segunda-feira, 27 de novembro de 2023

‘CAMÕES PEQUENO’ APRESENTADO NO DIA 30 DE NOVEMBRO EM MACHICO

 Convite a todos aqueles que amam a liberdade de expressão e o pluralismo democrático

 


No âmbito do início das celebrações do 250º aniversário natalício de Francisco Álvares de Nóbrega, «Camões Pequeno», a Câmara Municipal de Machico promove o lançamento da obra literária inédita “Camões Pequeno, Francisco Álvares de Nóbrega - Obra Completa”, com direção de Daniel Pires, investigador da Universidade Aberta e diretor do Centro de Estudos Bocagianos.

A obra conta com prefácio de José Martins Júnior, presidente a EFAN - Estudos Nobricenses e com posfácio do consagrado Professor da Universidade Aberta, Eduardo Franco.

A sessão terá lugar no dia 30 de novembro, às 18 horas na Sala Multiusos do Fórum Machico.

https://www.jm-madeira.pt/palcos/ver/224333/Camoes_Pequeno_apresentado_no_dia_30_de_novembro_em_Machico

Francisco Álvares de Nóbrega - Camões Pequeno

 Francisco André Álvares de Nóbrega que também foi conhecido pelo Camões Pequeno, segundo alguns autores teria nascido no sítio da Torre, em Machico; tendo passado a infância na casa dos progenitores localizada naquele concelho, na Banda D’Além, mais precisamente na Rua dos Moinhos, onde também consta que teria nascido, a 30 de Novembro de 1773, aliás como vem claramente expresso no seu Registo de Baptismo.
Era filho do 2º casamento de Domingos de Nóbrega Barreto, O Furão, que nascera no Funchal, na freguesia de Santa Maria Maior do Calhau, e de Dª Ana Rita de Sampaio, natural de Machico; onde casaram em 15 de Fevereiro de 1773.
Segundo informa a distinta investigadora Ivone Correia Alves no ensaio Para Uma Biografia de Francisco André Álvares de Nóbrega, o padrinho do nosso poeta «foi o Dr. João José Espinosa Martel (1746-1812), bacharel em Cânones, formado pela Universidade de Coimbra, professor de Gramática Latina no Funchal, mas natural e com residência principal em Machico»; casado com Dª Ana Martins Perestrelo da Câmara, herdeira do vínculo do Caramanchão de Machico e de outros bens; facto que nos leva a presumir, com segurança, que os pais do escritor seriam pessoas consideradas e estavam bem relacionados.
Na verdade, o progenitor do nosso poeta era sapateiro e exercia a função de Contestável da Fortaleza de São João Baptista, cargo meramente representativo, mas de muita importância, pois competia-lhe vigiar e dar aviso com fachos ou búzios, sempre que assomassem à costa armadas de corsários; acontecimento que naquela época era frequente e muito perigoso para as populações e os seus haveres.
Podemos assim dizer que embora não fosse filho da classe dominante, o escritor pertencia à camada média machiquense, e por consequência, viveu uma juventude normal e sem grandes privações materiais, na vila de Machico, onde circundado por uma deslumbrante paisagem, teria sido feliz, em pobre, sim, mas paternal morada, bem abrigado por gente simples, respeitada e trabalhadora, e espairecendo junto ao mar azul da mais bela baía da ilha, como, aliás, deixou bem assinalado num precioso soneto:

Na fralda de dois íngremes rochedos,
Que levantam aos Céus fronte orgulhosa,
Existe de Machim a Vila idosa,
Povoada de escassos arvoredos.

Pelo meio, alisando alvos penedos,
Desce extensa Ribeira preguiçosa:
Porém tão crespa na estação chuvosa,
Que aos Íncolas infunde respeito e medos.

Às margens dela em hora atenuada,
Vi a primeira luz do sol sereno.
Em pobre, sim, mas paternal morada.

Aos trabalhos me afiz desde pequeno,
O abrigo deixei da Pátria amada,
E vim ser infeliz noutro terreno.

