Quando os meus pais me deixaram ir para Londres eu tinha-me metido numa série de escandaleiras mal saí do colégio de freiras: arranjei um namorado que era tudo o contrário do que uma mãe quer de um namorado para a filha, e aquilo correu mal e eu comecei a desequilibrar-me mesmo psicologicamente e fui com uma amiga para um colégio de freiras espanholas, interno. Nem estive com atenção, a minha amiga ia, eu perguntei à minha mãe se podia ir - o colégio era de resto bastante barato, porque como Inglaterra é um país anglicano o Vaticano pagava e subsidiava muito o colégio. Quando lá cheguei deparei-me com uma coisa que nunca tinha visto em Portugal: eu aqui ia todos os dias ao colégio, mas era até às cinco, depois ia para casa. Aquilo era interno, e era de missa diária, e eu não queria comungar todos os dias, e queria sair, mas não podíamos ir à rua. Fiquei a falar lindamente espanhol, ainda hoje conheço grandes famílias da aristocracia espanhola que frequentavam aquela escola, os irmãos com cavalos, jogavam polo, para dar uma ideia do nível, que era completamente diferente do nosso nível de riqueza. Havia eu, uma belga e uma japonesa, o resto eram basicamente espanholas.
O que fez?
Eu disse não, não vou à missa e vou organizar uma greve. Amanhã ninguém vai à missa. E a belga, que já tinha estado em vários colégios, começou para lá a choramingar, porque a mãe tinha dito que aos 18 anos se ela não fosse expulsa lhe dava um carro. Ai dava-te um carro? Então espera aí e anda cá à varanda (aquilo era num segundo andar): se não fazes greve atiro-te lá para baixo. Ela foi fazer queixa à madre superiora e depois o meu pai, que não a minha mãe, disse isto não é para esta rapariga.
Para onde foi?
Fui viver para casa de uns polacos cujos filhos tinham sido mortos na Segunda Guerra Mundial. Na altura havia alguns polacos em Londres que tinham ficado sem nada por causa do comunismo e da Segunda Guerra Mundial e alugavam quartos a meninas bem ou malcomportadas e eu aluguei. E essa minha amiga, que era muito doce e querida e gostava sempre de andar comigo e achava que eu era maluca e ia acabar a fazer um disparate tal que morria, bem, fui com ela para casa desses polacos, onde fiquei três ou quatro meses até voltar para Portugal. E a belga lá terá ficado a comungar todos os dias....SAPO24
Sem comentários:
Enviar um comentário