1963-2021 Pastor carismático nigeriano, televangelista e filantropo. A BBC chamou-lhe o
“televangelista mais popular da Nigéria”, outros preferiram o epíteto de “Oprah do evangelismo”
T.B. Joshua
A causa da morte não foi
revelada, até porque seria estranho saber-se de
que terá falecido, ademais na flor da idade, um homem que curava todos os males
do mundo, covid-19 incluída,
graças ao poder da oração e da
fé, ainda que o não fizesse de
graça: a “Forbes” designou-o,
em 2011, o terceiro pastor mais
rico da Nigéria e, apesar de os
seus assessores de imprensa se
terem apressado a desmentir a
notícia de que teria comprado
um jacto privado por 60 milhões de dólares, o certo é que
acumulou ao longo dos anos
uma colossal fortuna com a sua
Sinagoga-Igreja de Todas as Nações (SCOAN), seita evangélica
dona da Emmanuel TV, sediada
em Lagos, cujo canal no YouTube tem quase dois milhões de
seguidores e 600 milhões de visualizações.
A BBC chamou-lhe
o “televangelista mais popular
da Nigéria”, enquanto outros
preferiram o epíteto de “Oprah
do evangelismo”, algo que não
o parece ter incomodado muito, nem aos seus cinco milhões
de fãs no Facebook. Em Abril
passado, o YouTube encerrou o
canal da Emmanuel TV devido
às frequentes diatribes homofóbicas do falecido pregador, que
em resposta lançou a campanha “rezem pelo YouTube”, até
agora sem resultados visíveis.
Não foi esta a única controvérsia em que se viu envolvido
Temitope Balogun Joshua (aka
T. B. Joshua), nascido em 12 de
Junho de 1963 em Oosin, um
bairro pobre de Arigid Akko, no
estado de Ondo, sudoeste da Nigéria. Segundo o próprio, esteve
15 meses no ventre da mãe, a
aguardar a altura propícia para
vir ao mundo, e não parece ter-
-se enganado nos cálculos, pois,
sete dias após o nascimento,
uma explosão numa pedreira
das imediações projectou várias
pedras sobre o telhado da casa
onde dormia, o que, parecendo
um sucesso infausto, foi sinal de
intercessão divina, a qual, todavia, não se mostrou suficiente
para levá-lo a concluir os estudos secundários, apesar de já na
altura ministrar cursos bíblicos,
possivelmente nas horas vagas
do seu emprego como encarregado de limpeza dos galinheiros de uma exploração agrícola, do
qual tentou livrar-se candidatando-se às forças armadas.
Os céus voltaram a colocá-lo
no bom caminho e uma avaria
nos comboios fê-lo ficar apeado
quando se dirigia à academia
militar. Então, Deus apareceu-
-lhe, ungiu-o e ordenou-lhe que
fundasse um novo culto, cujas
águas milagrosas, distribuídas
semanalmente a milhares de
fiéis, têm curado a VIH, o Ébola,
o cancro da mama, a cegueira, a
covid-19 e outras maleitas, além
de sararem feridas, resolverem
problemas conjugais e espirituais e promoverem o abandono
de vícios vários, como o tabaco,
o álcool, as drogas, os impulsos
suicidas e a homossexualidade.
Entre outros prodígios, os exorcismos de Joshua curaram uma
rapariga sul-africana que chorava sangue, um liberiano que uivava e se comportava como um
cão, um paraguaio travestido
de mulher, um jovem possuído
por um lascivo demónio gay, um
terrorista do Boko Haram que
planeava dinamitar o templo da
SCOAN e vários políticos africanos e celebridades de “Nollywood”, a florescente indústria
cinematográfica nigeriana.
T. B. percorreu África, a Ásia
e a América Latina naquilo que
designou por “cruzadas”, enchendo estádios de futebol com
milhares de fiéis (100 mil em
Cali e em Lima, 200 mil na Cidade do México), e a sua popularidade era tal que, numa decisão
inédita, não isenta de polémica,
o parlamento do Paraguai lhe
atribuiu a Ordem Nacional do
Mérito, a mais alta condecoração do país, tendo o pastor
também recebido, em 2008, a
mais elevada distinção da Nigéria, a Ordem da República Federal (em contraste, o governo
dos Camarões, por pressão dos
líderes religiosos autóctones,
receosos da concorrência, classificou-o como “filho do diabo”
e proibiu-o de entrar no país).
Nem isso nem a sua intensa
actividade filantrópica o livraram, porém, de abundantes
querelas: em 2011, três infec tados com VIH morreram em
Londres depois de supostamente terem seguido os seus conselhos para pararem de tomar
medicamentos; em 2013, a notícia de que estava a ser distribuída água milagrosa na filial da
SCOAN no Gana fez paralisar a
capital do país e provocou quatro mortos e dezenas de feridos;
em 2014, um desabamento nas
instalações da SCOAN fez 115
vítimas mortais, entre as quais
84 sul-africanos.
Em matéria de profecias,
previu a morte de Michael
Jackson e de diversos líderes
africanos (todos de provecta
idade), o nome do vencedor
de duas edições da Taça das
Nações Africanas, o desaparecimento do voo da Malaysia
Airlines, os ataques terroristas
em Paris, Bruxelas, no Quénia
e em Boston e a vitória de Hillary Clinton (quando se soube
que Trump ganhara, o pastor
apagou a previsão das redes
sociais, explicando que se referira ao triunfo de Hillary no
voto popular). Tarda, contudo,
o cumprimento de outra promessa, a da erradicação global
da covid-19, que T. B. anunciara para... 27 de Março de 2020.
Falecido aos 57 anos no passado 5 de Junho, após ter celebrado o habitual serviço religioso de sábado, Joshua T. B. não
é caso único: com 89 milhões
de pessoas a viverem abaixo
da linha da pobreza, a Nigéria
conta com diversos pastores
evangélicos multimilionários,
cujas curas milagrosas são o
lenitivo possível para as graves
deficiências do sistema de saúde de um país em crescimento
demográfico imparável, que em
2050 chegará aos 411 milhões
de habitantes, ultrapassando
os EUA como terceiro país mais
populoso do mundo e colocando a Europa sob tremenda pressão migratória..EXPRESSO
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