segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O caso de Carla Castro e a liberdade e meritocracia na IL

 

 

No sábado ouvimos José Luís Carneiro manifestar a sua disponibilidade para trabalhar com a nova liderança do PS e ouvimos Pedro Nuno Santos confirmar que contará com ele. Nada mais lógico e evidente. Os processos democráticos de eleição de novos líderes criam clivagens entre as diferentes tendências dos partidos, mas, a seguir às eleições, é necessário ultrapassá-las e reforçar a unidade. E isto faz lembrar um caso do qual não podia deixar de vos falar: o caso de Carla Castro. “O passado termina hoje, viramos agora uma nova página”, declarou Rui Rocha na noite em que foi eleito líder da IL por uma pequena diferença percentual em relação a Carla Castro. Muitos terão interpretado essas palavras no sentido em que pretendia ultrapassar divergências e unir o partido.

 E havia boas razões para isso. Carla Castro demonstrou ser competente. Não é apenas uma deputada que se destaca no universo do partido, ela é claramente uma política com capacidade para criar alternativas e para mobilizar os militantes. Não se percebe que pudesse ser dispensada. Apesar de não ter qualquer apreço por aquilo que Carla Castro defende e acredita politicamente, não tenho dificuldade em perceber e reconhecer as suas qualidades. Passaram-na de segundo para sétimo lugar, eventualmente poderia ser quinto ou sexto. Carla Castro decidiu não aceitar e fala no fim de um ciclo. Admite também “reequacionar o seu papel na vida política ativa.” Sabemos que a política magoa. Quais as razões para a direção passar Carla Castro para uma posição não elegível, ou dificilmente elegível, na lista da IL às legislativas? 

 Eventualmente são razões que não revestem grande mistério. Não existem na lista de Lisboa seis candidatos melhores do que Carla Castro. Desrespeitá-la foi mesmo um objetivo. Isso e retirar-lhe a possibilidade de ser eleita. É assim que a IL interpreta e põe em prática o conceito de meritocracia. Carla Castro revelou ter mérito. Isso não impediu que a tratassem como um alvo a abater. Com isto a IL mostrou bem por que valores se norteia. Uma direção partidária sem cultura democrática é um perigo para os militantes, mas extravasa o próprio partido e degrada o sistema democrático. Rui Rocha revela-se um líder fraco e controlador. Revela-se sobretudo incapaz de conviver com quem possa fazer-lhe oposição. Um partido que se apresenta moderno e irreverente na comunicação é, afinal, bafiento e totalitário nas práticas. Não foi a primeira vez que se notou. A proposta de revisão dos estatutos já tinha sido altamente criticada por vários militantes e indiciava défice democrático; a direção reforçaria os seus poderes e o Conselho Nacional passaria a ser pouco mais que um órgão consultivo. 

 A IL transformou-se naquilo que, na sua página, diz combater: um partido estatista. “O passado termina hoje, viramos agora uma nova página” não eram, afinal, boas notícias. A gravidade do que fizeram a Carla Castro é ainda maior pelo facto de ser mulher. Continuamos a viver num país no qual os mais altos cargos são desempenhados por homens. Na vida política e pública o problema tem maior impacto. Porquê? Porque serve de exemplo para todos os sectores da sociedade. Precisamos de mais mulheres à frente dos partidos, a chefiar governos, a assumir pastas ministeriais e na Assembleia da República. Será a partir desse exemplo que conseguiremos aproximar-nos da igualdade. Por isso fazem sentido as quotas e repensar escolhas em função de um bem maior que deve ser atingido. Mas a IL de Rui Rocha não hesitou em fazer o contrário: afastaram injustamente uma mulher. Mostraram ser um Clube do Bolinha, uma organização onde as mulheres até podem entrar, mas saem se forem uma ameaça. Não começou aqui. Quatro meses após ter perdido a corrida à liderança da IL, Carla Castro já tinha abandonado a vice-presidência da bancada parlamentar. Justificou que não tinha o efetivo exercício do cargo. Foi preciso a conivência de muitos para destratar assim Carla Castro. Rui Rocha não poderia fazê-lo sozinho. O problema está ao nível da estrutura do partido. E são estas pessoas — que gerem desta forma quem identificam como ameaça e que desrespeitam o papel das mulheres na política — que apregoam ter amor à liberdade e pretendem ter soluções inovadoras para o país.

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Carmo Afonso, colunista do Jornal Público

3 comentários:

  1. JORNALISTAS FAZEM SUGESTÃO ABSURDA PARA SOBREVIVER
    https://www.youtube.com/watch?v=rmbirgdJ3b0

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  2. Migalhas de Croissant
    https://www.youtube.com/watch?v=ggTwr__oiDI

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  3. Já se sabia que o padre das esmolinhas conduz o pasquim centenário a caminho do abismo moral; que a sua esposa, apagada jornalista de méritos nulos, é assessora do Peter Quiet; que todos juntos mais o vilão Vasco dos Galáxia deram um show de viloada com um Bentley alugado em Londres. Agora o Peter Quiet anuncia que a noite do mercado será organizada em colaboração com a empresa do DN, que curiosamente também organiza as viagens do Albucocas onde este gasta milhares de euros dos contribuintes. Tutto en famiglia, vê-se. O que tem o pasquim, que devia pugnar pela liberdade de informação, que organizar noites de bebezaina com a Câmara? Pode-se responder... tanto quanto em tempos vender faqueiros e escapulários. Cada tostão ganho é tostão amealhado! Estes tostões mais uns milhares do mediaram, fazem o padre um rico gentleman! Até rima.

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