Batalha de Stalingrado, a mais sangrenta da história da humanidade
Boris Egorov
Há exatamente 80 anos, em 2 de fevereiro de 1943, as últimas unidades militares alemãs se renderam às forças soviéticas na cidade de Stalingrado: o evento marcava o fim da maior batalha da Segunda Guerra Mundial.
A batalha mais sangrenta da história da humanidade, que tirou a vida de mais de um milhão de pessoas, mudou o curso de toda a Segunda Guerra Mundial. Após a vitória em Stalingrado (atual Volgogrado), o Exército Vermelho tomou a dianteira e não desistiu até o final da guerra. Como e a que preço essa vitória foi alcançada?
Caminho para StalingradoBatalha de Stalingrado. Tanques T-34 em 1942 ou1943.- Sovfoto/Getty Images
Batalha de Stalingrado. Tanques T-34 em 1942 ou1943.- Sovfoto/Getty Images
Após uma derrota esmagadora perto de Moscou no final de 1941, os alemães não puderam realizar uma ofensiva simultânea em toda a extensão da frente soviético-alemã.
No início da guerra, de acordo com o plano da Operação Barbarossa, os nazistas queriam atacar a URSS em todas as direções, mas a estratégia estava condenada ao fracasso.Tropas alemãs perto de Maykop.- Domínio público
Assim, os alemães decidiram concentrar suas forças na direção sul. Em 5 de abril de 1942, Adolf Hitler aprovou um plano denominado “Caso Azul”, cujo objetivo principal era tomar o controle sobre as grandes jazidas de petróleo no Cáucaso. Na época, essas jazidas representavam mais de 70% da produção total de combustível de toda a União Soviética.
Na primavera de 1942, a Wehrmacht reforçou suas posições no leste da Ucrânia, preparando-se para uma grande ofensiva de verão. O plano, no entanto, não poderia ser realizado sem uma cobertura de flancos confiável. Assim, uma parte das forças alemãs teve que avançar na direção do principal centro industrial e de transporte da região, Stalingrado, e construir uma defesa sólida ao longo dos rios Don e Volga.Infantaria alemã.- Bundesarchiv
Infantaria alemã.- Bundesarchiv
Ao lançar uma ofensiva em 12 de maio perto de Kharkov (atual Ucrânia), que terminou em desastre total e na perda de mais de 200 mil soldados, o Exército Vermelho facilitou a realização dos planos alemães.
Em 28 de junho, começou a operação “Caso Azul”: as tropas alemãs avançaram rapidamente em duas direções, Cáucaso e Stalingrado, superando centenas de quilômetros e isolando dezenas de milhares de soldados soviéticos das forças principais.
Em 23 de agosto de 1942, Stalingrado sofreu um terrível bombardeio, que matou mais de 40 mil pessoas e destruiu a maior parte da cidade.
O morador de Stalingrado Boris Krjijanovski escreveu sobre o evento em suas memórias da seguinte forma (leia mais trechos de participantes da batalha encontrados em diários e cartas aqui): “Em 23 de agosto, começou um bombardeio maciço depois do almoço. Em dois dias, a cidade foi destruída. Primeiro, destruíram o bairro central, onde eu morava. Fomos a um abrigo antiaéreo e, no dia seguinte, nossa casa deixou de existir.”
Inferno na Terra
1942. Vista de bomba sendo jogada em indústria química em Stalingrado.-Heinrich Hoffmann/Getty Images
1942. Vista de bomba sendo jogada em indústria química em Stalingrado.-Heinrich Hoffmann/Getty Images
Sob o ataque do 6º Exército de Friedrich Paulus e do 4º Exército Panzer de Hermann Goth, as forças soviéticas recuavam em direção a Stalingrado. Em meados de setembro de 1942, começaram sangrentas batalhas nas ruas da cidade.
Assim, gradualmente, Stalingrado se transformou de mira secundária em alvo principal de Hitler. Ambos os lados enviavam mais e mais forças para a cidade, que passou a ser conhecida como “moedor de carne”.Tropas soviéticas defendendo a cidade.- Keystone-France/Getty Images
Tropas soviéticas defendendo a cidade.- Keystone-France/Getty Images
Stalingrado foi defendida pelo 62º Exército do general Vassíli Tchuikov, que apostou na criação de pequenos grupos de assalto móveis. Esses grupos “se fecharam e se firmavam em edifícios e em solo e esperavam a aproximação dos nazis para lançar uma granada”, escreveu Tchuikov em suas memórias. Os grupos de assalto também penetravam na retaguarda do inimigo através de túneis subterrâneos.
Além da Wehrmacht, os defensores de Stalingrado tiveram que lutar contra outro inimigo invisível: uma epidemia de cólera ameaçava cobrir toda a cidade. Foi somente por meio dos incríveis esforços dos médicos soviéticos que um desastre ainda maior foi evitado.Prisioneiros de guerra alemães.- Vladímir Iúdin/Sputnik
Prisioneiros de guerra alemães.- Vladímir Iúdin/Sputnik
Os primeiros surtos da doença foram registrados na região controlada pelo inimigo, e o comando soviético não excluía que a doença poderia se tornar um aliado na luta contra as tropas alemãs. O cólera, porém, não respeitava qualquer linha de frente. Logo, junto com refugiados e tropas em retirada, ele entrou em Stalingrado. Em 18 de julho, os primeiros casos da doença foram confirmados em vários bairros da cidade.
O comando soviético mobilizou todos os trabalhadores de serviços médicos que não estavam envolvidos na construção de fortificações defensivas para lutar contra a doença. Essa decisão permitiu examinar 15 mil pessoas e vacinar até 50 mil pessoas por dia. Leia mais sobre como os soviéticos combateram a epidemia nas condições da guerra aqui.
A grande viradaSoldados soviéticos tomam Friedrich Paulus como prisioneiro. Iliá Tarantsov/TASS
Soldados soviéticos tomam Friedrich Paulus como prisioneiro. Iliá Tarantsov/TASS
Embora os alemães tivessem tomado o controle sobre a maior parte de Stalingrado, não conseguiram tomar toda a cidade antes do inverno. O 6º Exército ainda lutava arduamente na cidade, enquanto, em 19 de novembro, as tropas soviéticas lançaram repentinamente uma ofensiva estratégica de grande escala apelidada de “Operação Urano” e desferiram um golpe esmagador nos flancos do inimigo, defendidos por fracas unidades romenas.
Os alemães, na esperança de evitar uma catástrofe, enviaram urgentemente suas reservas para ajudar as unidades romenas. No entanto, a 22° Divisão de Tanques alemã não conseguiu resgatar o 3º Exército Romeno por uma razão inacreditável: uma parte dos tanques alemães simplesmente não dava partida, enquanto os outros tanques morriam logo após a partida.Stalingrado liberada em janeiro de 1943. Sovfoto/Getty Images
Stalingrado liberada em janeiro de 1943. Sovfoto/Getty Images
No fim das contas, a culpa era simplesmente dos ratos-do-campo que viviam na palha usada como proteção (leia mais sobre como os ratos ajudaram o Exército Vermelho a derrotar os nazistas em Stalingrado aqui).
Em 23 de novembro, um cerco com quase 330 mil soldados do exército de Friedrich Paulus se fechou. No entanto, a situação ainda não parecia catastrófica para os nazistas. Hitler ordenou que o 6º Exército permanecesse na cidade e, recebendo suprimentos por via aérea, esperasse por ajuda.Legion Media
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