Gina Lollobrigida
1927-2023 Sex symbol
do cinema italiano dos anos
1950, contribuiu para
moldar a imagem da diva
A actriz italiana Gina Lollobrigida,
merecedora do epíteto “a mulher
mais bela do mundo” e
certamente uma das mais
populares actrizes dos anos
dourados do cinema italiano no
pós-Segunda Guerra Mundial,
morreu aos 95 anos, avançou
anteontem a agência ANSA.
Segundo a agência Reuters e o
jornal italiano Corriere della Sera, a
actriz estava internada há já alguns
dias numa clínica de Roma.
Retirada do cinema desde
meados dos anos 1970, a “Lollo”,
como muitos fãs lhe chamavam, foi
um dos primeiros sex symbols a
correr mundo, “a melhor coisa
desde a invenção do esparguete”
como em tempos se disse,
canonizada numa capa da revista
Time em 1954. Conhecida como “A
Mulher mais Bela do Mundo”, num
período em que a concorrência era
forte (basta pensar em Elizabeth
Taylor ou Sophia Loren…),
Lollobrigida fez uma
impressionante carreira
internacional que a levou a
contracenar com Burt Lancaster,
Jean-Paul Belmondo, Tony Curtis,
Marcello Mastroianni, Rock
Hudson, Yves Montand, Anthony
Quinn ou Vittorio Gassmann.
O obituário no La Repubblica
considera-a uma das grandes
protagonistas do cinema italiano,
“uma das artistas mais importantes
da sua geração”, tendo ajudado, ao
lado de Silvana Mangano ou Sophia
Loren, que se tornaria na sua
grande “rival”, “a criar a imagem da
diva italiana que soube
transformar-se de símbolo sexual
em estrela internacional”.
Nascida a 4 de Julho de 1927, em
Subiaco, nas montanhas próximas
de Roma, Gina Lollobrigida ficou
em terceiro lugar no concurso de
Miss Itália em 1947. O país era então
uma das mais fortes indústrias
cinematográficas europeias e, em
1950, a actriz, que começara pelos
palcos de teatro e pela figuração, já
tinha uma dezena de filmes em
carteira antes de entrar na
sequência de títulos que a converteria numa estrela.
Primeiro, Toque a Rebate, de
Luigi Zampa (1949), As Aventuras de
Fanfan la Tulipe, de Christian-Jaque
(1952), e sobretudo Outros Tempos,
de Alessandro Blasetti (1952).
Depois, Pão, Amor e Fantasia
(1953), de Luigi Comencini,
contracenando com Vittorio de
Sica, e a sua sequela Pão, Amor e
Ciúme (1954); Ænalmente, A Mais
Bela do Mundo (1955), produção
italiana dirigida pelo americano
Robert Z. Leonard, biograÆa da
soprano do século XIX Lina
Cavalieri e que se tornou um dos
papéis de referência da actriz,
valendo-lhe o epíteto pelo qual
Æcaria conhecida. Ao mesmo
tempo, tendo escapado in extremis
a um contrato com o lendário
Howard Hughes, começou a
trabalhar em produções
americanas rodadas na Europa,
como O Tesouro de África, de John
Huston (1953) ou Trapézio, de Carol
Reed (1956).
A beleza física ofuscou sempre os
seus dotes de actriz, em grande
parte porque muitos dos seus
primeiros êxitos reforçavam um
certo estereótipo popular da
mulher italiana, mas “Lollo” nunca
se esquivou aos grandes papéis
dramáticos. Ganhou três David di
Donatello, o “Óscar” italiano, por A
Mais Bela do Mundo, Vénus
Imperial, de Jean Delannoy (1962),
onde interpretava Pauline Bonaparte, e Boa Noite, Sra.
Campbell, de Melvin Frank (1968).
Este último valeu-lhe ainda uma
nomeação para o Globo de Ouro,
que já tinha vencido em 1961 por
Idílio em Setembro, de Robert
Mulligan.~Contracenou com a
“realeza” do cinema desse período:
Errol Flynn (A Espada e a Mulher),
Burt Lancaster e Tony Curtis
(Trapézio), Anthony Quinn (Nossa
Senhora de Paris), Frank Sinatra e
Steve McQueen (Quando Explodem
as Paixões), Yul Brynner (Salomão e
a Rainha do Sabá), Marcello
Mastroianni e Yves Montand (A
Lei), Rock Hudson (Idílio em
Setembro e Quarto para Dois), Alec
Guinness (Hotel Paraíso) ou David
Niven (King, Queen, Knave, do
polaco Jerzy Skolimowski). E foi
dirigida pela nata dos realizadores
italianos da época: Mario Monicelli
e Steno (Vida de Cão ou Painéis da
Vida), Pietro Germi (A Cidade
Defende-se), Carlo Lizzani (Achtung!
Banditi!) ou Mauro Bolognini (Um
Belíssimo Novembro).
A beleza física
ofuscou sempre
os seus dotes de
actriz. Mas “Lollo”
nunca se esquivou
aos grandes papéis
dramáticos.
Nunca trabalhou, no entanto,
com os grandes autores dos anos
1960, como Federico Fellini,
Michelangelo Antonioni ou Pier
Paolo Pasolini; no caso de
Antonioni, Lollobrigida terá
recusado o papel que Lucía Bosé
viria a ter em A Dama sem Camélias;
Fellini tê-la-ia convidado para um
papel em La Dolce Vita que o seu
marido, Milko Skofic, também seu
manager, terá recusado em seu
nome. Fotografia e política
Depois de Rosas Vermelhas (1973),
melodrama do espanhol Francisco
Rovira Beleta onde contracenava
com outras estrelas suas
contemporâneas como Danielle
Darrieux ou Conchita Velasco, e já
divorciada depois de 20 anos de
casamento, Lollobrigida retirou-se
do cinema, dedicando-se à
fotografia e à escultura. A partir
de 1973, publicou livros de
fotografia (tendo retratado
estrelas do cinema e da música,
como Audrey Hepburn, Grace
Kelly, Ella Fitzgerald ou Paul
Newman, mas também Salvador
Dalí, Henry Kissinger ou Yuri
Gagarine), e fez em 1975 um
documentário sobre Fidel Castro,
Ritratto di Fidel. E teve fugazes
incursões na política,
concorrendo ao Parlamento
Europeu em 1999 e ao Senado
italiano em 2022, já com 95 anos.
“Estou cansada de ouvir os
políticos a discutirem entre si sem
nunca chegarem a um consenso”,
justificou ao Corriere Della Sera.
No entanto, regressou
pontualmente aos plateaux. Em
1972, interpretou a Fada na
adaptação televisiva de As
Aventuras de Pinóquio por Luigi
Comencini (exibidas em sala em
muitos países, Portugal inclusive),
ainda hoje considerada uma das
melhores versões do livro de Carlo
Collodi. Na década de 1980,
participaria como convidada na
série americana Falcon Crest e
numa nova adaptação para
televisão de um dos seus primeiros
papéis, Adriana, uma Rapariga de
Roma, onde interpretava agora a
mãe da protagonista.
As suas últimas participações
significativas foram em Les Cent et
une nuits de Simon Cinéma, que
Agnès Varda dirigiu em 1995 para
comemorar o centenário do
cinema, e XXL, de Ariel Zeitoun
(1997), onde contracenava
respectivamente com Jean-Paul
Belmondo e Gérard Depardieu.
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