quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Jornal Público coloca a nú toda a corrupção do Governo Regional da Madeira

 Empresário madeirense que financiava PSD–Madeira declarava salário mínimo

 Principal arguido de operação que visou dirigentes regionais próximos de Miguel Albuquerque ofereceu Jaguar à companheira.

 O empresário madeirense que está no centro de uma alegada rede criminosa de financiamento do PSD regional, Humberto Drumond, declarava que recebia o salário mínimo. Trata- -se de um dos implicados na Operação Ab Initio, no âmbito da qual vários dirigentes e ex-dirigentes regionais próximos do presidente Miguel Albuquerque foram apanhados em escutas comprometedoras relacionadas com a violação das regras da contratação pública. Segundo o Ministério Público, graças ao seu bom relacionamento com vários membros do governo regional, o empresário conseguiu, pelo menos desde 2015, obter contratos vantajosos para as várias firmas que geria, parte das quais estava em nome de amigos. Porém, como não há almoços grátis, Humberto Drumond era obrigado a retribuir os favores fazendo descontos ao PSD-Madeira, partido no qual militou, quando lhe fornecia material para as campanhas partidárias — fossem t-shirts, canetas ou outros brindes. Pelas contas das procuradoras do Departamento de Investigação e Acção Penal Regional de Lisboa, só entre 2020 e 2024 o governo regional da Madeira celebrou contratos com as sociedades dominadas por este empresário num valor superior a um milhão de euros, valor que sobe a milhão e meio se recuarmos no tempo. O processo terá ficado especialmente facilitado depois de a companheira de Humberto Drumond ter sido nomeada em 2019 para chefe de gabinete do secretário regional da Agricultura, Humberto Vasconcelos,seu amigo e ex-sócio. O método de actuação descrito era quase sempre o mesmo: para dar uma aparência de legalidade a dezenas de processos fraudulentos de contratação de bens e serviços, os dirigentes regionais com quem o empresário manteria relações mais estreitas — além do da Agricultura, também o da Saúde, Pedro Ramos, o dos Equipamentos e Infra-Estruturas, Pedro Fino, e o das Finanças, Rogério Gouveia — pediam ao próprio empresário para lhes indicar quais as firmas que deviam convidar para apresentarem propostas. Casos houve em que o gestor, que está indiciado por mais de cinco dezenas de crimes, terá ajudado a definir os próprios requisitos dos concursos, como se pertencesse aos serviços regionais da Madeira. E nem sempre os fornecimentos batiam certo com as quantidades que o erário público pagava. Num contrato de 2022 destinado a fornecer brindes publicitários, a secretaria regional da Agricultura “nunca recebeu, nem teve a expectativa de receber, a totalidade dos itens encomendados”: dos mil guarda-chuvas mencionados no caderno de encargos apenas recebeu 250, e das 500 powerbanks só lhe chegou metade. A conta ficou-lhe em mais de 44 mil euros, o dobro daquilo que Vasconcelos tinha pagado para adquirir estes produtos. Dizem as procuradoras que uma das sociedades do empresário chegou a ajudar a equipar o ginásio da filha do presidente da Câmara da Calheta, Carlos Teles, igualmente arguido neste inquérito: “Embora Humberto Drumond lhe tenha fornecido bens cujo montante corresponde no mínimo a 13.804 euros, apenas foram fac turados” à dona do ginásio cerca de 5500 euros, tendo ficado por pagar bens no montante mínimo de 8230 euros. A diferença “foi compensada através da adjudicação de contratos por parte da câmara” ao empresário. Os investigadores aludem a algumas reuniões mantidas entre 2022 e 2023 na Quinta da Vigia, residência oficial do presidente do governo regional, entre importantes figuras do aparelho laranja da Madeira, como o hoje vice-presidente do Parlamento madeirense, José Prada, outro dos arguidos do processo. Numa delas,realizada em Janeiro do ano passado e na qual estaria presente Miguel Albuquerque, “terá ficado acordado entre alguns dos presentes que Humberto Drumond seria o empresário responsável pelo fornecimento de merchandising e outdoors no âmbito da campanha eleitoral” para as legislativas regionais desse ano. Mas nem sempre as coisas lhe corriam de feição: o empresário foi escutado por mais de uma vez a queixar-se de que estava a ser prejudicado nesta troca de favores. No final de 2023 desabafava com um dirigente regional que o PSD lhe devia uns 300 mil euros não só das legislativas regionais, como ainda das autárquicas de 2021: “Então eu é que sou o patrocinador desta merda toda, eu que sou o gajo que ando aqui a atravessar-me para aguentar isto e ainda olham de cima para baixo para mim?” Do seu recibo de vencimento consta que o gestor recebe apenas 602 líquidos mensais em numerário, valor equivalente ao salário mínimo na Madeira. Mas em 2022 ofereceu um Jaguar à companheira. Este Verão um dos filhos chegou a questioná-lo: “Tu só tens o ordenado mínimo todos os meses? Ai é? Então como é que eu recebo o dinheiro que recebo, como é que eu tenho as prendas que tenho?” Depois de ouvidos por uma juíza de instrução criminal, perante a qual se remeteram ao silêncio, os oito arguidos detidos no âmbito desta operação foram colocados em liberdade, muito embora o Ministério Público tenha pedido prisão preventiva para este empresário. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, falar com os advogados dos arguidos nesta investigação do Ministério Público. Em comunicados, três dos ex-dirigentes implicados negaram a prática de ilegalidades.



4 comentários:

  1. Sinto-me lesado como Madeirense, como contribuinte e ainda mais se fosse empresário concorrente.
    Lobo com pele de cordeiro que fez pela vida e foi "vítima" de um puder político corrupto.
    Entre espertos, precavidos e conscientes da ilegalidade, não há inocentes.

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  2. Agora percebo porque é que este empresário ia a todas as inaugurações do Albuquerque. Declarava rendimento mínimo e ofereceu um Jaguar à sua namorada.
    Albuquerque diz que a Madeira não é terra de gangsters mas mafiosos na Madeira é o que não falta.
    Incrível com tantos casos de corrupção e o PSD continua sempre no poder.

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  3. Esse gajo tinha aquele a carro a muitos anos. Mas era preciso aquele aparato todo policial ?! Estavam armados os suspeitos?! Lol um folclore com estes medias correio da manhã a madeirense. Viram a sara andre a falar hoje sobre incendios . A santa lol agora é bombeira lol entao ela que conte a "amizade "dela com os fiscais da camara da calheta, presidente e cunhinhas lol . Preocupada com vizinhos ? Essa é para rir. ja ninguém cai nessa lábia dela

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