"A UE afadiga-se neste momento para criar um tribunal para julgar os crimes de guerra. Mas, hipocritamente, só os crimes cometidos pelos russos"
Os intelectuais
não têm o
monopólio
da cultura,
dos valores
ou da
verdade, e muito menos o
monopólio do que se deva
entender por qualquer desses
“domínios do espírito”,
como dantes se dizia.
Mas também não podem
demitir-se de denunciar
o que, em seu entender,
considerem ser destrutivo
da cultura, dos valores e da
verdade, sobretudo quando
essa destruição ocorre
supostamente em nome da
cultura, dos valores e da
verdade. Os intelectuais
não podem impedir-se de
saudar o sol antes que o dia
nasça, mas também não
podem deixar de avisar
que muitas nuvens podem
toldar o céu antes que a noite
caia e impedir que se goze a
claridade do dia.
Assistimos na Europa à
(re)emergência alarmante de
duas realidades destrutivas
dos “domínios do espírito”:
a destruição da democracia,
com o crescimento das forças
políticas de extrema-direita;
e a destruição da paz com
a naturalização da guerra.
Qualquer destas destruições
é legitimada pelos valores
que visa destruir: a apologia
do fascismo é feita em nome
da democracia e a apologia da
guerra em nome da paz.
Tudo isto é possível
porque a iniciativa política
e a presença mediática estão
a ser entregues às forças
conservadoras de direita ou
de extrema direita, as quais,
ou advogam a destruição, ou
consideram que a simples
proposta de destruição
será um meio eficaz para
neutralizar a oposição das
forças progressistas. Estas,
por sua vez, insistem em
advertir contra o perigo
da guerra, advogar a paz
e alertar para o perigo do
fascismo, propondo medidas
de proteção social para que
a população sinta na bolsa
e na convivência que a
democracia é melhor que a
ditadura.
A destruição da paz e da
democracia dá-se em geral pela constituição desigual e
paralela de dois círculos de
liberdades autorizadas, isto
é, de liberdades de expressão
e de ação acolhidas pelo
poder mediático e político.
O círculo das liberdades
autorizadas para posições
progressistas que defendem
a paz e a democracia diminui
cada vez mais, enquanto
o círculo das liberdades
autorizadas para posições
conservadoras que fazem
a apologia da guerra e da
polarização fascista não cessa
de crescer. Vejamos alguns
dos principais sintomas deste
vasto processo em curso.
1. Os comentadores
progressistas estão cada
vez mais ausentes dos
grandes média, enquanto
os conservadores debitam
semanalmente páginas
inteiras de mediocridade
estarrecedora.
2. A guerra de informação
sobre o conflito entre a
Rússia e a Ucrânia apoderou-se de tal maneira da
opinião publicada que até
comentadores com algum
bom senso conservador se
submetem a ela com uma
subserviência repugnante.
No comentário semanal do
canal de televisão SIC no
passado dia 29 de janeiro,
o comentador Marques
Mendes, em geral pessoa de
bom senso dentro do campo
conservador, afirmou mais
ou menos isto: a Ucrânia tem
de ganhar a guerra porque,
se não ganhar, a Rússia
invadirá outros países.Donde vem esta enormidade
senão do consumo excessivo
de desinformação?
Não lhe terá ocorrido que
a Rússia pós-soviética quis
integrar a NATO e a EU e foi
rejeitada, e que a expansão
da NATO nas fronteiras
da Rússia, contra o que foi
prometido a Gorbachov,
pode constituir uma legítima
preocupação defensiva
por parte da Rússia, ainda
que seja ilegal a invasão da
Ucrânia, como eu fiz questão
de condenar desde a primeira
hora?
Não terá Marques
Mendes por um momento
pensado que uma potência
nuclear confrontada com a
eventualidade de derrota na
guerra convencional pode
recorrer a armas nucleares,
e que isso pode causar uma
catástrofe nuclear? E não se
dá ele conta de que na guerra
da Ucrânia se exploram dois nacionalismos para submeter
a Europa à total dependência
dos EUA e travar a expansão
da China, o país com quem os
EUA estão verdadeiramente
em guerra?
