Saltitão como é, desta feita o dr. Moedas apareceu, pela mão da D. Cristina, numa Altice Arena cheia que nem um ovo. Subiu ao palco, não falou das cheias, tão-pouco tocou nas alterações climáticas, e muito menos no estado desleixado da sua cidade. Nada disso: perante um pavilhão a abarrotar, desta vez o nosso alcaide preferiu falar de outras coisas, e numa espécie de prédica digna de pastor de uma qualquer iurd, preferiu falar-nos do Bino, o seu professor lá em Beja que era ‘gay’ e que se fartou de lhe ensinar coisas; do pai, coitado, que parece que emborcava uns canecos valentes; dos tipos de Harvard a quem bastou um telefonema para perceberem que estavam perante um génio; e até para se queixar – imaginem! –, quase de lágrima a escorrer pela facies, de nunca ter tido uma bicicleta.
O pavilhão, ou seja, o povo, como é óbvio, rejubilou – aplaudia guloso todo e qualquer dos muitos lugares-comuns que o nosso edil apresentava como se fosse a coisa mais inteligente do mundo, assim como que ao ritmo de uma parvoíce, uma ovação.
O “menino Carlinhos” (foi assim que a inefável D. Cristina o apresentou…) foi subindo de tom. Entusiasmado, lá nos falou do sonho, da dor, dos detalhes, de tudo um pouco o homem falava, sempre com aquela voz estridente, que amplificada por um sistema de som nos deixa à beira de um ataque de nervos.
A imagem que correu as redes sociais há dias, e que nos mostrava a D. Cristina abraçando e fitando nos olhos a enlevada figurinha, representa de forma sublime o que alguém, com notável acerto, chamou de ‘era do vazio’, ou seja, estes tempos de imbecilidade e de vácuo em que o país vive.
Valeu-nos, vá lá, que a D. Cristina, depois de ter tirado o maneirinho edil do bolso, e a imagem de Nossa Senhora dos célebres sapatos, resistiu a tirar o que quer que fosse da carteira. Ufa, do que a gente se safou…
https://talequal.pt/25-de-janeiro-2023/
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