terça-feira, 29 de agosto de 2023

TERROR NO BRASIL:Os traficantes queriam matar um a acabaram matando nove no estado da Baia

 


QUEIMADOS E BALEADOS Na morte de nove pessoas na Bahia, a sombra do tráfico de drogas.

A disputa entre facções do tráfico de drogas pode ser o pano de fundo da morte de nove pessoas — três delas crianças — no Núcleo Colonial JK, em Mata de São João, município da Região Metropolitana de Salvador, na madrugada de ontem. O crime impressionou pela brutalidade com que foi cometido: das nove vítimas, cinco estavam totalmente queimadas e duas com os corpos parcialmente carbonizados. Duas mulheres cujos corpos foram achados com marcas de tiros seriam vizinhas da residência atacada inicialmente pelos traficantes. As duas foram baleadas apenas porque saíram de suas casas para tentar entender  Um menino de 12 anos foi resgatado com vida, mas com metade do corpo queimada, e levado para o Hospital Geral do Estado, em Salvador. A ambulância com o menor foi escoltada por policiais militares.

“PEGAR UM, MATARAM NOVE” 

A Polícia Civil informou que a Delegacia Territorial de Mata de São João e o Departamento de Polícia Metropolitana ouviu moradores do núcleo colonial e parentes das vítimas. Equipes do Departamento de Polícia Técnica fizeram exames para a identificação dos mortos e a perícia do local. Agentes de outros departamentos participam das investigações, segundo comunicado da polícia. Os nomes dos mortos não foram divulgados oficialmente. Mas moradores próximos contaram para o Correio da Bahia, sem se identificar, que os autores do crime buscavam um homem identificado apenas como “Preá”, que seria integrante de uma facção rival. Os sete mortos na casa atacada — dois homens, duas mulheres e três crianças — seriam todos da mesma família. As duas vizinhas baleadas teriam sido acordadas pelo barulho de tiros, assim como outros moradores do Núcleo Colonial JK, às 3h da madrugada. —Como todo mundo ficava no mesmo lugar, vieram pegar um, mataram nove — disse uma moradora ao Correio. Ao g1, um dos peritos que trabalharam no caso, Tiago Silva, afirmou que é possível dizer que uma das pessoas, do sexo masculino, foi morta antes de ter o corpo queimado. Mas os técnicos não conseguiram confirmar se houve o mesmo com os outros mortos, por conta do estado dos corpos. A chacina foi cometida perto de uma escola municipal do núcleo, fundado em 1959 no município que é conhecido nacionalmente pelo turismo na Praia do Forte. Como mostrou o GLOBO no sábado, é em Mata de São João onde fica o quilombo Riacho Santo Antônio-Jita, um dos ameaçados por disputas fundiárias na Bahia. Diretor executivo da ONG Iniciativa Negra e coordenador executivo da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Dudu Ribeiro diz que a escolha pela manutenção da guerra às drogas resulta na ampliação da população carcerária. E um dos efeitos é o maior aliciamento de jovens presos pelas organizações criminosas que exercem forte poder dentro dos presídios, segundo Dudu. — Aliado a isso, temos em curso já há alguns anos a migração de organizações criminosas do Sudeste para territórios no Nordeste. É uma reconfiguração territorial, com a pulverização do comércio de drogas e armas entre várias organizações. E as novas alianças se aceleram muito a partir da intensificação dos conflitos, que fazem parte desse processo chamado de guerra às drogas — afirma Dudu.

 ESCALADA DE VIOLÊNCIA 

  A chacina em Mata de São João foi cometida pouco mais de uma semana depois da morte de Mãe Bernadete Pacífico, no quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, também na Grande Salvador. E pouco menos de um mês depois de operações da Polícia Militar da Bahia deixarem 30 mortos. A PM afirma que as mortes ocorreram durante confrontos com traficantes. Esses casos chamam a atenção para a fragilidade da segurança pública na Bahia. O Anuário de Segurança Pública, produzido pelo Fórum de Segurança Pública, colocou o estado como o segundo em número de mortes violentas no ano passado, com taxa de 47,1 assassinatos a cada 100 mil habitantes, atrás apenas do Amapá, que teve 50,6 mortes por 100 mil habitantes. Os números de mortes violentas na Bahia ficaram na contramão da tendência observada no ano passado na região em que fica o estado. A queda nacional destas mortes em 2022 foi puxada pela região Nordeste, com redução de 4,5% da taxa de mortes violentas para cada grupo de 100 mil habitantes, segundo os dados do anuário. Mãe Bernadete Pacífico foi assassinada com 20 tiros no dia 17, por dois homens que invadiram sua residência, quando ela estava com três netos, que não foram mortos pelos executores da ialorixá.


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