3. De modo sub-reptício, a
ideologia anticomunista que
dominou o mundo ocidental
nos últimos 80 anos está a ser
reciclada para fomentar até
à histeria o ódio antirrusso,
mesmo sendo sabido que
Putin é um líder autocrático,
amigo da direita e da
extrema-direita europeias.
Proíbem-se artistas, músicos
e desportistas russos,
eliminam-se cursos sobre a cultura e literatura russa, tão
europeias quanto a francesa.
Na primeira reunião
internacional do PEN Clube
depois da I Guerra Mundial,
realizada em Maio de 1923,
foi proibida a participação
de escritores alemães,
como parte da estratégia de
humilhação da Alemanha
no Tratado de Versalhes de
1919. A única voz discordante
foi a de Romain Rolland,
Prémio Nobel da Literatura
em 1915. Ele, que tanto
escrevera contra a guerra,
e especificamente contra
os crimes de guerra dos
alemães, teve a coragem
de afirmar, “em nome do
universalismo intelectual”:
“Não submeto o meu
pensamento às flutuações
tirânicas e dementes da
política”.
4. A democracia está a ser
tão esvaziada de conteúdo
que pode ser defendida
instrumentalmente pelos
que se servem dela para
a destruir, enquanto os
que servem a democracia
para a fortalecer contra o
fascismo são considerados
esquerdistas radicais.
No plano internacional,
foi unânime o coro
ocidental para celebrar os
acontecimentos da praça
Maidan de Kiev de 2014,
onde afinal a guerra de
hoje começou. Apesar de as
bandeiras de organizações
nazis estarem bem visíveis
nos protestos, apesar de
a fúria popular se dirigir
contra um presidente,
Victor Yanukovych,
democraticamente eleito,
apesar de as escutas
telefónicas terem revelado
que a neoconservadora
dos EUA, Victoria Nuland,
indicara os nomes de quem
assumiria o poder em caso de
vitória, incluindo o de uma
cidadã norte-americana,
Natalie Jaresko, que viria a
ser nomeada nova Ministra
das Finanças…da Ucrânia,
apesar de tudo isto, estes
acontecimentos, que foram
um golpe bem orquestrado
para afastar um presidente
pro-russo e transformar a
Ucrânia num protetorado
norte-americano, foi celebrado em todo o Ocidente
como uma vibrante vitória
da democracia. E nada disto
foi sequer tão absurdo quanto
o facto de um deputado
da oposição venezuelana,
Juan Guaidó, se ter autoproclamado Presidente
interino da Venezuela numa
praça de Caracas em 2019, e
isso ter bastado para os EUA e
muitos países da UE (incluindo
Portugal) o terem reconhecido
como tal. Em dezembro de
2022, foi a própria oposição
venezuelana a pôr termo a esta
farsa.
5. A dualidade de critérios
para julgar o que se passa no
mundo assume proporções
aberrantes e é exercida
quase automaticamente para
fortalecer os apologistas
da guerra, estigmatizar
os partidos de esquerda e
normalizar os fascistas.
Os exemplos são tantos
que custa selecioná-los.
No plano interno, dou dois
exemplos. O comportamento
arruaceiro dos deputados
do Chega no parlamento
é muito semelhante ao
comportamento do partido
nazi no Reichtag desde a sua
entrada no parlamento alemão
nos primeiros anos da década
de 1920. Houve tentativas para
os travar, mas a iniciativa
política pertencia-lhes e
as condições económicas
favoreciam-nos. Em maio de
1933, já ocorria a primeira
queima de livros em Berlim.
Até quando esperaremos em
Portugal? O segundo exemplo. Está
em curso um processo para
derrubar o governo socialista.
