sexta-feira, 7 de junho de 2024

Pertencer à classe média, a grande fantasia que se apoderou da mente dos portugueses

Pertencer à classe média, a grande fantasia

 Catarina Martins e João Oliveira tiveram uma boa prestação enquanto cabeças de lista das forças políticas que representam. Mostraram segurança, conhecimento dos assuntos e o à-vontade que só a experiência política e um certo tipo de personalidade dão. Qualquer um deles dará um grande eurodeputado e será aguerrido a defender as causas que conhecemos, com grande destaque para a mais importante: a dos trabalhadores. Qual é então o problema? Porque não é previsível que estas forças políticas tenham margem de crescimento nas eleições de domingo? O problema não está nas causas e não está nos candidatos. Um artigo recente do jornal El País dá-nos uma pista importante para percebermos a tendência de estagnação, ou até de enfraquecimento, destes partidos. Por qué cada vez menos gente se siente classe trabajadora? é o título do artigo e começa por dar conta de que apenas 10,3% dos espanhóis se identiÆcam como pertencendo à classe trabalhadora, enquanto 58,6% considera-se classe média. Importa encontrar uma caracterização do que é a classe trabalhadora. No artigo, encontramos uma resposta válida da autoria de José Saturnino Martínez García (autor de Estructura social y desigualdade en España): “Eu perguntar-me-ia: tenho que acordar cedo na segunda-feira para trabalhar? Posso viver sem trabalhar? Se necessito de trabalhar, se não vivo de rendas, de lucros ou de benefícios empresariais, sou da classe trabalhadora.” Usando este critério tão simples veriÆcamos que a esmagadora maioria das pessoas em Espanha, e claro que em Portugal também, pertencem à classe trabalhadora. Digo que também os trabalhadores portugueses estão alheados de que são trabalhadores e que meteram na cabeça que pertencem à classe média. Esta crise de identidade faz lembrar a maravilhosa história infantil do patinho feio. Um pequeno cisne perdido do seu bando acredita que é um pato e faz o que pode e o que não pode para ser parecido com os outros patos. Mas ele é diferente e nunca chega a integrar-se e, ainda menos, a ser aceite no bando dos patos. Assim são os trabalhadores que acreditam ser burgueses. A maioria dos espanhóis, cerca de 77% diz o artigo, aÆrma que existe exploração laboral e cerca de 40% estão descontentes com o seu salário. Claro que estes números em Portugal só podem ser superiores. Tenham presente que quase um milhão de portugueses ganham o salário mínimo nacional e que 56% dos trabalhadores, em Portugal, receberam menos de mil euros. Esta percentagem passa para 65% no caso dos jovens com menos de 30 anos. E é precisamente com os jovens que atingimos a contradição máxima. Recebem salários baixos e têm situações laborais precárias. Mas o discurso político da luta contra a precariedade ou o da reivindicação de melhores salários não os seduz. É ponto assente que a maioria dos mais jovens tende a votar à direita e sobretudo nas novas direitas mais radicais: a IL e até o Chega.

 É evidente que não se veem como fazendo parte da classe trabalhadora e que acreditam que serão ricos. Aliás, que a única possibilidade de não serem ricos é apanharem com um Estado que os tribute em demasia. Votam em partidos que pouco têm para lhes oferecer no que diz respeito a melhorar as condições de trabalho e de vida. Pertencer à classe trabalhadora saiu de moda. É uma condição que as pessoas associam a estagnação e à ausência de progressão nas carreiras. Se falarmos em classe operária, já estamos a dizer um autêntico palavrão. Longínquos são os tempos em que existia uma aura de glória, e até de poder, na exibição de alfaias agrícolas ou de ferramentas. Acabou. É uma pequena minoria que continua a alimentar essa chama. Os trabalhadores fazem de conta que pertencem à classe social a que aspiram pertencer. Uma classe social abastada e que dispensa o combate intenso às desigualdades sociais. Mais: uma classe social que não tem paciência para ouvir o discurso retrógrado de uma esquerda que anda há décadas a travar a mesma luta. 
 Curiosamente, são os avanços dessa luta os únicos que poderiam melhorar as suas vidas e foram as conquistas dessa luta que lhes asseguraram aquilo que agora dão como adquirido, como 11 meses de trabalho para 14 meses de remuneração e tantos outros direitos. Falava-vos de Catarina Martins e de João Oliveira. Não é previsível que obtenham resultados espetaculares no domingo. É sabido que a classe média não costuma adorar comunistas e que tem alergia à conversa da luta de classes. Esqueçam. Os portugueses são cisnes, mas caíram que nem patos.

Carmo Afonso/advogada


8 comentários:

  1. É verdade. Mas as forças de esquerda andarem há décadas a fazer campanha sempre com a mesma cassete e as músicas do zeca Afonso já não convence. Aborrece.

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  2. Nem a actual cassete do coelho da classe média alta

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  3. OS PIORES VÍDEOS DA SEMANA
    https://www.youtube.com/watch?v=IVybSuleLuA

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    1. Todos estes vídeos têm vírus, cuidado.

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  4. Respostas
    1. Temos a nossa própria informação, não precisamos de ti, para absolutamente NADA

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    2. 55 votos em Gaula?
      Só pode terem subornado o pessoal das mesas de voto

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  5. O/A cuelho/coelha agora andam disfarçados de rafael

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