Depois de aprender as primeiras letras em Machico, seu pai permitiu que viesse para o Funchal, com apenas com nove anos de idade, para se empregar na loja de fazendas do abastado comerciante Marco João de Ornelas, que foi descobrindo que o seu jovem protegido, além de desfrutar de muita sensibilidade e criatividade, possuía grande talento para escrever e poetar, e talvez por isso, em Janeiro de 1793, quando Francisco Álvares de Nóbrega teria cerca de 20 anos de idade, propiciou-lhe a possibilidade de matricular-se no Real Seminário de São João Evangelista, que então era dirigido pelos jesuítas.
De facto, apesar do nosso poeta ter escrito que o seu patrão lhe tinha ministrado ensinamentos e instrução, tudo nos indica que antes de encetar estudos mais avançados, aprendera a ler, a escrever e a contar em Machico; e só depois, o seu protector proporcionou-lhe outros conhecimentos e saberes, atenção que Francisco Álvares de Nóbrega sempre enalteceu com gratidão:
...Naquela época em que se respirava uma atmosfera de mudança, e fervilhavam surdas controvérsias contra a aspereza e o conservadorismo da Velha Ordem, Francisco Álvares de Nóbrega, influenciado pelos ventos revolucionários desses tempos, confidenciou ao seu amigo e colega de Seminário João Mendes da Silva, que se sentia aferrolhado e oprimido no Colégio jesuíta, onde lhe aplicavam carradas de arcaísmos em enfadonhas aulas de Teologia e Gramática Portuguesa e Latina:
... Todavia, como relatou o brilhante investigador Daniel Pires numa conferência realizada em Machico, intitulada Francisco Álvares de Nóbrega: Retrato dum Pensador, o nosso poeta compensava esses constrangimentos bebendo, absorto e mudo, as brilhantes aulas do professor de Retórica e membro activo da maçonaria, cónego Deão da Sé João Francisco Lopes da Rocha, que o marcavam, particularmente, pelo seu discurso claro e pelos seus ideais filantrópicos, afeição que ficaria bem patente num emocionante poema que o nosso poeta lhe dirigiu:
... Todas essas circunstâncias, e muito especialmente a sua inclinação para a poesia repentista, conjugada com a falta de apego pela carreira eclesiástica, determinaram que muito cedo fosse conhecido como poeta de mérito, e intelectual com pendor para conhecer e divulgar as mais modernas correntes de pensamento da sua época, então muito marcadas pelos ventos da Revolução Francesa, e pelo pensamento rebelde e liberalizante de Voltaire, dos enciclopedistas, e doutros filósofos revolucionários.Simplesmente, para grande desventura do jovem escritor, em todo aquele período era rigorosamente proibida a livre expressão de tais doutrinas, punidas pela legislação opressora da rainha D. Maria Iª, e sobretudo pela actividade policial do Intendente Diogo Inácio Manique - terrífico reaccionário que, acolitado pelos seus informadores e bufos, então chamados Moscas, reprimia qualquer tentativa progressista, que agitasse, minimamente, os parâmetros ideológicos em que assentava a Velha Ordem.
E, quando já frequentava o 3º ano, e tinha sido admitido a ordens menores, impelido pelo entusiasmo e pelas verduras da juventude, Francisco Alvares de Nóbrega se atreveu a satirizar o bispo D. José da Costa Torres, figura conservadora e doutorado em cânones pela Universidade de Coimbra; este, não suportando a irreverência e a crítica mordaz dos seus versos, ordenou a expulsão do poeta do Seminário e manobrou para que ficasse preso nos cárceres do regime; acusado de pertencer à maçonaria, e de ser um perigoso pedreiro-livre, doutrinado pelo seu mestre e mação, Cónego Dr. Lopes Rocha, fidagal inimigo do Bispo, com quem se tinha envolvido em ruidosas polémicas, que só não atingiram consequências mais extremas, pelo facto de, em 23 de Junho de 1792, ter sido promulgado um edital que perdoava os que se tinham alistado nas lojas maçónicas.
É, assim, um facto indiscutível o papel decisivo do bispo D. José da Costa Nunes, na expulsão do nosso poeta do Seminário e na sua posterior prisão. De notar até, que devido às crueldades e à desmedida opressão exercida sobre os defensores das ideias progressistas, temendo fortes represálias e vinganças, esse prelado saiu, precipitadamente, e quase em fuga da Madeira, a 6 de Outubro de 1976, sem se despedir de pessoa alguma, nem do Santíssimo Sacramento, ocorrência que Francisco Álvares de Nóbrega exprimiu com regozijo:(leia mais AQUI)

3 comentários:

  1. Se o Camões Pequeno fosse vivo, escreveria isto:

    Oh, ilha da Madeira, sob o manto de enganos,
    Que as mentes despertem do domínio dos insanos.
    Que a caneta do jornalismo escreva a verdade,
    Libertando almas, rompendo a falsidade.

    Com almas vendidas ao diabo sombrio
    Privilégios ganham, mas o preço é vazio.
    Exploram jornalistas, suas penas amordaçadas,
    Em teias de mentiras, histórias encenadas.

    O padre, que deveria pregar retidão,
    No seu diário, semeia confusão e ilusão.
    O meia saca, na ganância desmedida,
    Foge da verdade, como sombra escondida.

    Em salões de poder, onde flui o dinheiro
    Venderam ao diabo o espírito inteiro.
    Jornalistas amordaçados, palavras sufocadas,
    Verdades escamoteadas, notícias abafadas.

    Nas manchetes, dançam as marionetes.
    Palavras são moedas, mas a verdade se esquece.
    Enquanto directores enriquecem, com o suor alheio,
    os seus jornalistas sofrem perante a ganância sem freio.

    Que o poema seja eco, como brado de justiça,
    Desmascarando a corrupção, essa vil malícia.
    Que a luz da verdade, como farol a brilhar,
    Ilumine a ilha, fazendo a mentira naufragar.

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  2. ….. leia mais aqui, é maçador, preciso provar

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