terça-feira, 17 de janeiro de 2023

“Lollo”, a actriz que era “a mulher mais bela do mundo”

 


Gina Lollobrigida 1927-2023 Sex symbol do cinema italiano dos anos 1950, contribuiu para moldar a imagem da diva A actriz italiana Gina Lollobrigida, merecedora do epíteto “a mulher mais bela do mundo” e certamente uma das mais populares actrizes dos anos dourados do cinema italiano no pós-Segunda Guerra Mundial, morreu aos 95 anos, avançou anteontem a agência ANSA. Segundo a agência Reuters e o jornal italiano Corriere della Sera, a actriz estava internada há já alguns dias numa clínica de Roma. Retirada do cinema desde meados dos anos 1970, a “Lollo”, como muitos fãs lhe chamavam, foi um dos primeiros sex symbols a correr mundo, “a melhor coisa desde a invenção do esparguete” como em tempos se disse, canonizada numa capa da revista Time em 1954. Conhecida como “A Mulher mais Bela do Mundo”, num período em que a concorrência era forte (basta pensar em Elizabeth Taylor ou Sophia Loren…), Lollobrigida fez uma impressionante carreira internacional que a levou a contracenar com Burt Lancaster, Jean-Paul Belmondo, Tony Curtis, Marcello Mastroianni, Rock Hudson, Yves Montand, Anthony Quinn ou Vittorio Gassmann. O obituário no La Repubblica considera-a uma das grandes protagonistas do cinema italiano, “uma das artistas mais importantes da sua geração”, tendo ajudado, ao lado de Silvana Mangano ou Sophia Loren, que se tornaria na sua grande “rival”, “a criar a imagem da diva italiana que soube transformar-se de símbolo sexual em estrela internacional”. Nascida a 4 de Julho de 1927, em Subiaco, nas montanhas próximas de Roma, Gina Lollobrigida ficou em terceiro lugar no concurso de Miss Itália em 1947. O país era então uma das mais fortes indústrias cinematográficas europeias e, em 1950, a actriz, que começara pelos palcos de teatro e pela figuração, já tinha uma dezena de filmes em carteira antes de entrar na sequência de títulos que a converteria numa estrela. Primeiro, Toque a Rebate, de Luigi Zampa (1949), As Aventuras de Fanfan la Tulipe, de Christian-Jaque (1952), e sobretudo Outros Tempos, de Alessandro Blasetti (1952). Depois, Pão, Amor e Fantasia (1953), de Luigi Comencini, contracenando com Vittorio de Sica, e a sua sequela Pão, Amor e Ciúme (1954); Ænalmente, A Mais Bela do Mundo (1955), produção italiana dirigida pelo americano Robert Z. Leonard, biograÆa da soprano do século XIX Lina Cavalieri e que se tornou um dos papéis de referência da actriz, valendo-lhe o epíteto pelo qual Æcaria conhecida. Ao mesmo tempo, tendo escapado in extremis a um contrato com o lendário Howard Hughes, começou a trabalhar em produções americanas rodadas na Europa, como O Tesouro de África, de John Huston (1953) ou Trapézio, de Carol Reed (1956). A beleza física ofuscou sempre os seus dotes de actriz, em grande parte porque muitos dos seus primeiros êxitos reforçavam um certo estereótipo popular da mulher italiana, mas “Lollo” nunca se esquivou aos grandes papéis dramáticos. Ganhou três David di Donatello, o “Óscar” italiano, por A Mais Bela do Mundo, Vénus Imperial, de Jean Delannoy (1962), onde interpretava Pauline Bonaparte, e Boa Noite, Sra. Campbell, de Melvin Frank (1968). Este último valeu-lhe ainda uma nomeação para o Globo de Ouro, que já tinha vencido em 1961 por Idílio em Setembro, de Robert Mulligan.~Contracenou com a “realeza” do cinema desse período: Errol Flynn (A Espada e a Mulher), Burt Lancaster e Tony Curtis (Trapézio), Anthony Quinn (Nossa Senhora de Paris), Frank Sinatra e Steve McQueen (Quando Explodem as Paixões), Yul Brynner (Salomão e a Rainha do Sabá), Marcello Mastroianni e Yves Montand (A Lei), Rock Hudson (Idílio em Setembro e Quarto para Dois), Alec Guinness (Hotel Paraíso) ou David Niven (King, Queen, Knave, do polaco Jerzy Skolimowski). E foi dirigida pela nata dos realizadores italianos da época: Mario Monicelli e Steno (Vida de Cão ou Painéis da Vida), Pietro Germi (A Cidade Defende-se), Carlo Lizzani (Achtung! Banditi!) ou Mauro Bolognini (Um Belíssimo Novembro).

A beleza física ofuscou sempre os seus dotes de actriz. Mas “Lollo” nunca se esquivou aos grandes papéis dramáticos.

 Nunca trabalhou, no entanto, com os grandes autores dos anos 1960, como Federico Fellini, Michelangelo Antonioni ou Pier Paolo Pasolini; no caso de Antonioni, Lollobrigida terá recusado o papel que Lucía Bosé viria a ter em A Dama sem Camélias; Fellini tê-la-ia convidado para um papel em La Dolce Vita que o seu marido, Milko Skofic, também seu manager, terá recusado em seu nome. Fotografia e política Depois de Rosas Vermelhas (1973), melodrama do espanhol Francisco Rovira Beleta onde contracenava com outras estrelas suas contemporâneas como Danielle Darrieux ou Conchita Velasco, e já divorciada depois de 20 anos de casamento, Lollobrigida retirou-se do cinema, dedicando-se à fotografia e à escultura. A partir de 1973, publicou livros de fotografia (tendo retratado estrelas do cinema e da música, como Audrey Hepburn, Grace Kelly, Ella Fitzgerald ou Paul Newman, mas também Salvador Dalí, Henry Kissinger ou Yuri Gagarine), e fez em 1975 um documentário sobre Fidel Castro, Ritratto di Fidel. E teve fugazes incursões na política, concorrendo ao Parlamento Europeu em 1999 e ao Senado italiano em 2022, já com 95 anos. “Estou cansada de ouvir os políticos a discutirem entre si sem nunca chegarem a um consenso”, justificou ao Corriere Della Sera. No entanto, regressou pontualmente aos plateaux. Em 1972, interpretou a Fada na adaptação televisiva de As Aventuras de Pinóquio por Luigi Comencini (exibidas em sala em muitos países, Portugal inclusive), ainda hoje considerada uma das melhores versões do livro de Carlo Collodi. Na década de 1980, participaria como convidada na série americana Falcon Crest e numa nova adaptação para televisão de um dos seus primeiros papéis, Adriana, uma Rapariga de Roma, onde interpretava agora a mãe da protagonista. As suas últimas participações significativas foram em Les Cent et une nuits de Simon Cinéma, que Agnès Varda dirigiu em 1995 para comemorar o centenário do cinema, e XXL, de Ariel Zeitoun (1997), onde contracenava respectivamente com Jean-Paul Belmondo e Gérard Depardieu.




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