«Comparando com outras organizações da época, a FLAMA não foi uma brincadeira de meninos?
Não foi, não! Houve variadíssimos petardos, carros destruídos, casas, etc. Por acaso não morreu ninguém.
Lembro-me da célebre ocupação do Centro Regional da Emissora Nacional, na Rua dos Netos. Os gajos da
FLAMA tinham uma lista de pessoas para serem deportadas ou para matar e eu tinha a minha mãe a ligar
porque ouvira isso na televisão e estava preocupada. Fomos agarrar na «tropa pesada» dos operários da
construção civil do Casino da Madeira e fomos com esses gajos todos de picaretas e não sei quê num
Caterpillar para lá. Entrámos na Rua da Carreira, que era quase em frente à sede do PCP, e disse ao
condutor: «Põe esta merda no meio deles e avança, mas cuidado, não mates ninguém!» Os gajos começaram
a zarpar, houve gente a atirar-se do primeiro andar da Emissora Nacional. Alguns foram parar ao hospital
com cabeças partidas. E agora adivinhe quem foi ao hospital arrancar a folha das entradas? Alberto João
Jardim! Portanto, nunca houve registo dos gajos que ocuparam e vandalizaram a Emissora Nacional. Foi este
o clima que se viveu na Madeira, não foi uma brincadeira de meninos.»
Miguel Carvalho "Quando Portugal ardeu"
Durante décadas, os tempos da FLAMA foram uma espécie de tabu entre os protagonistas. Quando
chamados a pronunciar-se, alguns negavam conhecer os operacionais. «Jardim estava a par de tudo»,
assumira Daniel Drummond, um dos fundadores do PSD na Madeira. Quando chegou a líder regional, em
1978, Alberto João terá acordado com os elementos do diretório da FLAMA o fim dos atentados, mais de
70, que vinham de 1975. O «pacto de silêncio» não seria mantido na totalidade. E a quebra do mesmo, em
algumas ocasiões, poderá estar relacionada com as estranhas mortes de vários «flamistas», entre os
quais Jorge Cabrita, Júlio Esmeraldo e José Bacanhim, sempre em circunstâncias misteriosas e nunca
totalmente esclarecidas. Esmeraldo, um dos mais ativos operacionais da FLAMA, apareceu morto numa
festa em Santana, após ter sido agredido no crânio. Quanto a Bacanhim – que, entre outras funções,
recolhia dinheiro da comunidade madeirense na Venezuela para os «flamistas» –, seria encontrado na
Baía do Machico, de pés e mãos atados. Ainda antes do auge do bombismo madeirense, faleceram dois
jovens simpatizantes do movimento separatista. Rui Alberto, militante da Juventude Centrista, morreu a
manusear uma bomba-relógio no Porto Santo. Alírio Fernandes foi outro. Carregara gelamonite para
aquela ilha e apareceu sem vida na Prisão Militar de Santiago. Enforcado.
Em 2005, o autor destas linhas encontrou-se na Madeira com o antigo autarca de Machico, Rufino
Teixeira, ex-membro da FLAMA, a pretexto dos 30 anos da organização separatista. Aos 85 anos
(entretanto faleceu), definia-se como um «patriota, esteta e extremista com orgulho». Da sua imaginação
tinha saído a ideia da bandeira da FLAMA, a tal que a Madeira independente deveria usar um dia: azul,
«de céu e mar»; amarelo-ouro, «porque a Madeira é ouro para nós»; e cinco escudetes de Portugal,
«sinónimo da nossa eterna ligação à pátria», explicava aquele estudioso de numismática e heráldica. A
proposta foi polémica e a discussão dos símbolos, acalorada, pois houve sugestões para que a bandeira
também cortasse, de vez, quaisquer laços com o retângulo continental. Mas a ideia de Rufino venceu.
«Naquele tempo, toda a Madeira era flamista. Queríamos a independência, mas sentíamo-nos
portugueses. Não queríamos era ser parte de um Portugal comunista.»
Mas a independência nunca se concretizou e aquela ficou apenas para a História como… a bandeira da
FLAMA. «Para tristeza minha», lamentava-se Rufino, antigo aluno da Sociedade Nacional de Belas-Artes.
Décadas depois, a bandeira continuava pintada em muitas paredes e muros da região autónoma,
guardada em velhos isqueiros, porta-chaves e postais, ou em tamanho natural, nas casas de madeirenses.
Nem a FLAMA nem a bandeira sobreviveram à mudança das marés.
Em 1978, a Região Autónoma da Madeira adotou as cores e os símbolos, mas fez desaparecer as quinas
portuguesas. «Passaram à clandestinidade», dizia Rufino. Aos mastros dos edifícios públicos subiu a
bandeira dos que, «mesmo estando envolvidos na FLAMA, tiveram medo de ser considerados
separatistas». Alberto João Jardim iniciava, então, o seu longo reinado, que só terminaria em 2015.
Rufino, apesar de melancólico, não guardava saudades desse tempo de fervuras. Apenas cautelas:
aceitara conversar com o jornalista, mas na condição de o fazer no interior do seu carro, longe de
olhares indiscretos e sem direito a fotografia. Semanas depois, nesse mesmo ano de 2005, o repórter
recebeu, na redação, uma carta anónima. Escrevia o suposto remetente «Luís Boa Morte», de «Cabeço de
Ferro», Funchal: «Caro Jornalista. Você esteve na Madeira a bisbilhotar a vida de cada um, tivemos
conhecimento de todos os seus passos e até fotografámos a tua carrinha. Tem juízo e vê lá o que andas a
fazer porque não gostamos de cubanos, o nosso braço é longo e também podemos chegar aí. Não é a
primeira vez nem será a última que amaciamos o pelo a alguém, e se no passado metemos bombas no
presente já SUICIDAMOS alguns. Está tudo nas tuas mãos, inclusiva (sic) esse coiro sem valor algum.»
Emissora na Rua dos Netos, Emissora na Rua da Carreira (onde sim, foi a sede do Pc-Madeira)...há aqui alguma confusão!...
ResponderEliminarMuito rezaram os comunas para que a Flama parasse as brincadeiras. Mas podem voltar a brincar a qualquer momento
ResponderEliminarA Flama queria a independência para depois entregar a Madeira aos jesuítas espanhóis. É este o segredo que esses traidores tremem de medo se se souber
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