“A Assembleia está infestada de gente corrupta”
Entrevista com José Manuel Coelho
(Publicada no dia 26 de Agosto de 2015) conduzida pelo jornalista miguel Fernandes Luís
Coelho quer combater a “perseguição fiscal que a Autoridade Tributária faz aos madeirenses”. FOTO JOANA SOUSA /
Cabeça-de-lista do PTP pretende levar o seu megafone para a Assembleia da República
Mais uma vez o senhor é o cabeça-de-lista do PTP às eleições pela Madeira. Não há mais ninguém a representar o PTP?
O PTP tem alguns quadros preparados para ocupar este lugar, mas eu preciso de ser eleito à Assembleia da República porque o meu trabalho ainda não está feito como democrata e como revolucionário. É preciso levar o meu megafone para aquela Assembleia e agitar as águas.
Vai levar o megafone para a Assembleia da República caso seja eleito?
Sim, com certeza. Podemos comparar a Assembleia àquilo que era o templo no tempo de Jesus. A casa de oração estava convertida numa casa de negócios. Então Cristo teve que pegar no azorrague [chicote] e afugentar os vendilhões do templo.
E o parlamento é uma casa de negócios?
É. A Assembleia da República está infestada de gente corrupta, de deputados que são eleitos pelos três partidos do sistema (PSD, CDS e PS) e que pertencem às grandes centrais de negócios do país, nomeadamente aos grandes escritórios de advogados. Eles [escritórios de advogados] é que fazem as leis que os deputados aprovam no parlamento. Essas leis beneficiam três ou quatro por cento dos portugueses, nada mais. São leis feitas a pensar nos grandes negócios do sistema e eu vou para lá para combater isso.
Quais são as grandes prioridades desta candidatura do PTP?
Eu tenho várias ‘bandeiras’. Uma delas é o combate à perseguição fiscal que a Autoridade Tributária faz aos madeirenses e portossantenses. Vou defender a isenção do IMI e do pagamento de taxas moderadoras para os ex-combatentes do ultramar. Depois, vou apresentar uma lei que impeça os agentes de execução de penhorar as reformas aos idosos. Isso não se pode admitir, porque a reforma é uma coisa sagrada. Outra prioridade é tornar o subsídio de desemprego extensível aos jovens à procura do primeiro emprego. Também queremos acabar com as reformas de miséria. As reformas têm que ser, pelo menos, no valor do salário mínimo.
Isso tem custos e o país está em dificuldades. Onde vai buscar o dinheiro para concretizar essas medidas?
O país tem dinheiro, porque o país tem centenas de milhões de euros para as parcerias público-privadas, com concessionários que têm contratos leoninos com o Estado Português, como a Lusoponte, a Brisa, a Fertagus e alguns hospitais privados. Esses consórcios, feitos por banqueiros, lesam o país e esse dinheiro chegava para dar essas benesses aos nossos reformados.
Conta ser eleito para defender estas causas, mas a verdade é que parte com uma base eleitoral modesta. Há quatro anos teve 2.992 votos na Madeira. Para ser eleito terá de quadruplicar a votação…
Vou conseguir, vou conseguir. As pessoas que querem um deputado agachado a Lisboa ou que entra no parlamento mudo e sai calado têm os outros 14 partidos para votar. Os madeirenses só elegem 6 deputados à Assembleia da República e eu quero ser um desses. Serei o único que irá para lá defender a Madeira, porque os outros vão para se agachar aos directórios dos partidos.
Avalia de forma negativa o desempenho de todos os deputados madeirenses à Assembleia da República?
O Rui Barreto teve uma tomada de posição corajosa, mas agora o CDS não o quer. O CDS prefere pôr o José Manuel Rodrigues que é o cabeça-de-lista do grupo Sousa. O José Manuel Rodrigues gastou quase todo o dinheiro do partido para apoiar o JPP, para eles ganharem a Câmara de Santa Cruz. Agora anda teso e precisa de ser o candidato do CDS para agradar ao grupo Sousa, que lhe está a financiar a campanha.
O PTP perdeu um deputado e mais de metade do que recebia do jackpot. A redução do financiamento condiciona a forma como vão fazer campanha?
Claro, porque nós já não temos os mesmos meios. A nossa campanha será modesta nos meios mas activa. A campanha vai ser porta a porta, falando com as pessoas, porque nós não temos os meios que os grandes partidos da burguesia têm, com cartazes gigantes. Os partidos do grande capital (PS, PSD e CDS) têm dinheiro porque têm os empresários a lhes dar pela ‘porta do cavalo’.
A campanha do PTP a nível nacional teve de ser reprogramada devido à gravidez da cabeça-de-lista, Joana Amaral Dias. Esta situação também teve implicações na campanha regional?
Isso não altera nada. Isso ainda traz mais votos, porque as mulheres do país inteiro vão se solidarizar com a nossa camarada. Ela é mãe e vai defender as mulheres na Assembleia da República, pois os direitos delas muitas vezes não são respeitados nas empresas.
Qual o diagnóstico que faz do país após estes quatro anos de governação PSD/CDS?
Foram quatro anos perdidos, durante os quais a esquerda não soube desmascarar a direita. Agora há o risco da direita ganhar novamente as eleições. O PS comporta-se como um partido do sistema, onde vemos guerras internas com o António Costa a tomar à força o lugar de líder nacional que era do [António José] Seguro. Agora é aquela história dos cartazes. Vê-se que o PS não é partido que esteja à altura de afastar o PSD do poder. A direita, com a sua demagogia, diz que o país estava de pantanas porque o engenheiro Sócrates deixou isto falir e que está preso... O engenheiro Sócrates está preso não por causa das ‘luvas’ que recebeu e dos negócios que facilitou mas por tirar regalias aos juízes.
Pedi-lhe um diagnóstico da situação do país e não da oposição…
O país modernizou-se. Fizeram estradas por todo o país mas a parte económica foi um desastre. O país regrediu 30 anos. Na década de 1980 tínhamos indústrias mas tudo isso a direita destruiu ou entregou ao grande capital. A última coisa foi agora a TAP.
Que opções de política governativa gostaria de ver concretizadas nos próximos quatro anos?
O caminho que o país tem que seguir é pôr a direita fora do Governo e retornar aos ideais de Abril. O Estado Português tem que orientar a sua economia para a produção nacional, para valorizar aquilo que é português. Não é Bruxelas que vai dizer o que é que nós devemos ou não produzir.
Portugal deve sair da União Europeia?
Se for preciso, temos que sair da UE. Porque não?! Repare, Bruxelas agora até impõe a quota de pesca. Portugal não tem futuro na UE porque existe um desfasamento económico entre os países desenvolvidos do norte e os países do sul. Nós compramos quase tudo e pouco vendemos. Ora a nossa balança comercial tem um défice de tal ordem que é insustentável.
As conclusões de um "Socialista" vendido ao capital
publicado na edição do DN/Madeira no dia29 de Agosto de 2015
"Lei Barreto é o gesto político de que mais me orgulho" Ver entrevista do camaleão Xuxialista AQUI
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