Seguindo uma orientação
da direita global muito
apadrinhada pelas instituições
de contra-insurgência
dos EUA, os governos de
esquerda que não puderem ser
derrubados por golpes brandos
devem ser desgastados por
acusações de corrupção. Em
Portugal, aparentemente, só há
corrupção no PS, e os mesmos
jornais que derrubaram José
Sócrates procuram derrubar
António Costa. Não faço
nenhum juízo sobre o que
fez ou não fez José Sócrates.
Apenas constato que ele foi
condenado nas páginas dos
jornais e nos noticiários da
televisão muito antes de ser
condenado pelos tribunais, o
que até agora, quase oito anos
depois, ainda não aconteceu.
Até ao momento, António
Costa tem-se revelado ser
um osso mais difícil de roer
pela direita, mas todos os
seus ministros, até prova em
contrário, são considerados
corruptos.
No plano internacional
refiro dois exemplos gritantes.
É hoje praticamente assente
que a explosão dos gasodutos
do Nordstream, em setembro
de 2022, foi obra dos EUA
(como, aliás, tinha sido
prometido por Joe Biden),
com a eventual colaboração
de aliados. Se foi ou não foi,
deveria ser prontamente
investigado por uma comissão
internacional independente.
O que parece evidente é que a parte prejudicada, a
Rússia, não tinha nenhum
interesse em destruir uma infraestrutura que lhe custara
cerca da 20 mil milhões de
dólares. Estamos perante
um crime grave que, a ser
verdade, configura uma ato de
terrorismo de Estado. Deveria
ser do máximo interesse para
os EUA, o Estado que se afirma
como defensor da democracia
global, averiguar o que se
passou. Em vez disso, pesa
sobre aquele ato terrorista o
mais profundo silêncio.
O segundo exemplo.
Intensifica-se a violência da
ocupação colonial da Palestina
por parte de Israel. Desde o
início do ano, Israel já matou
35 palestinianos; no dia 26
de janeiro fez um raid no
campo de refugiados de Jenin
no West Bank e matou mais
dez pessoas, incluindo duas
crianças. Um dia depois, um
jovem palestiniano matou sete
pessoas ao lado da sinagoga
de um colonato israelita na
secção oriental de Jerusalém,
ilegalmente ocupada por Israel.
A violência existe dos dois
lados, mas a desproporção
é brutal, e muitos atos do
terrorismo do Estado de
Israel (por vezes cometidos
impunemente por colonos ou
por militares nos checkpoints)
não chegam sequer a ser
noticiados. Não há enviados
dos média ocidentais para relatar o que se passa nos
territórios ocupados, onde a
maior violência ocorre. Não
temos imagens lancinantes
de sofrimento e morte do lado
palestiniano (exceto imagens
furtivas de telemovel). A
comunidade internacional e o
mundo árabe nada dizem.
Apesar da imensa
desproporção dos meios
bélicos, não há nenhum
movimento para enviar
equipamento bélico eficaz para
a Palestina. A Europa, que
no holocausto tantos Judeus
vitimou e está, por isso, na
origem remota dos crimes
cometidos contra a Palestina,
mostra hoje uma cumplicidade
odiosa com Israel. A UE
afadiga-se neste momento para
criar um tribunal para julgar
os crimes de guerra. Mas,
hipocritamente, só os crimes
cometidos pelos russos.
Perante tudo isto, talvez o
silêncio mais profundo seja o
dos intelectuais. Ao contrário
do que aconteceu no início do
século XX, não há declarações
retumbantes de conhecidos
intelectuais pela paz ou pela
“independência de espirito”
e em defesa da democracia.
Por que se terão calado?
Haverá ainda intelectuais,
ou o que resta é uma pobre
clericultura? -JL
Este sociólogo anti-patriota está ao serviço da Internacional, o único hino que conhece.
ResponderEliminarFoi recentemente fazer merda ao Brasil.
Mas que comentário reacionário!
