Passados 50 anos, é bom lembrar a importância do exercício da cidadania democrática
Quando a liberdade de expressão é censurada, é não só legítimo, mas necessário, exercer a desobediência
«Vivemos tempos em que a
democracia precisa de ser mais do
que um conceito; ela precisa de ser
uma prática quotidiana. Escrevo
este texto não apenas para relatar
uma experiência pessoal, mas para
chamar a atenção para o que está
em jogo: o direito de todos nos
expressarmos livremente e sermos
ouvidos numa democracia.
Sou a cidadã que recentemente
esteve nas notícias por ter
comparecido na Assembleia
Municipal do Porto para denunciar
uma situação preocupante
relacionada com o direito
democrático de manifestação.
Durante essa intervenção, expus a
minha opinião sobre o silêncio e
desinteresse do município em se
posicionar sobre questões
relevantes, tendo sido interrompida
e censurada. Por não ter aceitado
essa censura, acabei expulsa do
edifício.
Este episódio ilustra a
importância de protegermos e
defendermos os direitos
democráticos, particularmente o
direito de nos expressarmos
livremente, sem medo de
retaliação. A democracia não pode
ser plena, se não houver espaço
para o contraditório, para a
pluralidade de vozes e para a
coragem de abordar temas difíceis.
Participar é um direito, mas
também um dever, e devemos
utilizá-lo em toda a sua plenitude,
seja em debates públicos, seja na
defesa de causas que tocam a
consciência coletiva.
O que ocorreu na Assembleia
Municipal do Porto é um reflexo da
crescente preocupação que todos
devemos ter com a liberdade de
expressão e o direito à manifestação
dentro de uma democracia
saudável. Durante a minha
intervenção, fiz uso do meu tempo
para expor um tema sensível: as
agressões sofridas por
manifestantes que, há mais de um
ano, realizam uma vigília em
solidariedade com a Palestina, em
frente à Câmara Municipal do Porto.
Denunciei a inação das autoridades,
nomeadamente da PSP, e a falta de
posicionamento claro por parte do
município em relação a essas
agressões, além da ausência de uma manifestação pública contra o
genocídio do povo palestino.
Fui interrompida várias vezes
pelo presidente da assembleia
municipal, que me alertou para “ter
cuidado com o que iria dizer”.
Mesmo com o meu discurso
educado e respeitoso, fui
novamente informada de que não
poderia criticar o executivo
camarário nem o presidente da
câmara. O presidente da assembleia
municipal alegou que a ausência do
presidente da câmara e do
executivo justificava a interrupção.
Será que o facto de não estarem
presentes justifica a censura a uma
voz cidadã? Não é, afinal, a assembleia
municipal um espaço público para
discutir temas relevantes para a
cidade, independentemente da
presença ou ausência de quem
ocupa cargos executivos?
A situação ficou ainda mais clara
quando o presidente da assembleia
municipal encerrou a minha
intervenção sob a justificativa de
que “havia muita gente incomodada
na sala”. Quando insisti em
continuar, o microfone foi cortado, e a polícia municipal foi chamada
para me retirar da sala.
Na semana seguinte, retornei à
assembleia municipal com a mesma
inquietação e mantive o tom crítico.
Desta vez, no entanto, não me
recusaram a palavra, e consegui
concluir a minha intervenção.
Este episódio teve grande
repercussão na comunicação social
e nas redes sociais, e foi por isso que
decidi escrever este texto. Não tanto
para relatar a minha experiência,
que está bem documentada no
vídeo que circula, mas para apelar à
importância da participação cívica
de todos. A democracia vive do
debate, da diversidade de opiniões
e da coragem de dizer o que precisa
de ser dito, mesmo quando
incomoda. O silêncio perante
injustiças não é neutro: é cúmplice.
Informemo-nos, posicionemo-nos
e, sobretudo, participemos.
Desobedecer pacificamente é
também um direito democrático.
Quando a liberdade de expressão é
censurada, é não só legítimo, mas
necessário, exercer a
desobediência. A história
ensina-nos que muitas conquistas
democráticas nasceram da coragem
de quem se recusou a aceitar ser
silenciado.A resistência pacífica
não é desrespeito, mas um apelo à
justiça, um lembrete de que a
democracia exige mais do que
obediência passiva: exige coragem,
ação e, quando necessário, a recusa firme a ser silenciado.
Desta vez, fui eu censurada,
amanhã poderá ser qualquer um de
vós. Se não usarmos as ferramentas
democráticas que temos, corremos
o risco de vê-las atrofiar. A
participação ativa é um direito
conquistado com o 25 de abril, que
merece ser defendido e exercido
com firmeza. Não nos deixemos
intimidar.
A democracia não se defende
sozinha. Cabe a cada um de nós
participar, questionar e resistir
quando necessário.
Exercer cidadania democrática é,
portanto, um compromisso
contínuo com a justiça, a liberdade
e o bem-estar coletivo. Não se trata
apenas de votar, mas também de
questionar, debater, protestar
quando necessário e lutar pelo que
é certo.
Estou convicta de que a cidadania
ativa é o caminho para alcançar as
transformações verdadeiras de que
a nossa sociedade precisa.»
Isabel Oliveira explicadora de matemática (jornal Público)
Tem ar de estrela de cinema...
ResponderEliminarAh ah ah !!!!!
ResponderEliminarAquela boca sexy!!
Faz-nos lembrar a Cicciolina de boa memória !!!!!!!
Não é só o Bento que nos faz ficar com uma "ponta"
EliminarBenthow, Manny.
EliminarE quanto a "pontas"... vade retro Satanás... para carecas chega-nos o pequeno réptil madeirense
EliminarDIRETO DO FIM DO MUNDO
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=ckZKzEfHoHk