Bronca na Assembleia: deputado Coelho tem assinado atas com o nome de David Pedra
Rosário Martins / 4 horas ago
É uma situação inédita que está a embaraçar a hierarquia da Assembleia Legislativa da Madeira. O deputado do Partido Trabalhista Português (PTP) tem vindo a assinar ao longo de um mês as atas do Parlamento não com o nome próprio mas como David Pedra.
O caso já foi detetado e é mais uma “dor de cabeça” para o presidente Tranquada Gomes que, nos últimos tempos, se tem confrontado com sucessivos episódios de protesto em plenário por parte de José Manuel Coelho, a ponto de suspender as sessões parlamentares.
O deputado trabalhista considera que está a ser vítima de uma profunda injustiça por parte dos tribunais que lhe penhoram o seu ordenado por denunciar aquilo que considera ser o “monopólio do Grupo Sousa no porto do Funchal, com a cumplicidade de David Pedra”. Uma situação que o próprio Grupo Sousa tem vindo a esclarecer que não constitui monopólio, porque a linha portuária sempre esteve aberta à concorrência.
Coelho confirmou ao FN que tem assinado as atas como David Pedra, por ser este que lhe fica com “os 2944 euros de reembolso de IRS” a que tinha direito” e que o tribunal penhorou. Assumindo-se como “um revolucionário”, justifica esta atitude dizendo que pretende “denunciar a hipocrisia do Tribunal e da Assembleia”, esta última que executa as penhoras por ordem do primeiro.
O deputado trabalhista faz parte da Comissão de Regimentos e Mandatos da Assembleia e da Comissão de Revisão do Sistema Político. Em ambas tem assinado as atas como David Pedra. O presidente da Comissão de Regimentos e Mandatos, José Prada, fez questão de ditar para a ata, cuja reunião é também gravada:”Informo que José Manuel Coelho está a assinar as atas com um nome que não é o seu”.
O caso que suscitou esta controvérsia reporta-se a um artigo escrito no jornal “Garajau” sobre o alegado monopólio do Grupo Sousa no Porto do Funchal. José Manuel Coelho era diretor do jornal e o artigo foi assinado por um jornalista com o pseudónimo de Jorge Cascalho. José Manuel Coelho assumiu em tribunal a autoria do artigo para salvaguardar o património do jornalista. Mas foi condenado no processo cível movido por David Pedra, juntamente com Gil Canha e Eduardo Welsh, que também têm bens penhorados. Coelho fazia fé no recurso para a Relação mas o advogado terá deixado passar o prazo e o processo transitou em julgado com ordem de execução das penhoras.
Há cerca de um mês que o deputado trabalhista tem assinado a papelada parlamentar como David Pedra. Descoberto o imbróglio, Coelho foi chamado a explicações e terá respondido nestes termos: “Como David Pedra me leva o que por direito me pertence, não era ele o deputado que ganhava como tal, mas sim David Pedra, por isso teria que assinar no nome de quem recebe o dinheiro”.
Há várias sessões que o líder do PTP se tem apresentado na tribuna do Parlamento de megafone em punho, com um discurso particularmente incisivo contra a atuação da justiça na Madeira, que lamenta não ser independente e arrojada, bem como contra os colegas deputados que lhe levantaram a imunidade para responder aos processos em tribunal.
José Manuel Coelho declara ao FN que está em causa “a falta de liberdade de imprensa”, no processo contra o Garajau, e que, ” como revolucionário” que é, não se submete ao sistema. (Funchal/Notícias)
MéxicoA morte decidiu viver aqui
MéxicoA morte decidiu viver aqui
Durante esta semana multiplicaram-se as reacções ao assassinato do fotojornalista Rúben Espinosa e mais quatro mulheres, encontrados mortos no fim-de semana EDGARD GARRIDO/REUTERS
O México é sexto país do mundo em jornalistas assassinados: mais de cem desde 2000. E o estado de Veracruz, no Golfo do México, é o mais mortífero do país. Os jornalistas trabalham sob terror e muitos exilam-se, na cidade do México ou até nos Estados Unidos. Era o caso de Rúben Espinosa, fotojornalista de 31 anos que fugiu de Veracruz e se refugiou na capital. Cinco cadáveres foram encontrados no fim-de-semana, quatro mulheres e Espinosa. Escrevera há um mês: “É triste pensar em Veracruz, não há palavras para dizer quão mal vão esse estado, o governo, a imprensa, e quão bem vai a corrupção. A morte escolheu Veracruz, a morte decidiu viver aqui.”
Espinosa foi executado com um tiro na cabeça. Duas das mulheres tinham o rosto desfeito e todas terão sido violadas antes do “tiro de misericórdia”. Eram Nadia Vera, activista social e amiga de Espinosa, uma colombiana, uma empregada doméstica e uma esteticista. Pistas? Um vídeo de segurança mostra três homens a fugir do local na noite de sexta-feira. Motivos? Os jornais não sabem. Vingança contra Espinosa? O activismo de Vera? Roubo? Feminicídio?
Veracruz, onde imperam os narcotraficantes, é “uma luz vermelha para a liberdade de informação”. Mas — frisa um jornal mexicano — o pior significado de mais uma matança não é ter visado um jornalista mas pôr a nu a impotência do Estado. O México é uma democracia ameaçada.
“O México cheira a sangue” desde a guerra da independência (200 mil mortos), sintetiza o escritor mexicano Enrique Krauze. Houve depois a revolução (um milhão de mortos, na maioria de doença e fome). Hoje há a guerra do narcotráfico. “É uma complexa guerra civil, com fogos cruzados e alianças turvas e instáveis entre os grupos do crime organizado e do narcotráfico e entre estes e as forças do governo federal e dos estados.”
Sublinha: “O que mais surpreende é a omnipresença [da violência] e a crueldade. (...) Execuções, decapitações, mutilações, sequestros, extorsões, massacres colectivos. Dia após dia, no México, não no Afeganistão.”
Sublinha: “O que mais surpreende é a omnipresença [da violência] e a crueldade. (...) Execuções, decapitações, mutilações, sequestros, extorsões, massacres colectivos. Dia após dia, no México, não no Afeganistão.”
A escritora Guadalupe Nettel evoca as solitárias praias da sua juventude, nos estados de Guerrero, Oaxaca ou Michoacán. “Para as gerações posteriores à minha, esses nomes já só significam terror, tortura e morte.” Acapulco, em Guerrero? Já não é o paraíso. “Tornou-se num porto controlado pelos cartéis, que num dia violam turistas e no outro deixam decapitados num salão de baile.”
Durante a semana houve manifestações em muitas cidades. Mas os mexicanos são fatalistas: “Os mortos de hoje tapam-nos os de amanhã. Não há uma má notícia que outra pior não faça esquecer.”
http://www.dnoticias.pt/actualidade/politica/421999-pan-propoe-criacao-de-moeda-local-propria#comment-636909
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