Pertencer à classe média, a grande fantasia
Catarina Martins e João
Oliveira tiveram uma
boa prestação
enquanto cabeças de
lista das forças
políticas que
representam. Mostraram
segurança, conhecimento dos
assuntos e o à-vontade que só a
experiência política e um certo tipo
de personalidade dão. Qualquer
um deles dará um grande
eurodeputado e será aguerrido a
defender as causas que
conhecemos, com grande destaque
para a mais importante: a dos
trabalhadores.
Qual é então o problema? Porque
não é previsível que estas forças
políticas tenham margem de
crescimento nas eleições de
domingo?
O problema não está nas causas e
não está nos candidatos. Um artigo
recente do jornal El País dá-nos
uma pista importante para
percebermos a tendência de estagnação, ou até de
enfraquecimento, destes partidos.
Por qué cada vez menos gente se
siente classe trabajadora? é o título
do artigo e começa por dar conta
de que apenas 10,3% dos espanhóis
se identiÆcam como pertencendo
à classe trabalhadora, enquanto
58,6% considera-se classe média.
Importa encontrar uma
caracterização do que é a classe
trabalhadora. No artigo,
encontramos uma resposta válida
da autoria de José Saturnino
Martínez García (autor de
Estructura social y desigualdade en
España): “Eu perguntar-me-ia:
tenho que acordar cedo na
segunda-feira para trabalhar?
Posso viver sem trabalhar? Se
necessito de trabalhar, se não vivo
de rendas, de lucros ou de
benefícios empresariais, sou da
classe trabalhadora.”
Usando este critério tão simples
veriÆcamos que a esmagadora
maioria das pessoas em Espanha, e
claro que em Portugal também,
pertencem à classe trabalhadora.
Digo que também os trabalhadores
portugueses estão alheados de que
são trabalhadores e que meteram
na cabeça que pertencem à classe
média.
Esta crise de identidade faz
lembrar a maravilhosa história
infantil do patinho feio. Um pequeno cisne perdido do seu
bando acredita que é um pato e faz
o que pode e o que não pode para
ser parecido com os outros patos.
Mas ele é diferente e nunca chega a
integrar-se e, ainda menos, a ser
aceite no bando dos patos. Assim
são os trabalhadores que acreditam
ser burgueses.
A maioria dos espanhóis, cerca
de 77% diz o artigo, aÆrma que
existe exploração laboral e cerca
de 40% estão descontentes com o
seu salário. Claro que estes
números em Portugal só podem ser superiores. Tenham presente que
quase um milhão de portugueses
ganham o salário mínimo nacional
e que 56% dos trabalhadores, em
Portugal, receberam menos de mil
euros. Esta percentagem passa
para 65% no caso dos jovens com
menos de 30 anos.
E é precisamente com os jovens
que atingimos a contradição
máxima. Recebem salários baixos e
têm situações laborais precárias.
Mas o discurso político da luta
contra a precariedade ou o da
reivindicação de melhores salários
não os seduz. É ponto assente que
a maioria dos mais jovens tende a
votar à direita e sobretudo nas
novas direitas mais radicais: a IL e
até o Chega.
É evidente que não se
veem como fazendo parte da classe
trabalhadora e que acreditam que
serão ricos. Aliás, que a única
possibilidade de não serem ricos é
apanharem com um Estado que os
tribute em demasia. Votam em
partidos que pouco têm para lhes
oferecer no que diz respeito a
melhorar as condições de trabalho
e de vida.
Pertencer à classe trabalhadora
saiu de moda. É uma condição que
as pessoas associam a estagnação e
à ausência de progressão nas
carreiras. Se falarmos em classe
operária, já estamos a dizer um
autêntico palavrão. Longínquos são os tempos em que existia uma
aura de glória, e até de poder, na
exibição de alfaias agrícolas ou de
ferramentas. Acabou. É uma
pequena minoria que continua a
alimentar essa chama.
Os trabalhadores fazem de conta
que pertencem à classe social a que
aspiram pertencer. Uma classe
social abastada e que dispensa o
combate intenso às desigualdades
sociais. Mais: uma classe social que
não tem paciência para ouvir o
discurso retrógrado de uma
esquerda que anda há décadas a
travar a mesma luta.
Curiosamente, são os avanços
dessa luta os únicos que poderiam
melhorar as suas vidas e foram as
conquistas dessa luta que lhes
asseguraram aquilo que agora dão
como adquirido, como 11 meses de
trabalho para 14 meses de
remuneração e tantos outros
direitos.
Falava-vos de Catarina Martins e
de João Oliveira. Não é previsível
que obtenham resultados
espetaculares no domingo. É
sabido que a classe média não
costuma adorar comunistas e que
tem alergia à conversa da luta de
classes. Esqueçam. Os portugueses
são cisnes, mas caíram que nem
patos.
Carmo Afonso/advogada
É verdade. Mas as forças de esquerda andarem há décadas a fazer campanha sempre com a mesma cassete e as músicas do zeca Afonso já não convence. Aborrece.
ResponderEliminarNem a actual cassete do coelho da classe média alta
ResponderEliminarOS PIORES VÍDEOS DA SEMANA
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=IVybSuleLuA
Todos estes vídeos têm vírus, cuidado.
Eliminar55 votos em Gaula. Uma vitória.
ResponderEliminarTemos a nossa própria informação, não precisamos de ti, para absolutamente NADA
Eliminar55 votos em Gaula?
EliminarSó pode terem subornado o pessoal das mesas de voto
O/A cuelho/coelha agora andam disfarçados de rafael
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