ResponderEliminar"O pensamento de um marxista realmente não tem nenhum compromisso com as nações, a sua história, cultura e tradições.
ResponderEliminarPassou pelo Rio e São Paulo o professor Boaventura Sousa Santos, português, para o lançamento de um livro alusivo aos 200 anos da Independência. Bem acolhido nos “media”, deleitou-se ao defender teses completamente diversas daquelas que a sociedade brasileira conhece e acredita. Começa por, em entrevista ao diário económico “Valor”, afirmar que “a invasão e ocupação portuguesa do Brasil estão na origem da desigualdade social, racismo, sexismo (?), violência contra indígenas e afrodescendentes”.
Portugal, ao que se sabe, descobriu o Brasil e colonizou-o no sentido de criar uma nação, formar um povo. Nada existia que não tribos indígenas, sem nenhum progresso ou unidade. Muito diferente do lado espanhol das Américas, onde astecas e incas tinham uma forte história cultural. Além do mais, nos últimos 35 anos, em especial a partir da Constituição de 1988, 11% do território nacional pertence a “reservas indígenas”, protegidas a tal ponto que não se sabe bem o que se passa por ali. Os índios brasileiros, na sua maioria, estão aculturados, adeptos do “blue jeans” e das “T-shirts” do “Flamengo” ou do “Corinthians”.
Ao falar em “invasão e ocupação portuguesa”, ignora solenemente os 13 anos em que a capital do Reino era o Rio de Janeiro, de onde D. João VI governou como Regente e depois coroado. Nem aborda que a separação, a que chamam Independência, foi feita por um português, o Imperador Pedro I, que depois foi Pedro IV, de Portugal. Muito menos que a Rainha Maria II, com o mais longo reinado do século XIX, era brasileira.
Na sua fúria contra a herança portuguesa, o professor de Coimbra, negando as evidências de que o Brasil herdou de Portugal a cultura, o idioma e a religião, investe contra Gilberto Freyre. Afirma que o mito da democracia racial mostrada pelo sociólogo-mor no seu livro “Casa Grande e Senzala” foi deitado abaixo. E volta a afirmar que, no Brasil, negros, mulheres e indígenas são seres inferiores.
Na sua evidente militância ideológica, diz que assistimos a ascensão da direita no Brasil. Não parece acompanhar os resultados eleitorais na Itália, Reino Unido, França, Israel, Hungria, Polónia e outros países. E o crescimento dos conservadores na Península Ibérica , diante do fracasso das gestões supostamente socialistas.
Infelizmente, na América Latina o que estamos a assistir é um esquerdismo populista, por vezes corrupto e sempre ineficiente, enfraquecendo muitos países.
Boaventura Sousa Santos não teve oportunidade de reparar na forte presença das mulheres na vida brasileira, no Parlamento, nas altas funções públicas, no mundo empresarial, cultural e artístico. E dos mestiços, que formam a maioria da população. As antigas famílias da aristocracia é que estão a rarear enquanto grandes actores da vida nacional, e miscigenados com originários de outros países e raças, inclusive asiáticos, relevantes em alguns estados, como em São Paulo. Já esteve no Brasil para esse tipo de estudo, em favelas, mas, ao que parece, o que realmente aprendeu foi a tomar uma caipirinha e a usar sandálias “Havaianas”.
Pobre Pedro Álvares Cabral: passou de descobridor a invasor.
Curioso é que esses estudiosos nunca deram uma explicação para a modesta presença de negros e mestiços em funções relevantes em Cuba, onde representam bem mais do que no Brasil. Fidel Castro, sim, era um aristocrata galego."
Este Boaventura é um tonto nem vale a pena discutir com um idiota desta calibre.
ResponderEliminarhttps://www.jm-madeira.pt/regiao/ver/198143/PTP_diz_ter_sido_informado_de_que_obras_no_Hospital_dos_Marmeleiros_nao_foram_concluidas_nas_melhores_condicoes
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