveis acusou colérica as mais novas, as Ronovadinhas, de terem causado todo aquele pânico insano, que poderia acabar numa tragédia igual àquela que aconteceu no funeral do General iraniano Qasem Soleimani.
Chamaram um carro da UBER, e regressaram de volta ao Funchal, todas aliviadas e agradecidas por haver na Madeira uma bela ratazana que velava pelos seus interesses. E quando passaram junto ao Palheiro Ferreiro, ficaram surpreendidas e furiosas por verem a Ratazana Inglesa a praticar calmamente o seu golfe.
Todas concluíram que não era só a Ratazana do Caniçal que sabia que aquela Comissão Anti-corrupção era simplesmente para inglês-ver… no sentido literal da palavra. (Ver Fénix do Atlântico)
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