domingo, 20 de janeiro de 2019

Gil Canha escreve sobre os cruzeiros do nacional-socialismo da Alemanha de Adolf Hitler

Gil Canha


Quando li neste blogue que a Junta de Freguesia de São Martinho está a organizar um cruzeiro ao Mediterrâneo, no âmbito dos “Passes Sociais 2019”, lembrei-me que na década de 30 do século passado, a nossa ilha recebia com frequência os navios de cruzeiros da KDF (Força pela Alegria - organização de lazer nacional socialista), da Frente Alemã do Trabalho (Deutsche Arbeitsfront), que oferecia por preços irrisórios à classe trabalhadora germânica estas fantásticas viagens.  Ainda me lembro do meu avô contar que as ruas do Funchal eram percorridas por esses trabalhadores alemães premiados, todos eles altos, louros e bem constituídos, muitos deles envergando os seus trajes típicos da Baviera (os Lederhosen) cantando em alta voz: “A Alemanha é a nossa pátria, trá…lá, trá-lá, e nós … viajamos em direção ao sol… trá-lá, trá-lá”. (tradução a partir da obra da Doutora Martina Emonts, “Força pela Alegria – O mito da ilha da Madeira na versão nacional-socialista. Ed. Cosmos, 1997)


Tendo em atenção as diferenças abismais de escala, obviamente que o cruzeiro da Junta de Freguesia de S. Martinho não tem comparação com a sua congénere alemã, KDF, que tinha navios de grande tonelagem, como o célebre Wilhelm Gustloff ou o Robert Ley, e que chegaram a transportar para a Madeira 2 milhões de visitantes. Mas em termos de propaganda política e ideológica, os objetivos eram os mesmos: incutir nas classes trabalhadoras que o regime político a defender é “um paraíso terrestre”; que lhes faculta maravilhosas viagens e é tão generoso com os seus conterrâneos mais remediados, que até proporciona viagens de Cruzeiro - privilégio até então reservado aos ricos.
Sabemos que, durante a longa viagem para a Madeira, os trabalhadores alemães entretinham-se a bordo fazendo jogos lúdicos, lendo panfletos de propaganda do Doutor Goebbels e cantando a plenos pulmões Brüder, zur Sonne, zur Freiheit, trá…lá (Irmãos, ao Sol, à Liberdade) ou ouvindo os longos discursos do amado Führer, Adolf Hitler.  No caso do cruzeiro da Junta de Freguesia de S. Martinho ao Mediterrâneo, não sabemos ainda se haverá leituras ideológicas, do tipo “O Grande Presidente Paulo Cafôfo e o seu Murro na mesa”; debates acalorados sobre a invenção nortenha do “Arroz de Lapas”; ou se será lida ao largo das ilhas Baleares a célebre carta do amigo Luís Miguel Sousa, “Lobo Marinho, a melhor ligação marítima da Europa”.
Contudo, descobrimos duas grandes diferenças entre as viagens turísticas do Nacional Socialismo do KDF e esta viagem do sr. Caldeira (Presidente de Junta de S. Martinho). No caso alemão, todos viajavam na mesma classe e em iguais condições. Na viagem programada do sr. Caldeira, no navio MCS Preziosa, existem vários tipos de preços: um para cabine com varanda, outro para cabine sem varanda, e outros ainda para camarotes interiores. Outra diferença é os alertas sobre o consumo de bebidas. Quando chegava ao Funchal um navio do KDF, era distribuído um aviso em alemão, alertando que não deviam beber Vinho Madeira para tentar matar a sede; no caso da viagem do sr. Caldeira, dizem os mais entusiastas que na passagem do Estreito de Gibraltar será feito um brinde com o famoso champanhe “Terras do Avô” seguido de três hurras ao António Costa e à genial ideia cafofiana dos “Cacifos para os Sem-Abrigo”. 
(ver Fénix do Atlântico)

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